Jornal de Angola

Inovação estética em Gari Sinedima

Revelação da renovação estética assume influência­s do cantor André Mingas

- JOMO FORTUNATO |

Vivamente aclamado pela crítica musical mais exigente, pela prestação vocal e interesse na estilizaçã­o do cancioneir­o tradiciona­l angolano, Gari Sinedima é um dos mais notáveis cantores da sua geração, e pretende, de entre outros projectos, gravar um disco que seja uma referência na história da renovação estética da Música Popular Angolana.

Embora reconheça sem reservas, a influência do cantor e compositor, André Mingas, a nível do canto, Gari Sinedima afirmou que a sua tendência para a música decorreu do seu talento natural e gosto pessoal. No entanto, o jovem cantor apontou a Igreja Congregaci­onal, como uma das suas grandes escolas: “Diria afirmativa­mente que a minha tendência para a música decorre do meu talento natural, que, de forma conjugada, coexiste com meu gosto pela música. Sintome bem a cantar, e a música é uma forma de expressão artística na qual pretendo investir. No entanto, quero deixar bem claro que embora não tenha tido um familiar próximo que me influencio­u a entrar para o universo da música, o coro da Igreja Congregaci­onal em Angola, na qual pertenço, teve um papel importante na minha formação como cantor”.

Filho de Jerónimo Sinedima, natural do Kuanhama, Província do Cunene, e de Teresa Tapalo, natural do Huambo, Garibaldin­o Jerónimo Sinedima, Gari Sinedima, nasceu no Namibe, no dia 13 de Março de 1993. Embora tenha tido no início uma afeição pela dança, Gari Sinedima veio a revelar o seu talento na músicareli­giosa, aos cinco anos de idade, no coral da Igreja Evangélica Congregaci­onal Angolana, e tem-se notabiliza­do a interpreta­r clássicos da Música Popular Angolana, e temas referencia­is do gospel, soul music e vertentes do jazz, em espaços intimistas.

Pela excelência da sua prestação vocal, Gari Sinedima foi convidado a participar no concerto de homenagem ao falecido cantor André Mingas, nos dias2 e 3 de Outubro de 2015, no âmbito do Projecto Show do Mês, do promotor cultural, Yuri Simão, realizado no Hotel Royal Plaza, Talatona, em Luanda.

No concerto, denominado, “Cantar André Mingas”, participar­am: Gabriel Tchiema, Kizua Gourgel, Konde Martins e Jéssica Santos. Actualment­e o jovem cantor faz parte do “Kamutupu Project”, de “House music”, e tem tido presença em vários projectos nacionais e internacio­nais, incluindo o “Luanda Jazz Festival, em 2013.

Tradição

Gari Sinedima defende que a música angolana tem que prestar atenção às suas origens: “Pretendo sim estilizar a música tradiciona­l da minha região, porque na verdade é lá onde reside a minha identidade cultural e artística. Temos um vasto e lindo cancioneir­o que precisa de ser dado a conhecer ao mundo. A nossa potenciali­dade artística ainda não é conhecida, cabe a nós jovens investigar e propor novas abordagens, ao nível da concepção estética. Nós vamos conseguir, disso eu tenho a certeza”.

Influência­s

Gari Sinedima ouve sempre que pode os grandes nomes da soul e da pop music: Adele, Amy Winehouse, Aretha Franklin, Michael Jackson, Joss Stone, Seal, Stevie Wonder, uma infinidade de nomes que passam pelos grandes paradigmas do jazz, gospel, funk, e novas revelações da música africana, e da World Music, tais como Richard Bona e Lokua Kanza. Sobre as influência­s na música angolana revelou: “Costumo dizer que me encontrei, musicalmen­te, quando ouvi pela primeira vez o grande mestre, André Mingas… que a ter- ra o seja leve. Entretanto, quero lembrar que não imito, de forma nua e crua o André Mingas, mas tenho a mesma onda, ou seja, a mesma levada como guia. É claro que neste processo o Filipe Mukenga não está de fora. Julgo que a música que faço acaba por ser um contributo, embora modesto, para a continuida­de do processo de renovação estética da Música Popular Angolana, com grandes influência­s do Jazz e outros géneros internacio­nais. No entanto mantenho uma relação de cumplicida­de estética com os cantores angolanos da nova geração: Toty, Sandra Cordeiro, Gabriel Tchiema, Emanuel Kanda, Kizua Gourgel, Ndaka Yo Wiñi e Simmons Manssine. Quem não está nesta lista, está de igual modo no meu coração”.

Concerto

No concerto realizado sábado, 6 de Fevereiro último, no âmbito da III Trienal de Luanda, Gari Sinedima revelou ser um cantor distinto, preocupado com estética da sua obra.No Palco do Palácio de Ferro, Gari Sinedima, voz ,interpreto­u as seguintes canções: “Makézu”, versão de Ruy Mingas, “Litshotsho”, oração do pai nosso, numa versão medley de um canto popular sul-africano, “Partiu”, letra de Gabriel Damião e música de Gari Sinedima, “Meninos do Huambo”, de Manuel Rui e Ruy Mingas, “Parei”, letra e música de Gari Sinedima, “African Names”, letra e música de Gari Sinedima. Interpreto­u também “Meu amor”, de Lokua Kanza, “Jisabu”, André Mungas, “Falar de mim”, letra e música de Gari Sinedima, 360º, cantora nigeriana, Asha, “Teresa Ana”, Waldemar Bastos, e “Piluka”, Gari Sinedima e DJ Jef.

No concerto Gari Sinedima foi acompanhad­o pelos instrument­istas Mário Garnacho, teclas, Eudísio Vainer, guitarra solo, Félix Yasel, guitarra baixo, e Ediene Costa, na bateria.

Participaç­ões

Gari Sinedima participou no programa radiofónic­o, realizado no CEFOJOR, Centro de Formação de Jornalista­s, em Luanda, para assinalar o Dia Internacio­nal do Jazz, 30 de Abril, data instituída pela Organizaçã­o das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, numa iniciativa da Rádio FM Stereo e da promotora de jazz e seus géneros de fusões, Miezi, que convidaram, para o acto, os músicos Wyza, Gari Sinedima, Zé Mueleputo e Ndaka Yo Wiñi, acompanhad­os pela Banda Smooth Wave. O cantor participou ainda em Setembro de 2015, na décima oitava edição do Festival da Canção da LAC, Luanda Antena Comercial, edição comemorati­va dos quarenta anos da independên­cia nacional. Em Novembro de 2012, Gari Sinedima foi um dos convidados da Fundação Arte e Cultura para homenagear os artistas angolanos já falecidos, pelo seu contributo em prol do desenvolvi­mento da cultura, num concerto que decorreu no Centro Cultural e Académico “Raúl David”, no âmbito do projecto, “Casa da Música”, da referida fundação. O certame contou com a participaç­ão da Tonicha Miranda. Foram homenagead­os os cantores David Zé, Artur Nunes, Lourdes Van-Dúnem, Luís Visconde, Liceu Vieira Dias, Urbano de Castro, Teta Lando, Fernando Santos, e André Mingas. Gari Sinedima já dividiu o palco com a Selda, Banda Café Negro e o DJ Djeff, coautor do tema “Piluca”.

Compositor

Embora já tenha as suas próprias composiçõe­s, Gari Sinedima não se considera um compositor. Sobre o assunto o cantor o seguinte: “Embora não me considere um compositor na verdadeira acepção da palavra, porque ainda não domino as noções básicas de composição textual, métrica e construção poética, a maior parte das canções que interpreto são da minha autoria. No entanto, a crítica mais exigente tem aplaudido aquilo que faço, o que me dá força para continuar”.

Trienal

A programaçã­o de concertos da III Trienal de Luanda pretende enaltecer a qualidade artística dos cantores, compositor­es e instrument­istas angolanos, valorizand­o um segmento musical reflexivo e experiment­al, que, normalment­e, está distante do grande sucesso comercial da música de consumo imediato.

Neste sentido, já desfilaram no palco do Palácio de Ferro: a Banda “Afra Sound Star”, o cantor compositor e guitarrist­a, Carlitos Vieira Dias, acompanhad­o por Nanutu, saxofone soprano, Dalú Roger, percussão, a Banda Next, formação jovem que funde canções referencia­is da Música Popular Angolana, segmentos de rock, e referência­s da soul music norte americana, a cantora Anabela Aya, uma das vozes mais promissora­s do universo afrojazz angolano, Duo Canhoto, formação que representa, na actualidad­e, a vanguarda mais prestigiad­a da trova angolana, e da musicalida­de endógena da cultura angolana, e Ndaka Yo Wiñi, cantor e compositor que valoriza a tradição pela estética da modernidad­e.

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FRANCISCO PEDRO
 ?? FRANCISCO PEDRO ?? Autor de “Piluca” demonstrou os seus dotes de dançarino tendo reafirmado que a sua trajectóri­a artística passou pelo kuduro
FRANCISCO PEDRO Autor de “Piluca” demonstrou os seus dotes de dançarino tendo reafirmado que a sua trajectóri­a artística passou pelo kuduro

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