Os três níveis de abordagem em Educação
No âmbito da organização e gestão podemos, segundo o sociólogo português Hermano Carmo, professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Clássica de Lisboa (ISCSP), encarar as questões educativas a partir de três níveis de abordagem:
– Numa perspectiva macro-sociológica, a educação é concebida como uma questão económica e política, quer pela amplitude de necessidades e recursos envolvidos, quer ainda pelos efeitos globais do seu funcionamento;
– Numa perspectiva meso-sociológica, a educação é entendida como um problema organizacional, uma vez que a gestão dos recursos (humanos, materiais e financeiros) tem efeitos imediatos na eficácia e na eficiência do processo educativo;
– Numa perspectiva micro-sociológica, a educação é entendida como um problema psico-social, uma vez que o processo educativo resulta de relações inter-pessoais, estabelecidas entre os diversos protagonistas envolvidos no processo.
Ao nível macro-sociológico os sistemas educativos devem procurar responder à enorme procura, com um tipo de política que possa privilegiar a qualificação e a diversificação da oferta. Das estratégias mais relevantes sobressaem as seguintes:
Em primeiro lugar, uma política de coerência curricular. Prefaciando Séneca ou Confúcio (?), “não há ventos favoráveis quando não se conhecem os rumos”.
Em termos gerais, qualquer sistema educativo deverá orientar-se para asnecessidades educativas básicas: a adaptação e gestão da mudança, o desenvolvimento, a solidariedade, a autonomia, a e a democracia.Esta política exige um controlo absoluto e sistemático dos recursos financeiros, já que a mesma devem visar o desenvolvimento de competências metacognitivas, que permitam a cada estudante ser sujeito da sua própria história e, assim sendo, todo o processo educativo deve direccionar-se para a sua autonomização progressiva. O ensino a distância (por vezes, combinado com modelos de ensino presencial) encontra-se em fase de expansão e hoje está praticamente implantado em todo o mundo. O mesmo tem vindo a revelar-se um modelo de ensino de grande eficácia para a autonomização pessoal e, consequentemente, de toda a sociedade.
Outra estratégia de diversificação da oferta passa pelo uso de recursos exteriores ao sistema educativo tradicional, através de parcerias com agentes da comunidade envolvente (empresas, ONG e outros) ou através da utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Esta estratégia exige a necessidade de se generalizar ao nível dos cidadãos a alfabetização audiovisual e informática, sob pena de se criarem novos grupos de excluídos.A educação direccionada para o género feminino e para as crianças e adolescentes em idade escolar deverá ser tomada em linha de conta, de modo a atenuar o profundo fosso existente, por um lado, em relação à educação das mulheres e, por outro, em relação aos países industrializados. De um modo geral,ao nível organizacional, as políticas educativas direccionam-se em três sentidos diferentes:
– “Na clarificação dos papéis e das regras de comunicação entre a escola e os organismos de tutela;
– No estabelecimento de parcerias entre a organização-escola e a comunidade envolvente, a fim de procurar potenciar os recursos mútuos para o desenvolvimento de projectos educativos em regime de coresponsabilização”.
– Na qualificação para a administração interna das instituições educativas, nos seus diferentes níveis de formação, registando-se uma consciência crescente de que o desempenho da função de gestão requer competências específicas, para além da simples preparação profissional exigida a um docente. Nesse sentido, a formação de gestores tem-se assumido como uma política indispensável para dotar a escola de mais eficácia e eficiência.
Na esfera psico-social, tem vindo a ser defendido todo um conjunto muito diversificado de políticas de intervenção, entre as quais salientamos apenas algumas, pela sua relevância:
– No que toca aos estudantes, têm aparecido cada vez mais programas compensatórios, que têm como propósito criar uma situação de discriminação positiva relativamente aos diferentes tipos de dificuldades (sócio-económicas, étnicas, linguísticas, relacionadas com deficientes e outros);
– Relativamente aos professores, a formação contínua tem vindo a assumir-se, quer como um direito, quer como um dever, “constituindose já não como uma excentricidade de alguns, mas como uma rotina de todos, valorizada em termos de progressão na carreira”.
– Por fim, têm vindo a desenhar-se também políticas que visam dotar os maiores protagonistas do processo educativo (professor/alunos) de empowerment, de modo a que possam vencer dificuldades quotidianas de um processo complexo de ensinoaprendizagem em situações, por vezes, muito difíceis. Neste domínio, situam-se diversos “programas de educação intercultural, de intervenção comunitária, de fomento de grupos de auto-ajuda e de desenvolvimento da inteligência emocional”.
A Inteligência Emocional é um conceito relacionado com a chamada ‘inteligência social’, presente na psicologia e criado pelo psicólogo americano Daniel Goleman. Um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar as suas emoções com mais facilidade. Uma das grandes vantagens das pessoas com inteligência emocional é a capacidade de se auto-motivarem e seguir em frente, mesmo diante de frustrações e desilusões. Entre as características da inteligência emocional está a capacidade de controlar impulsos, canalizar emoções para situações adequadas, praticar a gratidão e motivar as pessoas, além de outras qualidades que possam ajudar a encorajar outros indivíduos. De acordo com Goleman, a inteligência emocional pode ser subdividida em cinco habilidades específicas: auto-conhecimento emocional, controlo emocional,auto-motivação, empatia, desenvolvimento de relacionamentos interpessoais (habilidades sociais).
“O ‘controlo’das emoções e sentimentos, com o intuito de conseguir atingir algum objectivo, pode actualmente ser considerado com um dos principais trunfos para o sucesso pessoal e profissional. Por exemplo, uma pessoa que consegue concentrar-se no trabalho e finalizar todas as suas tarefas e obrigações, mesmo se sentido triste, ansiosa ou aborrecida. A inteligência emocional, para grande parte dos estudiosos do comportamento humano, pode ser considerada mais importante do que a inteligência mental (o conhecido QI), para alcançar a satisfação a nível geral”.
Como tivemos oportunidade de verificar, a Educação representa, no mundo contemporâneo, uma questão social complexa, que deve ser vista em várias escalas de análise, cada uma delas exigindo medidas de intervenção adequadas. Como diria o professor Robert Henry Srour, sociólogo e docente da Universidade de São Paulo (USP), “difícil não é fazer o que é certo, é descobrir o que é certo fazer”.