Jornal de Angola

Viragem à esquerda nas ideias do Partido Democrata

ESTADOS UNIDOS

- LUCÍA LEAL |

Um salário mínimo de 15 dólares por hora, a abolição da pena de morte, mais limites a Wall Street e o fim da detenção para as famílias imigrantes são alguns dos pontos da nova plataforma do Partido Democrata dos Estados Unidos, um roteiro ideológico que evidencia a guinada desta formação à esquerda.

Na Convenção do partido, que começa hoje em Filadélfia, no Estado da Pensilvâni­a, não só Hillary Clinton será nomeada oficialmen­te como candidata à presidênci­a nas eleições de Novembro, como serão reveladas as ideias que guiarão as acções do partido durante os próximos quatro anos.

O projecto final dessa plataforma ideológica, divulgado na sexta-feira, é o resultado de vários meses de negociaçõe­s nos quais o senador Bernie Sanders, adversário de Hillary nas eleições primárias do partido e mais à esquerda que a ex-secretária de Estado no espectro político, teve uma influência determinan­te.

O resultado é o que os democratas consideram a plataforma mais progressis­ta na história do partido, um programa que deve guiar a política de Hillary se ela chegar à Casa Branca em Janeiro.

O ponto mais surpreende­nte é a declaração de que a pena de morte “não tem lugar nos Estados Unidos”, algo sem precedente­s nos Projecto de plataforma eleitoral do Partido ideários políticos do país, que coincide com um declínio no número de execuções a nível nacional nas últimas duas décadas.

“Aboliremos a pena de morte, que provou ser uma forma cruel e incomum de castigo”, promete a plataforma democrata, que considera a aplicação dessa sentença como “arbitrária e injusta”, que não dissuade os criminosos e tem um alto custo.

Esta promessa reflecte a posição de Sanders, que opinou num debate em Fevereiro que “o Governo não devia matar” gente, enquanto Hillary indicou na mesma ocasião que apoiava a pena de morte “para um grupo muito limitado de crimes particular­mente atrozes”.

Outra vitória de Sanders é o respaldo na plataforma ao aumento do salário mínimo federal para 15 dólares à hora, uma quantia superior reflecte muitas das posições assumidas pelo senador Bernie Sanders aos 12 dólares apoiados por Hillary durante as “primárias”.

O senador por Vermont também conseguiu introduzir uma expansão do programa de segurança social por meio do aumento dos impostos às fortunas que ultrapassa­rem os 250 mil dólares anuais.

No entanto, Hillary conteve algumas das ideias de Sanders, como a de proibir o sistema de extracção de hidrocarbo­netos por fractura hidráulica (“fracking”), que não aparece na plataforma.

O programa também não sanciona a proposta de Sanders de promover um programa de plano de saúde público e defende, por outro lado, avançar sobre a base da reforma deste sector que foi promovida pelo actual presidente, Barack Obama.

Essas ausências levaram o jornal “Washington Post” a declarar em editorial neste mês que a plataforma é mais um espelho das ideias de Hillary do que das do seu adversário na disputa interna do partido.

“Hillary manteve a sua mensagem de trabalhar com as estruturas políticas do país para encarar verdadeiro­s problemas que a Nação não pode ignorar, de forma que seriam geralmente aceitáveis para os democratas”, afirmou o editorial.

No entanto, na plataforma há outros exemplos de posições mais progressis­tas do que as do Governo Obama, como os compromiss­os de “acabar com a detenção” das famílias de imigrantes ilegais e de “assegurar alternativ­as humanas para que não apresentem ameaças à segurança pública”.

Essa é a posição defendida em bloco pelo “Caucus Hispânico”, um grupo de congressis­tas democratas e latinos que também apoia outra ideia incluída na plataforma: a de “acabar com as operações contra crianças e famílias, que amedrontam inutilment­e as comunidade­s de imigrantes”.

O partido de Hillary também promete apoiar as medidas migratória­s estimulada­s por Obama e ampliá-las “para aliviar” as deportaçõe­s para outros, entre eles os pais dos jovens conhecidos como “dreamers” (sonhadores), que chegaram ao país quando crianças.

O extenso capítulo de política externa da plataforma reflecte, em geral, as ideias defendidas pelo Governo Obama e dedica dois parágrafos à América Latina.

Um deles destaca que “os democratas rejeitam a proposta de Donald Trump de construir um muro” na fronteira com o México, país que o partido considera “um valioso aliado”.

Em relação a Cuba, os democratas compromete­m-se a apoiar “a histórica abertura do Presidente Obama e acabar com o embargo e a proibição de viagens para os americanos” e na Venezuela pretendem “pressionar o Governo para respeitar os direitos humanos e responder à vontade de seu povo”.

A plataforma deve ser aprovada durante a Convenção do partido e não é vinculativ­a, mas muitos vêemna como um sinal das prioridade­s que poderão ser acolhidas por Hillary Clinton se chegar à Casa Branca e os democratas recuperare­m o controlo do Congresso.

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REUTERS | BRIAN SNYDE
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REUTERS | CARLOS BARRIA

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