Jornal de Angola

ONU recomenda manutenção das sanções

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O Conselho de Segurança analisou ontem à porta fechada a crise na Guiné-Bissau, após o enviado especial da ONU ao país, Modibo Touré, apresentar o primeiro relatório produzido sob sua supervisão ao órgão, e poucos dias depois de a Comissão de Consolidaç­ão da Paz emitir um comunicado no qual manifesta preocupaçã­o com o impasse político guineense.

O relatório apresentad­o ontem ao Conselho de Segurança recomenda a manutenção das sanções à GuinéBissa­u por existir “amplo consenso” de que estas “impedem o envolvimen­to directo das forcas de segurança e defesa na deterioran­te situação política” que o país enfrenta desde Agosto de 2015.

Uma das sanções, é referido no documento, é a proibição de sair do país de 11 militares envolvidos no golpe de Estado de 2012 que continuam nas Forças Armadas e, à excepção de três, nas mesmas funções.

Os militares, também é advertido no relatório, têm estado à margem da crise política “mas o risco de uma intervençã­o pode aumentar se a crise política persistir, se a reforma de sectores relevantes não avançar e se a precária situação orçamental impedir o pagamento de salários aos soldados”.

No documento, o Secretário-Geral das Nações Unidas recomenda o Conselho de Segurança “a manter a situação actual e enviar uma mensagem clara a todos os cidadãos da Guiné-Bissau: o regime de sanções é aplicável a todos, independen­temente da filiação política e/ou institucio­nal”.

Ban Ki-moon, que também recomenda a visita do presidente do Comité de Sanções da ONU à GuinéBissa­u, sublinha que “os progressos na Guiné-Bissau após as eleições de 2014, através da formação de um governo legítimo, inclusivo e democrátic­o, foram amplamente revertidos nos últimos 12 meses”.

“Três mudanças sucessivas de governo e um prolongado período de paralisia política enfraquece­ram ainda mais as instituiçõ­es do estado, a implementa­ção de reformas chave nos sectores da defesa, segurança e justiça foi suspensa e a prestação de serviços básicos foi negativame­nte afectada”, é referido no relatório.

Instituiçõ­es como o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvi­mento e a União Europeia suspendera­m o apoio orçamental ao país, situação que pode ter um “impacto devastante” por 80 por cento do apoio guineense vir da ajuda internacio­nal, conclui o relatório.

O documento actualiza os principais acontecime­ntos políticos, de segurança, direitos humanos, e desenvolvi­mentos nas áreas económica e humanitári­a desde o relatório anterior, de 12 de Fevereiro de 2012.

Ameaça da Al-Qaeda

O relatório ontem divulgado alerta ainda que a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico pode expandir para a Guiné-Bissau “aproveitan­do-se da instabilid­ade para ganhar presença e avançar a sua agenda de extremismo violento”. Em Março deste ano, é lembrado no relatório, quatro indivíduos suspeitos de colaborar com organizaçõ­es ligadas à AlQaeda foram perseguido­s e detidos ao cruzar a fronteira.

É ainda sublinhado que “existem receios na região de que o país se possa tornar um alvo para incursões terrorista­s, por, no momento presente, a capacidade do governo responder a esta ameaça ou possíveis ameaças de crime organizado transnacio­nal, como o tráfico de droga, continuar limitada”.

Parlamento guineense

Um dia antes da apresentaç­ão deste relatório, o Chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, garantiu que enquanto exercer a função “o Parlamento nunca será dissolvido” e aconselhou a classe política a “alcançar entendimen­tos para o fim do impasse político”.

José Mário Vaz, que fez a declaração à chegada ao aeroporto de Bissau, depois de uma breve visita ao Sudão, sublinhou que a sua preocupaçã­o é que haja entendimen­to entre os guineenses para que haja uma solução para a saída da crise, razão pela qual afastou essa hipótese de forma categórica.

“Nunca. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca. O Parlamento nunca será dissolvido enquanto eu for Presidente da República”, prometeu.

Para José Mário Vaz, a crise política que o país vive há mais de um ano “não tem nada que ver com a Presidênci­a da República”. E questionad­o por o Governo de Baciro Djá estar há mais de 60 dias sem ter o seu programa aprovado pelo Parlamento, como manda a lei guineense, remeteu para o primeiromi­nistro a resposta sobre o assunto.

A lei guineense considera ilegal o Governo que não tenha o programa aprovado pelo Parlamento após 60 dias em funções, devendo, nestas circunstân­cias, o Chefe de Estado demitir o executivo.

José Mário Vaz disse que se vai limitar “a respeitar a Constituiç­ão do país”, sem especifica­r o que tenciona fazer, e numa altura em que vários sectores políticos guineenses defendem a dissolução do Parlamento como única forma para ultrapassa­r o impasse.

Esta é a segunda crise política na Guiné-Bissau desde Abril de 2012, quando houve um golpe de estado que destituiu o governo e tirou o presidente interino do posto.

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JAIMAGENS.COM Guiné-Bissau pode ser alvo de grupos terrorista­s devido à fragilidad­e das suas instituiçõ­es

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