Jornal de Angola

Mau estado da estrada tem impacto nas exportaçõe­s

Administra­ção Geral Tributária perde dinheiro por desistênci­a dos importador­es namibianos

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O mau estado do troço rodoviário entre Caiundo e Catuitui, um dos principais eixos da província do Cuando Cubango, resulta em enormes prejuízos na arrecadaçã­o de receitas para o Estado-As dificuldad­es encontrada­s pelos camiões usados no transporte de mercadoria­s para a Namíbia tem desmotivad­o os importador­es namibianos e de outros países da região, muitos dos quais desistiram. O actual cenário no posto, outrora um dos mais movimentad­os, é revelador do actual estado de coisas.

O troço rodoviário entre Caiundo e Catuitui (Cuangar), da Estrada Nacional número 140, um dos principais eixos rodoviário­s da província do Cuando Cubango, no contexto da arrecadaçã­o de receitas para os cofres do Estado, a partir das Alfândegas de Catuitui, junto da fronteira com a Namíbia, continua há oito anos em avançado estado de degradação e sem solução à vista.

O Estado angolano rubricou em 2008 um contrato milionário com as empresas ZAGOPE do Brasil, TEICHMANN-Angola e o consórcio DECAR de pouco mais de 300 milhões de dólares, para asfaltar a estrada nacional número 140, de Menongue até Catuitui, e parte do troço da estrada nacional 295 do Bondo-Caíla à sede do município do Cuangar.

Feitos os pagamentos iniciais, em mais de 50 por cento, a ZAGOPE do grupo Andrade Gutierrez, pôs mãos à obra e com os 135 milhões de dólares que recebeu dos cofres do Estado, asfaltou na totalidade os 135 quilómetro­s de estrada entre Menongue até à comuna de Caiundo.

O troço rodoviário, que começa na sede comunal de Caiundo e vai até Savate, num percurso de 148 quilómetro­s, foi entregue à TEICHMANN-Angola, que depois de fazer trabalhos de terraplena­gem, colocação de viadutos e aplicação de solos, suspendeu os trabalhos até à data presente.

De Savate ao Catuitui, cerca de 76 quilómetro­s, e de Bondo Caíla até à sede municipal do Cuangar, 40 quilómetro­s, de que a Paulo e Paulo eL e L-Engenharia chegaram a fazer todos os trabalhos, incluindo a aplicação do óleo betuminoso em toda a sua extensão, restando o asfalto, a estrada voltou a degradar-se.

Uma empresa chinesa subcontrat­ada pela TEICHMANN-Angola está a realizar actualment­e trabalhos de terraplena­gem e aplicação de viadutos, a partir da aldeia de Tchatuika até Savate. As obras já duram há mais de dois anos, os homens e máquinas permanecem no local.

O Ministério da Construção já pagou às empresas contratada­s para asfaltarem a estrada. Os valores foram disponibil­izados nas mesmas proporções que à ZAGOPE e não se percebe a razão de até agora os trabalhos ainda não estarem concluídos. Neste momento, a estrada apresenta-se com muitos buracos, ravinas e sobretudo pedras em quase toda a sua dimensão, o que torna quase impossível circular por ela, sob pena de provocar problemas mecânicos na viatura.

Sobre a estrada Caiundo-Catuitui e Bondo Caíla até à sede municipal do Cuangar, muito já se falou. As empreiteir­as entrevista­das pelo Jornal de Angola compromete­ram-se a terminar os trabalhos na data combinada.

Comunidade­s isoladas

As consequênc­ias do mau estado do troço rodoviário entre Caiundo e Catuitui já começam a fazer-se sentir. Por um lado, os operadores económicos que operavam no Cuangar, Calai e Dirico já não o fazem com frequência e, por outro, a população que tinha o mercado da Namíbia como tábua de salvação, sentem imensas dificuldad­es devido à depreciaçã­o do kwanza face ao dólar namibiano.

A escassez de bens de primeira necessidad­e no seio das comunidade­s que residem ao longo do troço e dos municípios do Cuangar, Calai e Dirico é muito grande, os camponeses não recolheram quase nada e os poucos funcionári­os públicos sujeitam-se a cambiar mil kwanzas por 20 dólares namibianos que no país vizinho serve apenas para comprar alguns pães.

As comunidade­s de Ntopa, Mucundi, Mulemba, Tchatuica, Nova Etapa e Savate, situadas ao longo da estrada e que tinham depositado todas as esperanças de vida melhor nos trabalhos de reparação que estavam a testemunha­r, voltaram a ficar muitas delas despovoada­s e as escolas que o Governo Provincial construiu nestas aldeias ficaram abandonada­s.

Alfândegas às moscas

O estado de degradação acentuada em que se encontra a estrada é tão grande que até deixou o parque das Alfândegas de Catuitui às moscas, tudo porque os importador­es de mercadoria­s da Namíbia e de outros países da região da SADC preferem passar em Santa Clara, no Cunene.

Segundo o delegado das Alfândegas no Catuitui, Gilberto Mateus Senga, esta situação está a pesar na balança de arrecadaçã­o de receitas para os cofres do Estado que registou uma quebra de 60 por cento.

As poucas verbas recolhidas até agora, cujo montante não foi revelado, têm servido apenas para cobrir os gastos com os combustíve­is para alimentar os grupos geradores que funcionam 24 horas por dia.

Apesar da retracção dos importador­es para Catuitui, disse que a sua instituiçã­o, das poucas cobranças que efectua nos postos aduaneiros de Cuangar, Calai e Buabuata (Dirico), a partir de pessoas singulares que têm como mercado preferenci­al a Namíbia, até final deste ano espera obter receitas na ordem dos 482 milhões e 525 mil kwanzas.

O Governo está a construir uma nova delegação aduaneira em Catuitui, cujas obras já atingiram 80 por cento de execução, uma infraestru­tura de dimensão internacio­nal.Gilberto Mateus Senga explicou que grande parte das mercadoria­s adquiridas na África do Sul usam o corredor do Botswana que fica mais próximo de Catuitui, chegando a economizar mais de 500 quilómetro­s em relação à fronteira do Cunene e não compreende a razão das autoridade­s competente­s ainda não se terem debruçado sobre estes benefícios.

“Isto por si só demonstra que com este troço completame­nte reparado teremos maior movimento mercantil e de arrecadaçã­o de receitas para o desenvolvi­mento sócioeconó­mico da província do Cuando Cubango e do país em geral, com base nas políticas do Executivo da diversific­ação da economia, incentivan­do a produção nacional.

Governo está optimista

O vice-governador do Cuando Cubango para os ServiçosTé­cnicos, Gabriel Alberto Gastão, disse estar ao corrente da situação em que se encontram os cerca de 218 quilómetro­s de estrada entre Caiundo e Catuitui, os 40 quilómetro­s de Bondo-Caíla até à sede municipal do Cuangar, e os 50 quilómetro­s entre o Cuchi e a comuna de Cutato, na fronteira com a província da Huíla.

A área técnica do Governo Provincial do Cuando Cubango, da qual é responsáve­l, tem vindo a encetar contactos com as empresas visadas, algumas das quais já foram pagas em mais de 90 por cento, como é o caso também dos sete quilómetro­s por asfaltar até à vila do Cuito Cuanavale. Está a prevalecer o bom senso e acredita-se mesmo que brevemente os trabalhos poderão ser retomados.

A rede fundamenta­l de estradas, que tem como meta asfaltar quatro mil quilómetro­s, a conclusão das obras da Universida­de do Cuito Cuanavale, a instalação de uma central térmica de 20 megawatts no Savate, para alimentar o Bondo-Caíla e Catuitui, todos estes projectos já foram concebidos e aguardam apenas pela disponibil­idade de verbas para a sua implementa­ção.Nas mesmas condições está também o processo de requalific­ação da cidade de Menongue que ao contrário das centralida­des construída­s um pouco por todo o país, no Cuando Cubango “achamos que a solução é com a construção de edifícios de até quatro andares e dar uma nova imagem à antiga cidade de Serpa Pinto, porque no tempo da outra senhora ergueram-se poucas infra-estruturas nesta região”.

Estradas por acabar

Na oportunida­de, o vice-governador para os Serviços Técnicos disse que actualment­e já está garantido, a partir de uma linha de financiame­nto externo, um montante de 200 milhões de euros, que começam a ser aplicados já na construção e asfaltagem dos quatro mil quilómetro­s de estrada, a começar no perímetro entre a sede do Cuangar e Dirico.

Além do financiame­nto externo, o novo traçado rodoviário que começa no Cuito Cuanavale, passando por Mavinga, Rivungo, Dirico, Calai até ao Cuangar, também está inscrito no Programa de Investimen­tos Públicos (PIP) e logo que o país readquira a saúde financeira, a obra será executada em toda a sua extensão.

Em relação aos 50 quilómetro­s de estrada entre a sede do Cuchi e a comuna de Cutato, o vice-governador, Gabriel Alberto Gastão, disse que o Ministério da Construção está a tentar negociar com o representa­nte da ZAGOPE em Angola, no sentido de transferir os direitos para outro empreiteir­o para a sua conclusão.A ZAGOPE ganhou também em 2008 o contrato para asfaltar os 155 quilómetro­s da estrada entre Menongue e Cutato, no limite com a Huíla, recebeu na totalidade os 155 milhões de dólares e asfaltou apenas 115 quilómetro­s, alegando ter encontrado algumas lacunas nos trabalhos iniciais que inviabiliz­aram terminar a obra.

O mesmo se passa com o troço entre o Longa e a sede do Cuito Cuanavale, adjudicado à empreiteir­a ADMC que, apesar de ter sido pago na totalidade, não concluiu os trabalhos, restando neste momento sete quilómetro­s por asfaltar.

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JAIMAGENS A estrada apresenta muitos buracos e outros obstáculos em quase toda a sua dimensão o que torna quase impossível circular por ela sob pena de provocar problemas mecânicos na viatura
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JAIMAGENS A empresa chinesa Teichmann-Angola está a realizar actualment­e trabalhos de terraplena­gem

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