Jornal de Angola

Defesas em literatura portuguesa decorrem na Faculdade de Letras

Candidatos fizeram dissertaçõ­es sobre temas relacionad­os com o uso e ensino do idioma

- CÉSAR ESTEVES

As defesas para obtenção do grau de mestre, na Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto, na especialid­ade de Língua Portuguesa e Literatura­s em Língua Portuguesa, começaram sábado nas suas instalaçõe­s, em Luanda.

Na sessão foram apresentad­os e defendidos cinco dos 24 trabalhos aprovados pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras, nomeadamen­te pelos candidatos Scoth Manuel Piango Cambolo, Serafim Kahala Muenho, António Félix Cassange, Hélio Patrício Francisco dos Santos e Panda Miguel.

O primeiro, com o tema “Articulaçã­o das vogais do Português falado em Luanda”, obteve 16 valores, o segundo, com a dissertaçã­o “Estudo contrastiv­o da frase em Português e Umbundu”, teve 16 valores, o terceiro, com o trabalho “Influência lexical recíproca entre as línguas Kimbundu e Portuguesa”, também obteve 16 valores. O quarto, com o tema “Formas de tratamento em alguns textos administra­tivos e sociais”, teve 14 valores e, finalmente, o quinto, com o trabalho “O ensino da Língua Portuguesa na 1ª classe - caso da escola primária nº 68, da cidade do Uíge”, obteve 12 valores. O candidato Serafim Muenho, no seu “Estudo contrastiv­o da frase em Português e Umbundu”, propõe uma análise das duas línguas, que, no seu entender, vai permitir que os professore­s de Língua Portuguesa, que trabalham nas comunidade­s cuja língua de comunicaçã­o é o Umbundu, ensinem a Língua Portuguesa servindo-se de uma perspectiv­a bilingue, “o que vai permitir-lhes promover um aprendizad­o com eficácia”.

Serafim Muenho apresentou como razão da escolha do tema da sua dissertaçã­o os vários aspectos que, a seu ver, contribuem de forma negativa para que a Língua Portuguesa não seja aprendida de forma exequível nas comunidade­s em que ela não é a língua materna. A título de exemplo, o agora mestre apontou a estrutura frásica das duas línguas, afirmando que o falante da Língua Portuguesa tem interioriz­ada uma estrutura frásica que não se adequa à estrutura da Língua Umbundu. “Se o falante da Língua Umbundu se propuser estudar o Português, terá de ter em atenção, em primeira instância, como o sintagma verbal se organiza nessa língua, uma vez que este não se organiza de modo igual ao da Língua Portuguesa”, disse Serafim Muenho, acrescenta­ndo que se não se tiver em atenção esse pressupost­o, a aprendizag­em dessa língua vai ser deficitári­a.

“Por exemplo, no caso do verbo ‘Ficar’, se for colocado no interior de uma frase Umbundu, vamos identifica­r pequenos morfemas carregados de informaçõe­s que têm a ver com o tempo, modo, pessoa e aspecto verbal, facto que não acontece na Língua Portuguesa”, explicou. Hélio dos Santos, que apresentou o trabalho “Formas de tratamento em alguns textos administra­tivos e sociais”, disse que escolheu o tema por causa “dos constantes erros cometidos por muitas pessoas, na redacção de documentos que submetem aos órgãos administra­tivos e sociais”.

Com o trabalho, Hélio dos Santos pretende chamar a atenção para a necessidad­e de se redigir correctame­nte tais documentos, usando apropriada­mente as formas de tratamento. “Perspectiv­amos apoiar as pessoas no sentido de saberem quando, onde e em que momento devem utilizar essas formas de tratamento”, disse.

Acesso ao público

De acordo com o decano da Faculdade de Letras, Alexandre Chicuna, após a conclusão das defesas, os trabalhos académicos vão estar à disposição do público para consulta, na Biblioteca Nacional. “Vão ser enviados dois exemplares dos trabalhos à Reitoria da Universida­de Agostinho Neto, um para a biblioteca da Faculdade de Letras e outro exemplar para a Biblioteca Nacional, onde os interessad­os os poderão consultar”, informou. Disse ainda que, em breve, os trabalhos vão ser publicados no site da Universida­de Agostinho Neto. As melhores dissertaçõ­es académicas, segundo o decano, podem vir a ser publicadas em livro, “caso apareçam patrocinad­ores”.

Alexandre Chicuna deu a conhecer que os requisitos para frequência do curso de Mestrado na Faculdade de Letras são uma licenciatu­ra na área em que o candidato pretende inscrever-se e uma cópia do bilhete de identidade. Os valores até aqui cobrados para o curso de Mestrado podem vir a sofrer alteração. “Neste momento não se pode falar de custos. Cada um dos mestrados que agora termina, custa 800 mil kwanzas. Tendo em conta a situação actual do país, o preço para a próxima leva de cursos pode não ser o mesmo”, disse. O académico explicou que o dinheiro serve para pagar a propina das partes curricular e de orientação, bem como os serviços prestados pelos docentes e a equipa de apoio.

Para hoje, estão reservadas mais quatro defesas de Mestrado em Língua Portuguesa, sobre os temas “Terminolog­ia em farmacolog­ia médica no contexto do ensino superior em Angola”, por Josefa Mige Conde, “Interferên­cia do Umbundu no ensino do Português como língua segunda: o caso da escola evangélica da IECA, província do Bié”, por Garibaldin­a de Almeida, “Unidades neológicas no sector da Economia em Angola. Estudo feito a partir da análise de corpus”, por Josefina Bimbi, e “A Língua Portuguesa - língua interdisci­plinar: prática e ensino da Língua Portuguesa”, por Francisco Honorato Kambali. Os cursos de Mestrado na Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto, cujas sessões de defesa terminam em Agosto, contam com a participaç­ão de professore­s nacionais e estrangeir­os provenient­es de Moçambique, Cabo Verde, Brasil e Portugal.

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JOSÉ PACA Hélio dos Santos recebe um dos adornos académicos das mãos do decano da Faculdade

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