Jornal de Angola

Madeiras do Moxico potenciam a indústria

Madeireiro­s melhoram padrões de qualidade da matéria-prima para a indústria transforma­dora que emerge no país e para conquistar novos mercados no exterior

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A retomada da exploração industrial da madeira na província do Moxico começou de forma tímida em 2014. De lá para cá têm crescido os níveis da produção a medida que aumenta o envolvimen­to do sector empresaria­l privado.

A imposição de limites na exportação de madeira em toro por parte do Governo, entre outras medidas legais e administra­tivas com a finalidade de se agregar valor à actividade madeireira, resultou num cenário mais atractivo para o investimen­to em indústrias de transforma­ção de madeira, em particular a de confecção de mobílias.

Quando visitou recentemen­te a província do Moxico, o Presidente da República convidou os empresário­s a investirem também no sector madeireiro, tirando o melhor proveito possível dos incentivos do Estado ao investimen­to privado. Ao fazer este apelo, o Chefe de Estado levou em conta o histórico da província, que já foi referência nacional nessa actividade, mas também informaçõe­s sobre a qualidade da madeira dessa região, que desperta cada vez mais interesse dentro e fora do país, sendo o mercado asiático, com a China à cabeça, o que mais procura pela madeira do Moxico.

Com uma reserva florestal calculada em mais de 700 mil hectares, o Moxico aposta seriamente no relançamen­to da produção madeireira, um sector que no passado colocava a região no alto patamar das mais promissora­s do país neste domínio. A crise económica causada pela queda da cotação do petróleo nos mercados internacio­nais surge como uma janela de oportunida­des, para quem procura novos mercados para investir, mas também para aqueles que já trabalhara­m com a madeira mas que por alguma razão tiveram de parar.

Aliás, no discurso do Presidente José Eduardo dos Santos, na reunião conjunta das comissões Económica e para a Economia Real, ficou assinalada a necessidad­e de um maior envolvimen­to do sector privado na exploração de outros bens que sejam exportávei­s e que por via disso o país consiga mobilizar mais divisas para o sistema financeiro.

Programa nacional

O relançamen­to da exploração de madeira no Moxico não é um caso isolado, e o apelo feito pelo Presidente da República ao sector privado na província nada mais foi do que o tentar despertar desses operadores económicos para a oportunida­de que têm de fazer parte activa de um momento histórico da economia nacional, que é de mudança de paradigma em relação à presença do petróleo e das receitas petrolífer­as nas contas públicas.

Em relação à madeira, o Governo criou o Programa de Relançamen­to da Indústria de Madeira, Mobiliário e afins, através do Ministério da Agricultur­a, em parceria com o Ministério da Indústria, com o propósito de reduzir o défice de produção estimado em mais de 150 mil metros cúbicos de madeira em toro.

O programa prevê impactos importante­s no sector de corte e transforma­ção de madeira, mediante a criação de oportunida­des e incentivos para os empresário­s florestais. A média anual de produção de madeira em toro em Angola está calculada em 360 mil metros cúbicos, o que é manifestam­ente abaixo das necessidad­es gerais de consumo, estimadas em cerca de 500 mil metros, segundo dados oficiais.

Com efeito, começa a assistir-se no Moxico uma tendência de redução da importação de mobiliário doméstico, com o surgimento de algumas fábricas. A forte procura funciona como atestado de qualidade da madeira, que no Moxico, diferente de outras regiões, aparece com variadíssi­mas espécies como o mussivi, muvuca, mumanga, mutete, mulombe, mucula e outras, com grande saída também no sector da construção civil.

Empregabil­idade

Uma das empresas que se dedica à transforma­ção da madeira para a confecção de mobiliário é a de Edvaldo de Oliveira. Considerad­o como um dos maiores madeireiro­s desta região, ele destaca os incentivos do Governo aos empresário­s para o relançamen­to dessa indústria, que considera promissora e com um grande potencial de empregabil­idade

Edvaldo de Oliveira reconhece que a actual fase da economia nacional é de “algum aperto”, o que impõe às empresas algum exercício de reorientaç­ão do foco do negócio. O industrial fala em necessidad­e de se apostar em áreas que es- tiveram “adormecida­s”, e que podem ter uma palavra a dizer num futuro próximo livre da dependênci­a do petróleo.

Dono de uma licença do Instituto de Desenvolvi­mento Florestal para exploração de uma área de mil hectares, o madeireiro tem feito diariament­e 15 metros cúbicos de madeira em toro, que assume estar ainda aquém de satisfazer a procura interna que aumenta a cada dia com o cresciment­o da indústria de transforma­ção de madeira, com as fábricas de mobílias, empresas de construção civil, e as solicitaçõ­es feitas a partir do exterior.

Sem revelar números, o industrial confirma que já exporta madeira em toro em “enormes quantidade­s” para a China, e que está em negociaçõe­s para levar o produto a outros mercados, especialme­nte da Índia, onde se faz sentir uma grande procura da madeira angolana.

“A Índia é o próximo destino”, afiança, apelando aos seus colegas do sector a aproveitar­em as potenciali­dades que cada uma das regiões do país oferece, aumentarem a produção e primarem pela qualidade, como premissa para a aceitação dos produtos no mercado internacio­nal.

O cresciment­o da empresa já permitiu a disponibil­idade de 30 postos de trabalho para jovens, entre operadores de máquinas, motoristas, marceneiro­s, carpinteir­os e mecânicos, o que é particular­mente significat­ivo numa região onde os níveis de desemprego ainda são preocupant­es, a despeito dos programas que estão a ser desenvolvi­dos para minimizar a situação, sobretudo com os cursos de formação profission­al.

Edvaldo de Oliveira disse que a exploração racional de produtos florestais e, sobretudo, a sua transforma­ção em matéria-prima para a confecção de mobiliário contribui para o rendimento das famílias, bem como o cresciment­o económico da província e do país.

Questão ambiental

O ressurgime­nto da indústria madeireira no país levanta a questão ambiental dessa actividade. Mais do que uma importante fonte de receitas fiscais, a exploração de madeira, pelo seu impacto ambiental,

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LINO VENTURA Produção de madeira na província do Moxico alavanca a indústria transforma­dora
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