Festival “Zwá” apoia as artes
Quarenta concertos em reencontro inédito no âmbito da III Trienal de Luanda
O Festival “Zwá”, um projecto musical de periodicidade anual, pretende valorizar e promover a Música Popular Angolana, a Massemba e a generalidade das vertentes da música tradicional. A primeira edição, que decorreu de 24 a 28 de Agosto, juntou cantores, compositores e bandas musicais de várias gerações nos palcos do Palácio de Ferro, no âmbito da III Trienal de Luanda.
A palavra “Zwá”, que em quimbundo encerra a ideia de som e em kikongo da sua recepção, foi criada em 2008 pelo patrono da Fundação, SindikaDokolo, para a designação de uma revista cultural da instituição que não chegou a ser editada.
Fernando Alvim, vice-presidente da Fundação SindikaDokolo e conceptor da III Trienal de Luanda, reutilizou o nome “Zwá”, para a denominação do Festival que decorreu de 24 a 28 de Agosto de 2016, com a exibição de 40 bandas musicais.
O certame, inédito na agenda cultural da cidade de Luanda, desdobrou-se em oito horas de concertos por dia, das 16h00 às 00h00, nos palcos Bengo, Kwanza, Axiluanda e Ngola do Palácio de Ferro, montados, especialmente, para acolher o certame. À margem do Festival foi editado um suplemento inseparável do Jornal de Angola, com a sinopse biográfica dos artistas e bandas musicais intervenientes.
A I Trienal de Luanda decorreu de 2005 a 2007, sob o signo “Arte, Cultura, História e Política Contemporânea”, a II Trienal de Luanda, aconteceu de 2007 a 2010, e o lema foi “Geografias emocionais, artes e afectos” e a III Trienal de Luanda, um projecto de grande magnitude cultural, teve o seu início no dia 1 de Novembro de 2015, vai até 30 de Novembro de 2016, e decorre sob o lema “Da utopia à realidade”, e “Da escravatura ao fim do apartheid”.
Participações
Para além da valorização e promoção de sectores referenciais da Música Popular Angolana, um dos grandes méritos do Festival “Zwá” foi dar a conhecer grupos, cantores, e compositores de grande sucesso e outros com pouca visibilidade em espectáculos públicos. Participaram no Festival Zwá: KizuaGourgel, Sandra Cordeiro, GabrielTchiema, Banda Maravilha, Ngoma jazz, Grupo Kituxi, Mito Gaspar, Derito, Xabanú, José Kafala, JorgeRosa, Kyaku Kyadaff, NdakayoWiñi, Novatos da Ilha de Luanda, Clara Monteiro, Gloriosos do Prenda, Wyza, TotySa’Med,Patrícia Faria, Semba Muxima, Banda Movimento, Walter Ananaz, Afra Sound Stars, Totó ST, João de Oliveira, FilipeMukenga, Lípsia, e Dalú Roger. As bandas musicais e cantores, muitos dos quais desconhecidos do grande público, foram os seguintes: Memórias, a BandaNext, BandaWelwitchia, Estética Palanca, Grupo Mabubas, MM Yetu, Semba Muxima, Angospel, Kamba dya Muenhu, e Idimikaji. Pelo interesse e impacto artístico destas formações musicais durante o Festival, damos a conhecer, de forma breve, os seus percursos biográficos.
Memórias
Na perspectiva de valorização da herança e dos herdeiros da história da Música Popular Angolana, o Festival “Zwá” juntou pela, primeira vez, Urbanito, filho do cantor e compositor Urbano de Castro, São Lourdes, admiradora de Lourdes Van-Dúnem, Bangãozinho, admirador do Bangão, e Tony do Fumo Júnior, filho do carismático Tony do Fumo, dos Jovens do Prenda, num só palco, com a designação “Memórias”. Filho de António Urbano de Castro e de Ana Domingos, Osvaldo Urbano de Castro nasceu em Luanda no dia 23 de Abril de 1972. Começou a cantar desde a infância, interpretando as músicas do pai, nos “Kutonocas” organizados pelo cantor e compositor Santocas , e gravou o CD “Boxibuá tema”, em 2011. Filha de José Cardoso e de Laurinda Cardoso, Conceição Caguengue José, São Lourdes, é natural do Cuanza Sul, município da Kibala, e nasceu no dia 15 de Abril de 1969. Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Agostinho Neto e professora há 28 anos, São Lourdes interpreta Lourdes Van- Dúnem, por afeição, desde os 13 anos de idade. No Festival “Zwá”, Bangãozinho interpretou o carismático Bangão, e Tony do Fumo Júnior, o seu pai, Tony do Fumo.
Estética Palanca
Herdeiros e admiradores da música do emblemático e rei da rumba congolesa, Francó, o conjunto Estética Palanca foi fundado em 1993, por Afonso Manuel Babiengo, Manzoangui, e toca fundamentalmente rumba congolesa, semba, e kuassa.
Muito aplaudido pelos seus admiradores, o conjunto Estética Palanca é muito conhecido na Rua 12 da Administração do Bairro Palanca, em Luanda, o seu espaço de actuação e ensaios. Emanuel Magalhães, o grande compositor do grupo, é o autor de sucessos como “Generique”, “Nzingidi-Moko”, “Nvula”, e “Mana-Rosa”.
O conjunto Estética Palanca gravou os CD “Desce do carro”, 1996, e “Unave”, de 1998, e prepara um novo disco. Para além da voz principal de Afonso Manuel Babiengo, Kota Dias, cantam igualmente no grupo os intérpretes D. Bokolo, e Willo.
É responsável pela animação, Sérgio Mbuta, Arnold, bateria, Jojó Synthé, teclas, Augusto, viola baixo, Bouro Mbonda, percussão, Sérgio Mbemba, viola ritmo, Denis Denico, viola solo. O conjunto Estética Palanca canta em kikonko, lingala, francês, incluindo temas em língua portuguesa.
Mabubas
Fundado no dia 16 de Julho de 1999, por Evaristo Paulo São Tomé, Minguito, e Tony, o grupo “Mabubas” explora o cancioneiro tradicional da zona de Luanda, Bengo e Cuanza Sul.
Actualmente, o núcleo forte do grupo é formado por José Segundo de Oliveira, vocal e tambor solo, Evaristo Paulo São Tomé, hungo e dikanza, Armindo Cazombo, mukindo, mais conhecido por bate-bate, Vieira Soares, tambor baixo, e Adão Domingos, dikanza. As canções mais conhecidas do grupo são “Kanjila”, “Dikanza” e “Pancha”.
O grupo Mabubas foi vencedor do Prémio de Melhor Música Tradicional, em 2015, no Festival de Música e Cultura das Forças Armadas, realizado na província do Huambo. O grupo gravou, em 2015, o CD “Coame”, minha sogra, e apresentou-se ao longo da sua carreira, no Dia Internacional do Turismo no hotel Costa do Sol, em 2011, no Palácio dos Congressos, Sala 10 de Dezembro, em 2013, e, no mesmo ano, na Cidade Alta, por ocasião das comemorações do dia cidade de Luanda.
Angospel
Com seis anos de carreira, os “Angospel” privilegiam temas de pendor religioso e intervenção social e gravaram dois CD, denominados “Da igreja para a rua” e “Vou vencer”.
A música do grupo “Angospel”, segundo Manuel dos Santos, Director do grupo, aborda os efeitos nefastos do alcoolismo, prostituição e ocorrências do quotidiano, aconselhando o uso dos ensinamentos bíblicos como fonte de resolução dos diferentes problemas sociais.
Os temas revelados nas canções vão desde os louvores de adoração à Deus, ao incentivo a práticas de boa convivência social, incluindo o enaltecimento da moral, em temas como “Palco da vida” e “Meu tudo”.
Composto por dezanove artistas, o grupo “Angospel” faz incursões nas baladas, pop, rap, ritmos tradicionais, R&B, rock e “soulmusic”.
Os “Angospel” receberam em Portugal uma distinção com o CD “Da igreja para a Rua”, considerado o disco da semana, no programa radiofónico “Música sem espinhas”, da RDP-África, e foi concorrente os prémios “Angola Music Awards”, na categoria de Melhor Vídeoclipe, Grupo do Ano, Melhor Afro-jazz, Melhor Gospel, Artista Digital Altafonte, bem como foi nomeado para os prémios da Rádio Luanda, para a Melhor Produção Musical. Formação conceituada do género gospel, o grupo reúne crentes de diferentes denominações cristãs.
Trienal
A III Trienal de Luanda está dividida em artes visuais, com exposições de arte clássica e contemporânea, comunicação que prevê a edição de jornais, revistas, catálogos, edições e reedições de títulos bibliográficos fundamentais para a compreensão da história literária e cultura angolana, programas de rádio e televisão, fóruns, que inclui um extenso ciclo de conferências, sessões de teatro, concertos, e programas de educação, que prevêem visitas de estudantes de diferentes níveis de ensino, nos espaços da III Trienal de Luanda.
“Ressonância Magnética” é a extensão internacional da Trienal de Lunda, que produziu projectos em São Tomé e Príncipe, Niterói, Brasil, e Porto, em Portugal.
Segundo o balanço mais recente a III Trienal de Luanda somou,de 1 de Novembro a 28 de Agosto de 2016, 274dias de acção cultural, perfazendo 41 semanas de um total de 896 eventos realizados e de 1.127 artistas convidados, com um público estimado de mais de 47 mil e 484 pessoas.