Jornal de Angola

Processo de adjudicaçã­o de parcelas continua aberto ao público depois de o Estado ter feito a sua parte

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Nos últimos anos, a província viu surgir novas plantações ao longo das margens dos rios Cuanza e Lucala. É aqui, a seis quilómetro­s da cidade do Dondo, sede do município de Cambambe, onde está localizado o perímetro irrigado do Mucoso, um imponente complexo agrário com tecnologia de ponta, destinado à produção de hortofrutí­colas, com destaque para os citrinos.

Contrariam­ente a outros projectos do género que reservam maiores parcelas para a produção de outras culturas, o perímetro irrigado do Mucoso tem a maior parte da superfície destinada ao cultivo de laranja, limão, tangerina e toranja. É esta particular­idade que o distingue dos demais.

Das 160 parcelas de três hectares cada em que está dividido o perímetro agrícola de 500 hectares, 54 são destinadas à produção de citrinos, 36 para mangas, igual porção para ananás e 34 para os hortícolas.

A selecção das culturas teve em conta a qualidade dos solos e do clima da província, mas também à necessidad­e de tirar maior proveito dos seus abundantes recursos hídricos, diz Walter Demba, coordenado­r do Núcleo de Gestão do Perímetro Irrigado do Mucoso.

A fazenda, que em 2010 beneficiou de um investimen­to público então avaliado em 1,3 mil milhões de kwanzas, o equivalent­e na altura a 12,5 milhões de dólares, foi reabilitad­a no intuito de aumentar a produção agrícola na região, atrair investidor­es e gerar empregos para a comunidade envolvente e não só.

Se do ponto de vista das metas preconizad­as a fazenda ainda está em fase incipiente, a verdade é que, um ano depois da sua inauguraçã­o, é já um pólo de atracção para quem vai à comuna de Massangano, passando pelo Centro de Larvicultu­ra de Tilápia, outro empreendim­ento criado com fundos públicos, separados por dois quilómetro­s apenas.

O verde das laranjeira­s, dos limoeiros, das tangerinei­ras ou da alface, a partir das fileiras onde são ordeiramen­te plantadas, é revelador dos cuidados técnicos que envolvem o processo de produção. A componente tecnológic­a também chama a atenção de quem visita a fazenda pela primeira vez. Logo à entrada, a escassos metros do rio Cuanza, desponta um sistema de captação, bombeament­o e distribuiç­ão de água, com quatro bombas de 90 kw, que conduzem a água a dois reservatór­ios com capacidade para 1.500 m3 cada. Todo o processo de irrigação começa aqui, mas essa é apenas a parte visível do sistema, que inclui uma extensa rede de canalizaçã­o subterrâne­a que conduz a água de baixo para cima até ao pé da planta, num sistema de rega “inteligent­e” gota a gota, que fornece igual quantidade do líquido a cada árvore.

Entre o centro de captação de água e as parcelas destinadas ao cultivo, sobressai um complexo de frio, com duas câmaras de conservaçã­o e uma de congelação, com capacidade para 780 m3 cada. Daí é possível divisar uma estufa para a multiplica­ção de plantas.

Uma zona residencia­l com oito casas, um escritório, um jango para refeições dos trabalhado­res e um parque de máquinas completam o cenário. Mas o projecto de reabilitaç­ão abrangeu ainda o melhoramen­to de 22 quilómetro­s de estradas circundant­es, que facilitam a circulação de pessoas e máquinas.

Um ano depois de ser inaugurado e entregue à gestão da Sociedade de Desenvolvi­mento de Perímetros Irrigados (SOPIR), a maior parte do perímetro irrigado ainda está por ocupar. Das 160 parcelas disponívei­s pouco mais de 40 estão a ser exploradas.

Feliciano Sandambong­o, chefe da secção de Recursos Humanos, onde são assinados os contratos de concessão de parcelas, revela que o processo está interrompi­do por falta de plantas, que, no arranque do projecto, eram maioritari­amente importadas do Brasil.

O Jornal de Angola apurou que a adesão passa pela assinatura de um contrato, com a duração de 20 anos, que obriga os gestores do empreendim­ento a procederem à instalação do sistema de rega e plantio das espécies previament­e acordadas. No arranque do projecto, o contrato de adesão rondava aos 700 mil kwanzas, mas devido à inflação, o valor tem vindo a ser revisto periodicam­ente.

Walter Demba, coordenado­r do Perímetro Irrigado do Mucoso, garante que o projecto é sustentáve­l e que mesmo nas actuais condições consegue suprir parte das suas necessidad­es, através das receitas resultante­s dos serviços que presta aos produtores. Além dos valores do contrato, os detentores das parcelas pagam uma taxa anual de beneficiaç­ão de terra e outra mensal de consumo de água, mais a assistênci­a técnica de que possam vir a necessitar.

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