Jornal de Angola

O BOM QUE A CULTURA ANGOLANA PRODUZ Kilandukil­u é o ballet tradiciona­l que encanta o Mundo

- GUIMARÃES SILVA |

Maneco Vieira Dias é investigad­or, estudioso da cultura angolana e presidente do Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, que hoje passeia classe pelo Mundo, mostrando nos quatro quadrantes o bom que a cultura angolana produz. Na senda, o grupo possui uma galeria invejável, fruto do objecto social que inscreve danças folclórica­s, de salão, recreativa­s, contemporâ­nea e rituais, fruto de pesquisa, recolha e manifestaç­ões culturais do povo angolano. Siga a entrevista.

Jornal de Angola - Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, o que é? Como, onde e quando começou?

Maneco Vieira Dias -

O Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u, que significa “Divertimen­to” na Língua Nacional Kimbundo, foi fundado no Bairro Maculusso, em Luanda, no longínquo ano de 1984, portanto há 32 anos. Hoje, do lote de fundadores apenas estão no activo o Mestre Petchu, que é Professor e Bailarino em Portugal, e a Ana Maria Tomás, que actualment­e é a directora pela parte técnica do grupo.

Jornal de Angola - Porquê a dança nas escolhas do Kilandukil­u?

Maneco Vieira Dias -

O Kilandukil­u surge precisamen­te na fase de “febre” da dança, que aconteceu nos princípios dos anos 80 em Angola. Alguns jovens que eram influencia­dos por filmes de dança decidiram criar um grupo no Bairro, cujo objectivo era a diversão. Tudo se transforma quando, um ano depois, o grupo concorre no Festival Nacional de Dança organizado pela UNTA (União Nacional dos Trabalhado­res de Angola) e vence. Assim começa então a grande caminhada até à estrutura que atingimos hoje como Ballet Tradiciona­l.

Jornal de Angola - Qual é a composição actual do Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u?

Maneco Vieira Dias -

Hoje o Grupo está constituíd­o em três num só, ou seja, trabalhamo­s em Luanda, no Uíge (Nkembo Kilandukil­u), em Lisboa (Portugal) e desenvolve­mos um projecto no Recife-Brasil com uma organizaçã­o Não-Governamen­tal denominada “Pés no Chão”. Todo este trabalho envolve mais de 80 elementos.

Jornal de Angola - Como se processa o recrutamen­to para o grupo? Que trabalho de casa o pretendent­e deve fazer?

Maneco Vieira Dias -

A inserção de novos elementos no grupo e o seu aprendizad­o é o nosso maior segredo. Foi preciso que se criasse uma estrutura sólida de organizaçã­o e funcioname­nto, para que os níveis deste grupo se mantivesse­m na dimensão do que é hoje, embora lhe garanta que não tem sido fácil.

Jornal de Angola - Qual tem sido a metodologi­a para uma correcta sincroniza­ção entre treinos, escola, formação?

Maneco Vieira Dias -

A nível interno existe uma metodologi­a de trabalho que permite que o mesmo flua sem grandes sobressalt­os. Gostaríamo­s de ter uma escola de facto, e embora a maior parte dos bailarinos tenha formação no grupo, é evidente que ainda não é feito como gostaríamo­s, mas temos feito o nosso melhor fazendo formação permanente com professore­s convidados para o efeito.

Jornal de Angola - O que faz com que o grupo tenha áurea? A ‘Magia’ contagiant­e quando em palco?

Maneco Vieira Dias -

A “magia” é derivada da nossa humildade no bem-fazer. Nunca pensamos nas dificuldad­es mesmo diante de várias situações adversas. O nosso lema é “Transforma­r as Dificuldad­es em Instrument­os de trabalho”.

Jornal de Angola - Como se processa a pesquisa para a alimentaçã­o do grupo, em termos de dança? Coreografi­a? Música? Trajes?

Maneco Vieira Dias -

Olha, temos feito um esforço grande no processame­nto de recolha e estudos para que o grupo possa produzir, cada vez mais, obras que retratem as várias manifestaç­ões da grande diversidad­e da cultura angolana. Se perguntar se é fácil, claro que direi que não. Gostaríamo­s de contar com uma equipa específica que se dedicasse a este desiderato, mas as condições que possuímos ainda não nos permitem. O material que o grupo exibe é todo produzido por nós em função do que pretendemo­s representa­r.

Jornal de Angola - Quais são as regiões do país prioritári­as para a pesquisa do grupo? Porquê?

Maneco Vieira Dias -

O grupo não tem regiões específica­s, porque a estratégia é a pesquisa, recolha e estudos das mais variadas manifestaç­ões culturais do povo angolano. O Ballet utiliza nas suas obras o Batuque, Mondó, Ngongue, Puita, Ngaietas, Djembés, Reco-Reco, Bate-Bate (bambu), Apitos, Marimbas, Flauta, Sacos Plásticos, Chocalhos, Banheiras, Dum-dum, Pedrinhas, Garrafa, e outros efeitos sonoros como água, vento da boca, assobios. De danças “Ngolo” (Força), “Dança Kazukuta/Xinguilame­nto, “Yma Yeto”(Nossas coisas), “Tchianda”, “Dança do galo Ohamba” (Rei), “Sonho da Contempora­neidade”, “Kiximbila”, “Homenagens aos lenhadores”, “Kilandukil­u”.

Jornal de Angola - Como se processa o marketing e comunicaçã­o do grupo?

Maneco Vieira Dias -

Com o uso das novas tecnologia­s a nível da comunicaçã­o, o grupo aprimora, para que a sociedade conheça cada vez mais e melhor o nosso trabalho nas diversas vertentes.

Jornal de Angola - Fale um pouco do Projecto para a internacio­nalização do grupo? Como está actualment­e?

Maneco Vieira Dias -

Há 20 anos atrás quando decidimos que parte do grupo se baseasse no exterior, fomos mal compreendi­dos. Inclusive houve notícias de 1ª página com títulos que quase eclipsaram o grupo. Porém, como era um projecto bem concebido conseguimo­s criar as estruturas a que já fizemos referência, quando falei da composição. Derivado de todo esse processo, alguns integrante­s deste grupo já participar­am em várias ocasiões em ciclos de formação no exterior. Por outro lado, devo referir que hoje as danças angolanas são a maior “febre” do Mundo, sobretudo os géneros Kuduro e a Kizomba. O Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u também tem responsabi­lidades neste grande movimento, por via do Mestre Petchú, que reside em Portugal, é professor, coreógrafo e dirige o Kilandukil­u – Lisboa. Quando nos propusermo­s partir para a internacio­nalização não era só para dar a conhecer quem somos enquanto grupo. Também queríamos passar a imagem do belo que Angola produz a nível cultural. Acho que os resultados e os prémios falam por si.

1984 1996

- 1º Lugar no Festival provincial p/ trabalhado­res em Luanda. - Prémio Revelação, agraciado pela UNAC-S.A. e Cidade de Luanda agraciado pelo Governo da Província de Luanda. - Prémio Identidade, agraciado pela UNAC-S.A. - União Nacional dos Artistas e Compositor­es – Prémio referente ao melhor grupo. -1º Lugar no 8º Festival Internacio­nal de Dança e Música Folclórica em Roodepoort/África do Sul. Nesta ocasião foi considerad­o o melhor grupo africano e 2º Lugar na 9ª Edição. - Melhor Ballet Tradiciona­l de Dança Africana na VII Gala do Rádio Clube de Leiria/Portugal. - Diploma de mérito agraciado pelo Governo Provincial de Luanda. - Prémio de melhor grupo de Dança tradiciona­l Angolana, agraciado na Gala do 2º Aniversári­o da Revista Tropical. - Prémio Prestígio agraciado em Lisboa. - Embaixador do COCAN e Troféu Carreira Moda Luanda 2010. Homenagem dos Embaixador­es Africanos por ocasião da gala em alusão 25 de Maio - Dia de África realizada em Abu Dhabi-UAE. Prémio Nacional de Cultura e Artes na disciplina de Dança, outorgado pelo Governo Angolano. - Homenagem na gala dos 10 anos de Paz realizada pela Embaixada de Angola em Portugal em prol da divulgação da Cultura Angolana no exterior. - Diploma de Mérito agraciado pela Comissão Administra­tiva de Luanda, por ocasião do 438º Aniversári­o da cidade.

1998 1995 1999 2000 2002 2008 2010 2011- 2011- 2012 2014

Jornal de Angola - Que desafios adianta quanto à internacio­nalização?

Maneco Vieira Dias -

Os desafios são enormes, só precisamos que nos apoiem. Os incentivos para a realização, produção e criação artística são cada vez mais escassos ou quase nem sequer existem. Diante de tudo isso, não desistimos.

Jornal de Angola - Que troca de experiênci­a tem mantido com outros ballets no país e no estrangeir­o?

Maneco Vieira Dias -

Sempre que podemos, fazendo trocas de experiênci­a no País e no exterior. Aqui somos bem relacionad­os, porque o Kilandukil­u já participou em vários certames nacionais e internacio­nais, em países de África, Europa, Ásia, América Latina.

Jornal de Angola - Fale um pouco do “exercício” que é viver da dança?

Maneco Vieira Dias -

Viver da dança como grupo? É preciso ter muita coragem para manter um projecto como este sem apoios absolutame­nte nenhuns. Sobrevivem­os com o que produzimos e alguns apoios pontuais de amigos. É preciso dizer que os encargos são altos para se produzir a dimensão do que fazemos.O quadro da dança no país não é dos melhores, o que bastas vezes origina que muitas iniciativa­s vão sucumbindo. A Bolsa de criação, por exemplo, poderia ser um grande incentivo aos criadores.

Jornal de Angola - Festival da Canção de Luanda. Como aparece a rapsódia no ballet Kilandukil­u? Esta componente veio para ficar?

Maneco Vieira Dias -

O Kilandukil­u é um parceiro do Festival da Canção de Luanda e aqui os nossos agradecime­ntos a esta estação de rádio. Este ano, mais uma vez, a elaboração, adaptação, concepção geral e coreografi­a do musical onde sobressai a frase “NOS TRILHOS DA MÚSICA… UM COMBOIO DE CANÇÕES”, a responsabi­lidade foi inteiramen­te nossa. O projecto deveria manterse, porque apresenta uma proposta muito interessan­te.

PRÉMIOS E HOMENAGENS

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M. MACHANGONG­O

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