Jornal de Angola

A negociação do acordo comercial

- FRÉDÉRIC POUCHOT e ELISE D’EPENOUX | AFP

O governo francês vai solicitar em Setembro à Comissão Europeia o fim das negociaçõe­s entre a Europa e os Estados Unidos para um grande acordo comercial, o chamado TTIP, anunciou ontem o secretário de Estado francês do Comércio Externo. “Não existe mais apoio político da França para as negociaçõe­s, assim o país pede o fim das negociaçõe­s”, afirmou Matthias Fekl à rádio RMC.

Fekl justificou o pedido por considerar que as negociaçõe­s para criar uma Parceria Transatlân­tica para o Comércio e o Investimen­to (TTIP) estão desequilib­radas a favor dos interesses dos Estados Unidos e não dos 27 Estados membros da União Europeia.

“Os americanos não dão nada ou apenas migalhas, Entre aliados não se negoceia assim”, lamentou o ministro. Ele afirmou que as negociaçõe­s terão que começar novamente mais tarde. “Temos que parar de maneira clara e definitiva estas negociaçõe­s para recomeçar com novas bases”, disse. Fekl também indicou que a França apresentar­á o pedido em Setembro, durante a reunião de ministros do Comércio Externo da Uniã Europeia em Bratislava (Eslováquia).

O presidente francês, François Hollande, afirmou pouco depois que não haverá acordo sobre o TTIP até ao fim do mandato do presidente americano, Barack Obama. “As negociaçõe­s em curso sobre o tratado entre a Europa e os Estados Unidos não poderão desembocar num acordo antes do fim do ano”, disse Hollande num discurso na conferênci­a dos embaixador­es no palácio do Eliseu.

“A França prefere encarar o problema de frente e não criar a ilusão de fechar um acordo antes do fim do mandato do Presidente dos Estados Unidos”, acrescento­u Hollande.

O secretário do Comércio não disse quando nem em que condições poderiam começar as novas negociaçõe­s. Mas o calendário aponta para depois da eleição de um novo Presidente nos Estados Unidos, que só vai tomar posse em 2017.

Os dois principais candidatos à presidênci­a americana, a democrata Hillary Clinton e o republican­o Donald Trump, já criticaram duramente o TTIP.

O acordo, negociado em sigilo entre Washington e a Comissão Europeia desde meados de 2013, tem o objectivo de suprimir as medidas regulament­ares e comerciais para criar uma grande zona de livre comércio e estimular o cresciment­o económico

Mas nos últimos meses as negociaçõe­s foram afectadas pelas críticas de muitas ONG, que temem que o tratado afecte a legislação europeia na área do ambiente a favor das grandes empresas.

Também são cada vez maiores as dúvidas dos próprios governos europeus. Na Alemanha, muitas vozes são contrárias ao acordo, inclusive dentro da coaligação de governo. Mas a chanceler Angela Merkel defende o projecto.

Horas depois das declaraçõe­s dos representa­ntes franceses, a Casa Branca afirmou que ainda espera concluir as negociaçõe­s até ao fim do ano. O porta-voz presidenci­al Josh Earnest disse que Barack Obama vai enviar o seu representa­nte comercial à Europa nos próximos meses.

A comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström, também respondeu à questão e afirmou que as negociaçõe­s sobre o TTIP “não fracassara­m”. “As negociaçõe­s são difíceis, com certeza, sabíamos desde o início, mas não fracassara­m”, disse ela à imprensa em Bruxelas. “Tínhamos o objectivo e continuamo­s a ter, de concluir (as negociaçõe­s) até ao fim do mandato de Obama em Janeiro de 2017”. “E, se isto não for possível, é lógico fazer o maior progresso possível”, acrescento­u. “Sei que o debate tem sido muito duro nos dois países, tanto em França como na Alemanha. Não sei por que razão os comentário­s são feitos neste momento”, disse Malmström. “Mas isto não reforça a minha posição como negociador­a”, concluiu a comissária.

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