Novas informações alteram os acontecimentos
Autoridades turcas falam em fogo posto no incêndio que deflagrou na base da Otan em Izmir
O jornal turco Yeni Safak noticiou domingo que a tentativa de golpe na Turquia foi liderada por um comandante militar norteamericano, abrindo um novo contexto na análise da situação política e militar na Turquia.
O diário apresentou uma imagem do general John F. Campbell, acusando este oficial norte-americano de tramar o golpe contra o Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, juntamente com o clérigo turco Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos, citando uma fonte do governo sob anonimato.
A informação, que apanhou os turcos de surpresa, foi publicada horas antes de deflagrar um incêndio perto da base da Otan na cidade turca de Izmir e voltou a agitar o país, numa altura em que o governo começou a dar as primeiras explicações sobre os motivos das detenções em cadeia de figuras de quase todos os sectores do Estado.
O diário turco, de linha conservadora, é conhecido por ser um dos principais apoiantes do Presidente Recep Tayyip Erdogan e do Partido da Justiça e Desenvolvimento.
Analistas citados na imprensa internacional, ao comentarem a informação sobre o envolvimento de um general norte-americano na tentativa de golpe de Estado na Turquia, referiram que o jornal é conhecido por incitar à violência e espalhar desinformação sobre acontecimentos, pela sua postura ao noticiar os protestos de Gezi em 2013, na Turquia, tendo ameaçado na altura jornalistas e fabricado entrevistas que visavam contrários a sua linha. O jornal tem uma forte base de leitores pró-Erdogan e islâmicos, servindo como media do Governo turco, que influencia opiniões e acções do povo contra os seus adversários ou opositores.
Poucas horas depois da publicação do artigo que acusa o oficial dos Estados Unidos, registou-se um incêndio que acabou por envolver a base militar da Otan em Izmir.
As chamas na base da Otan continuavam até ao dia de ontem, apesar das tentativas desesperadas do corpo de bombeiros de conter o incêndio, usando helicópteros e aviões de combate a incêndios. O fogo ameaça as munições das forças norte-americanas armazenados na base.
As autoridades turcas não descartam a possibilidade de sabotagem contra a Aliança Atlântica. Segundo a CNNTurk, o fogo, que começou na noite de domingo, ameaça uma série de povoados na província de Esmirna, além da base do Comando Aliado Terrestre (Landcom) da Otan, no distrito de Buca. O Landcom tem como função dar apoio às tropas norteamericanas na região, mas a sua base não é utilizada para guardar o arsenal norte-americano na Turquia, que fica na base aérea de Incirlik.
Esclarecimentos
O Presidente Recep Tayyip Erdogan disse que o período de detenção dos suspeitos de envolvimento no golpe de Estado se vai prolongar por 30 dias. “A duração da custódia não pode exceder os 30 dias a partir da detenção do suspeito”, refere o decreto-lei publicado no sábado. Até agora, o número máximo de dias que um suspeito podia estar detido, sem ter sido formalmente acusado, era quatro. Foi ainda anunciado o encerramento de mais de 1.000 escolas privadas e de 1.200 associações.
Pelo menos, três dias depois de ter sido decretado o estado de emergência na Turquia e suspensa temporariamente a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, Erdogan continua empenhado em encontrar os militares que tentaram, através de um golpe militar, afastá-lo do Governo, bem como em erradicar alegados opositores. Perto de 60 mil funcionários públicos, entre juízes, professores universitários e generais, foram já detidos ou suspensos das suas funções, situação que tem sido duramente criticada por parte dos sectores visados pelas buscas.
Vários líderes europeus estão preocupados com a restrição dos direitos humanos na Turquia. O Presidente Recep Tayyip Erdogan sublinhou que a democracia vai ser, em todo o caso, preservada.
A suspensão da Convenção dos Direitos Humanos, segundo Erdogan, tem como objectivo único “lutar contra os golpistas e limpar o aparelho do Estado de membros do movimento de Fethullah Gulen”, imã de 74 anos exilado nos EUA, defensor e promotor de um islão moderado, que o Governo turco acusa de estar por trás da tentativa de golpe militar.
Recep Erdogan e Gulen foram, em tempos, grandes aliados, mas um escândalo de corrupção que irrompeu na Turquia em 2013 transformou-os em inimigos.
A Amnistia Internacional, que um dias após a tentativa de golpe de Estado na Turquia divulgou um relatório em que são denunciadas violações de direitos humanos no país, está a investigar uma série de denúncias de abusos, incluindo a recusa a acesso a advogados, contra milhares de detidos.
“Os direitos humanos estão em perigo na Turquia na esteira da sangrenta tentativa de golpe de Estado que ocorreu na sexta-feira, 15 de Julho. A tentativa de golpe desencadeou uma violência pavorosa e os responsáveis pelas mortes ilegítimas e outros abusos de direitos humanos têm de ser julgados”, sublinhava, então, o director da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central, John Dalhuisen, acrescentando que a repressão sobre a dissidência e a ameaça de Erdogan de regressar à pena de morte “não são justiça”.
O Governo turco, que conta com apoio de todas as forças políticas no Parlamento, prometeu restabelecer o quadro político no país nos próximos três meses.