Uma história de sucesso
Os laços que unem brasileiros e angolanos datam de pelo menos 400 anos atrás. Dois dos principais pólos dinâmicos do império luso-afro-brasileiro, Brasil e Angola tiveram sempre intenso fluxo humano, cultural e comercial. As relações entre as duas margens desse “rio chamado Atlântico” eram tão intensas que, quando o Brasil se tornou independente, cogitou-se a possibilidade de união efectiva numa confederação.
Entre os séculos XVI e XIX, cerca de dois milhões de angolanos cruzaram o Kalunga em direção ao Brasil, carregando consigo os seus costumes, as suas línguas,as suas crenças,a sua culinária, a sua cultura.
Marimbondo, quitanda, minhoca, caçula, capanga, banguela, canjica, dendém, fuba. Não há frase no português falado no Brasil que não traga uma palavra de origem angolana; não há mesa no Brasil onde não se sirva um saborvindo de Angola; não há festa no Brasil onde não se toque uma música de raiz angolana.
Não por acaso, portanto, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, já nos primeiros minutos do 11 de Novembro de 1975. Da mesma forma, não é por acaso que as nossas sociedades continuam a manter laços de amizade tão fortes.
Para além da história, da cultura e da política, somos grandes parceiros, também, no sector económico e na incessante saga rumo ao desenvolvimento. Nesse âmbito, tenho imenso orgulho da participação brasileira em alguns dos mais importantesprojectos já empreendidos em Angola fora do sector petrolífero: a Hidroeléctrica de Laúca e a Biocom – a primeira, um consórcio liderado pela Odebrecht, a segunda, uma empresa angolano-brasileira.
Laúca impressiona pela grandiosidade e, após a sua conclusão, inaugurará um novo capítulo na história do desenvolvimento energético de Angola, contribuindo sobremaneira para a diversificação da economia do país e para a melhoria dos indicadores sócioeconómicos da Nação.
Quando estiver em operação, Laúca será a maior hidroeléctrica de Angola e a terceira maior de África, com 2.070 Megawatts (MW) de capacidade instalada e a possibilidade de produzir até 8.643 gigawatts por hora (GWh) de energia por ano.
A barragem de Laúca tem 156 metros de altura e 2.900.000 metros cúbicos de volume de betão compactado com cilindro (BCC), o equivalente a 2,6 vezes o volume de betão da barragem de Capanda. Em linha recta, todos os túneis da obra somariam 21 quilómetros, e reunidos todos os equipamentos de electromecânica utilizados no projecto, somar-se-iam 31,8 toneladas – o peso equivalente a quatro torres Eiffel.
Embora estes números, por si só, já impressionem qualquer leitor, nada é tão impressionante como conhecer o local, onde trabalham 7.240 funcionários. Destes, 95 por cento são angolanos, os quais ocupam as mais diversas funções: de operários a engenheiros.
Para além da dimensão física, Laúca surpreende, também, pela sua dimensão social e ambiental. No entorno do empreendimento, são desenvolvidos projectos de fomento ao empreendedorismo rural das comunidades locais, programas de prevenção e combate a doenças como malária e febreamarela, campanhas para a melhoria do saneamento das comunidades e instalação de fontanários, programas de incentivo à educação escolar no sistema normal e na alfabetização de adultos, formação de quadros nos mais diversos níveis e ramos de actividade, reassentamento das comunidades afectadas pela albufeira, programas de educação ambiental e um projecto de piscicultura.
A Biocom, por sua vez, destacase por ser o maior investimento em curso no país fora do sector petrolífero. O empreendimento ocupa uma área de 42.500 hectares, 36.921 dos quais são agricultáveis e 5.579 destinam-se a áreas de protecção permanente da vegetação nativa. Nesta extensão, planta-se cana e produz-se açúcar, etanol e energia eléctrica renovável.
Após pouco mais de um ano de funcionamento, a Biocom já é um sucesso, e quando estiver a pleno vapor, deverá produzir, anualmente, 256 mil toneladas de açúcar cristal branco, 28 mil metros cúbicos de etanol anidro e 235 GWz de energia para o sistema eléctrico local (já descontada a energia necessária para o seu funcionamento). A Biocom deve gerar, ainda, 2.800 empregos directos, além de outras centenas de empregos indirectos que já começam a surgir, como o de pequenos agricultores familiares que fornecem alimentos para os seus trabalhadores.
A parceria entre brasileiros e angolanos estende-se de Cabinda ao Cunene. Prova disso é a iniciativa de integração de 50 fazendas agro-pecuárias na província do Cuando Cubango ao projecto minero-siderúrgico do Cuchi, na qual as empresas brasileiras Costa Negócios, Modulax e LM-Grupo vêm trabalhando em estreita sintonia com parceiros locais.
Ao lembrar o passado e testemunhar o presente, damo-nos conta do quanto já conseguimos realizar e do quanto ainda podemos conquistar no futuro. Portanto, neste 7 de Setembro de 2016, quando o Brasil comemora 194 anos de independência, apelo a todos os angolanos para celebrarmos juntos os séculos de amizade que nos uniram até aqui e os outros tantos que o amanhã nos reserva!
Estamos juntos!