Os ventos e os rumos
Durante muito tempo ficará gravado no cenário da nossa memória a triste notícia do falecimento, há cerca de dois meses, do autor e visionário americano AlvinToffler, conhecido, entre outras publicações, pelas seguintes obras: “A Terceira Vaga”, “Os Novos Poderes” e o “Choque do Futuro”, este último, segundo o site do autor, editado em mais de 50 países e com mais de 15 milhões de cópias vendidas.
Uma notícia, de 29 de Junho de 2016, da Agência FrancePress, portanto, de dois dias após o seu falecimento, refere que “Toffler previu com exactidão o desenvolvimento económico e tecnológico – incluindo clonagem, notebooks e Internet – assim como os efeitos sociais decorrentes disso. Entre eles, a alienação social, o declínio do núcleo familiar e a ascensão do crime e do uso de drogas”. Também tornou popular a expressão “sobrecarga informacional”, como um dos problemas decorrentes do bombardeamento de todo o tipo de informações e anúncios publicitários que diariamente invadem as nossas cabeças, obrigando-nos, pela elevada percentagem da sua futilidade, a adoptar uma rigorosa estratégia de “educação para o consumo”, como diria o meu mestre, sociólogo Hermano Carmo. Caso contrário, ainda acabaremos todos acéfalos, de rabo para o ar a jogar Pokémon.
Diversos estadistas se aconselhavam com AlvinToffler, entre eles,em 1986, o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, o homem da Perestroika, bem como o ex-primeiro-ministro chinês ZhaoZiyang, um reformador de assuntos económicos que viabilizou a redução do excesso de burocracia e a luta contra a corrupção no seu país.Também o bilionário mexicano CarlosSlim,um amigo próximo de Toffler, beneficiou do seu apoio na antecipação e identificação de oportunidades de negócios. DeborahWastphal, da empresa TofflerAssociates, referiu que Toffler proporcionou a todos a consciência de hoje vivermos em “um mundo marcado pelo aumento da inteligência artificial, pelas sociedades conectadas globalmente e por um ritmo acelerado de mudança”.
Hermano Carmo afirma haver um choque cultural causado pelo ritmo acelerado dos processos de mudança, pelo que todas as pessoas (independentemente da sua idade), têm necessidade de aprender estratégias adaptativas. Crianças, jovens e adultos são cada vez mais incentivados para se adaptarem aos novos ritmos da vida, já que a compressão do tempo acelera o metabolismo social e torna os processos de decisão cada vez mais rápidos.
“Isto implica aprender a dominar o medo do desconhecido e a assumir o estatuto de emigrante no tempo, interiorizando que o novo, o diverso e o transitório, não são maus em si”. No fundo, são riscos que comportam ameaças, mas também oportunidades conducentes à melhoria da qualidade de vida.
Assim, no contexto de uma aprendizagem para a adaptação à mudança, como parte de uma Educação para o Desenvolvimento torna-se importante: aprender a adaptarmo-nos a novos instrumentos e a novos processos de trabalho para que, a partir dos mesmos, se possa alcançar um desempenho qualificado; aprender a ser um consumidor crítico e não apenas um mero objecto de estratégias adoptadas por um qualquer sistema massificador da sociedade de consumo; aprender a adaptarmo-nos rapidamente a novos lugares e ambientes de modo a saber tirar partido dos mesmos. Este conjunto de aprendizagens requer a aquisição de novas competências comunicacionais, capazes de estabelecer, intensificar e gerir com maior rapidez e melhor qualidade as relações sociais aos níveis: interpessoal, grupal, organizacional e institucional.
Partindo do princípio de que o saber é degradável e a ignorância uma constante, qualquer pessoa nos dias de hoje, na sua relação com o conhecimento, terá de aprender (ou a reaprender) a seleccionar, processar e difundir informação pertinente para o seu próprio quotidiano.A multiculturalidade, por seu turno, impõe um maior investimento na aprendizagem sobre a unidade e a diversidade da espécie humana, de modo a promover a educação intercultural e a evitar tensões com base no etnocentrismo, no racismo, no sexismo, no homofobismo e na intolerância religiosa.
De acordo com Hermano Carmo, que cita AlvinToffler, em “Os Novos Poderes”, uma obra editada em 1991, a cada tipo de sociedade corresponde uma fonte dominante de Poder. Assim, nas sociedades agrárias (pré-industriais), o Poder escorava-se essencialmente na força directa, na sociedade industrial na riqueza e na sociedade de informação no conhecimento. Actualmente, onde a educação não é gratuita, a aquisição do conhecimento de ponta custa muito caro, como é possível constatar pela média anual dos preços praticados nas melhores universidades de referência mundial.
As mais dispendiosas são as dos EUA. Por exemplo, o Instituto Tecnológico de Massachusetts, o primeiro do “ranking” das 200 melhores universidades daquele país e do mundo, cobra anualmente mais de 46 mil dólares por estudante, enquanto a Universidade de Havard, terceira no “ranking”, cobra pouco mais de 45 mil dólares. Já a Universidade de Toronto, situada no “ranking” das melhores universidades, depois de 34 universidades dos Estados Unidos, custa a cada estudante 31 mil dólares anuais.
Na Europa, a Grã-Bretanha, as Universidades de Oxford e de Cambridge, primeira e segunda do “ranking” das 200 melhores europeias, são as mais caras e cobram respectivamente, em média, o correspondente a mais de 27 mil dólares e perto de 30 mil dólares por ano.
O mundo mudou e temos que aprender a adaptarmo-nos e a gerir a mudança através de novas formas de nos relacionarmos com o tempo, com as culturas vigentes em presença e com as diferentes formas das pessoas quererem estar na vida, independentemente dos direitos e deveres que socialmente,no contexto democrático, lhes são devidos. Independentemente da autoria da frase ser de Séneca ou Confúcio (?), “não há ventos favoráveis, quando não se conhecem os rumos”.