Forças iraquianas acusadas de torturar civis
Amnistia Internacional responsabiliza soldados por cometerem actos de extrema violência
Forças iraquianas torturaram e mataram civis a Sul de Mossul, denunciaram grupos de direitos humanos, nos primeiros relatórios de supostos abusos na ofensiva militar para retomar a cidade controlada pelo “Estado Islâmico” (“EI”).
AAmnistia Internacional refere que seis pessoas foram encontradas mortas no mês passado nas zonas suburbanas de Shura e Qayyara, que as forças de segurança suspeitam ter laços com o grupo terrorista que ocupou um terço do território iraquiano em 2014.
“Homens com uniformes da polícia federal cometeram múltiplos assassinatos, apreendendo e depois matando deliberadamente, a sangue frio, moradores de vilarejos a Sul de Mossul”, disse Lynn Maalouf, vice-directora de pesquisa do escritório da Amnistia Internacional em Beirute, capital do Líbano.
O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, negou as acusações da Amnistia Internacional, sob o argumento de que moradores e não forças do Governo, mataram membros do “Estado Islâmico” e de outras pessoas que, de livre vontade, colaboraram com o grupo terrorista. O Chefe do Governo também disse que a organização nãogovernamental que defende os Direitos Humanos está a espalhar o medo entre os iraquianos com os seus relatórios e que será responsabilizada pelo deslocamento de pessoas que podem fugir da cidade em consequência das suas acções.
A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) revelou, por sua vez, que pelo menos 37 homens suspeitos de serem membros do “Estado Islâmico” foram detidos por forças iraquianas e curdas colocadas em postos de verificação, vilarejos, centros de triagem e campos para pessoas deslocadas nos arredores de Mossul e Hawija. Alegados familiares contaram que não sabem onde a maioria dos homens estão detidos e que não conseguiram contactar nenhum deles durante a sua detenção, de acordo com o relatório. A HRW afirmou que tal conduta “aumenta significativamente o risco de outras violações”, incluindo a tortura. O porta-voz do Ministério do Interior do Iraque negou qualquer violação e disse que as forças iraquianas respeitam os direitos humanos e a lei internacional. O porta-voz do governo regional curdo refutou o relato da HRW, ao afirmar que quaisquer atrasos na notificação das famílias tem a ver com a falta de recursos. “Ninguém foi mantido em instalações desconhecidas. Eles são mantidos em instalações identificadas”, afirmou Dindar Zebari.
A operação militar de Mossul, que envolve uma aliança de soldados iraquianos, forças de segurança, combatentes curdos peshmerga e milícias xiitas, que chegam a 100 mil efectivos e que têm apoio de ataques aéreos dos EUA, entrou na quarta semana, mas até agora só conseguiu apoderar-se de uma pequena parte da cidade.
Ataques aéreos
Os ataques de aviões norte-americanos no Iraque e na Síria contra o “Estado Islâmico” mataram 119 civis desde o seu início, em 2014, segundo balanço divulgado esta semana pelo Pentágono (Ministério da Defesa dos EUA).
O Governo de Washington só reconhece a existência de vítimas civis como consequência dos seus alegados bombardeamentos, depois de investigações fidedignas.
Os Estados Unidos são acusados, assim como outros membros da coligação internacional que lidera, de subestimar o número de vítimas civis dos seus ataques.
A organização não-governamental Airwars, com sede em Londres, estima, por sua vez, que as bombas da coligação internacional mataram 1.787 civis no Iraque e na Síria desde o começo dos ataques, há mais de dois anos, em Agosto de 2014. AAmnistia Internacional situa o total de vítimas mortais em pelo menos 300.
O número de vítimas civis aumentou com a intensificação da campanha contra o “EI” desde o final de 2015 e a preparação da ofensiva contra os redutos de Mossul, no Iraque, e Raqa, na Síria.
“Estado Islâmico”
Militantes do “Estado Islâmico” executaram diversas pessoas nos arredores de Mossul e há relatos de que o grupo terrorista está a armazenar amónia e enxofre em áreas civis, possivelmente para uso em armas químicas, disse na sexta-feira a porta-voz da Organização das Nações Unidas para os Direitos Huamanos, Ravina Shamdasani.
Uma vala comum com mais de 100 corpos encontrada na cidade de Hammam al-Alil foi uma das dezenas de locais de execuções do “Estado Islâmico”, disse Ravina Shamdasani, citando informações de fontes no local, incluindo de um homem que se fingiu de morto durante uma execução em massa.
Execuções públicas foram realizadas por traição e colaboração com forças iraquianas que tentavam retomar a cidade, ou pelo uso de celulares, que são banidos, ou deserção das fileiras.
Pessoas com cinturões de explosivos, possivelmente adolescentes e crianças, e mulheres sequestradas estavam a ser enviadas para a zona histórica de Mossul pelo “Estado Islâmico”, para servirem de “escudo humano”, referiu a portavoz. As operações de unidades separadas das forças envolvidas na ofensiva militar já ganharam espaço significativo em certas zonas da cidade de Mossul, apesar de os extremistas manterem a resistência.