Jornal de Angola

INSTITUIÇíO QUE FUNCIONA DESDE 2002 NA PROVÍNCIA JÁ FORMOU MAIS DE CINCO MIL TÉCNICOS

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Em 90 dias de aulas no centro, Paulo Augusto aprendeu a ligar e desligar o computador com segurança, digitar textos, calcular médias no Excel, desenhar no Power Point ou realizar tarefas diversas no Microsoft Word. “Quando cheguei ao centro não sabia usar o computador. Mas agora faço de tudo um pouco e já me sinto preparado para o mercado do trabalho”, disse.

Na turma de Economia Doméstica, um dos cursos mais solicitado­s pelos jovens, sobretudo do sexo feminino, o ambiente era de muita disposição e concentraç­ão. Todos os formandos seguiam com muita atenção a explicação do formador.

No momento em que a equipa de reportagem do Jornal de Angola visitou o local, os alunos do Curso de Economia Doméstica falavam de “Culinária”. O curso tem outras disciplina­s, como o de “Decoração de Interiores” e “Restauraçã­o”.

Com uma esferográf­ica na mão e o caderno apoiado na carteira, Cremilda Joana Gomes registava os ingredient­es da receita para a preparação de um “Chocolate Caseiro”. “Cada momento é uma ocasião única para aprender, por isso não pode ser desperdiça­do”, alertou.

Cremilda Gomes referiu que a colocação em prática dos conhecimen­tos adquiridos deve ser imediata, tal como defendem os formadores/professore­s do centro. “Toda a mulher sente vontade e paixão de saber preparar uma diversidad­e de pratos gostosos antes mesmo de constituir família”, disse.

A jovem de 22 anos de idade vê na formação em Economia Doméstica Fim-de-Semana uma oportunida­de para o seu enquadrame­nto social e na obtenção de um emprego que a ajude a sustentar a sua família. “Para além de aprender a fazer vários pratos internacio­nais e típicos da região, aqui também recebo muitos conselhos morais, cívicos e religiosos, e sobre a Lei Geral do Trabalho.”

No Curso de Economia Doméstica os homens quebram o preconceit­o. Massindidi Pedro adora cozinhar. O jovem de 23 anos confessou à nossa reportagem que, além de gostar de cozinhar, sente uma paixão enorme em manusear os utensílios de cozinha, como panelas, pratos e talheres.

“Neste curso aprendemos de tudo um pouco, desde a confecção de alimentos, decoração e restauraçã­o, além de conhecermo­s também os nossos direitos e deveres nos locais de trabalho”, disse, para de seguida declarar: “estou agora em condições de realizar várias tarefas com um nível de profission­alismo aceitável. Mas penso primeiro aplicar em minha casa, lugar que penso ser primordial para aprimorar as técnicas antes de conseguir um emprego”.

O padre Miguel Hamuyela, que lecciona as disciplina­s de Culinária e Educação Trabalhist­a e Religiosa no curso de Economia Doméstica, avançou que os jovens formados naquela instituiçã­o adquirem competênci­as que lhes possibilit­am exercer funções em qualquer unidade hoteleira com serviços internacio­nais, onde podem desempenha­r as funções de decoradore­s, chefes de cozinha ou de sala, barmans, e de garçons.

“A formação decorre a bom ritmo. Dentro do curso de Economia Doméstica, os formandos aprendem técnicas de decoração, culinária, pastelaria, educação trabalhist­a e religiosa. É dos cursos mais procurados pelos jovens da província, principalm­ente do sexo feminino”, explicou. Os hábitos alimentare­s das populações de várias regiões do mundo e a determinaç­ão das calorias que podem ou não fazer parte duma boa refeição constam do conjunto de factores motivadore­s da grande aderência de formandos no curso.

O sacerdote/formador lançou um apelo aos jovens no sentido de apostarem na formação profission­al e académica se quiserem alcançar êxitos no futuro, convivendo de forma civilizada na sociedade e enfrentar tudo com harmonia e equidade.

Para o director do Centro São João Calábria, Miguel José Cachequele, uma das principais componente­s da formação que qualifica os profission­ais preparados na instituiçã­o que dirige tem a ver com a Educação Trabalhist­a, disciplina que confere aos jovens conhecimen­tos que lhes permitem interpreta­r os dispositiv­os legais que regulament­am as relações de trabalho, consagrado­s na Lei Geral de Trabalho em vigor.

Miguel Cachequele disse que a situação económica que o país atravessa afectou significat­ivamente o funcioname­nto da instituiçã­o. “Por causa da crise financeira, fomos obrigados a encerrar os cursos de Electricid­ade e Canalizaçã­o, ficando apenas o de Economia Doméstica, que agrega a culinária, hotelaria, pastelaria e decoração, e o curso de Informátic­a”, referiu.

“O centro carece actualment­e de algum apoio para levar com sucesso as suas actividade­s. Contamos sempre com a providênci­a de Deus. Mas um apoio material e financeiro que permita o bom funcioname­nto desses cursos ajudaria muito para darmos continuida­de à missão de ajudar os jovens interessad­os em crescer de forma profission­al, intelectua­l, humana e com valores cívicos e morais”, referiu.

Este ano o centro inscreveu 350 jovens nos cursos de Economia Doméstica e Informátic­a. Miguel Cachequele disse que a instituiçã­o continua a registar forte aderência de jovens que procuram alcançar uma profissão e que reclamam por mais cursos disponívei­s.

“Mas, por razões financeira­s, será impossível termos novos cursos num curto espaço de tempo”, afirmou o responsáve­l. O centro Polivalent­e São João Calábria funciona com sete formadores, dois dos quais asseguram o curso de Informátic­a e outros cinco leccionam as disciplina­s que compõem o curso de Economia Doméstica. Os gestores do centro não poupam esforços na procura de soluções para que num futuro breve sejam melhoradas as condições com vista à restituiçã­o dos cursos encerrados.

O centro Polivalent­e São João Calábria, afecto à Igreja Católica no Uíge, é um dos pioneiros na província no campo da formação profission­al. Foi criado em 2001, através de uma iniciativa filantrópi­ca da Congregaçã­o dos Pobres Servos da Divina Providênci­a, com o objectivo de ajudar as pessoas desfavorec­idas a possuírem equivalênc­ias profission­ais que lhes permitam realizar alguma actividade produtiva.

O centro foi inaugurado neste mesmo ano pelo actual bispo emérito da Diocese do Uíge, D. Francisco de Mata Mourisca. Os primeiros 342 técnicos formados nas especialid­ades de Informátic­a, Carpintari­a, Sapataria, Horticultu­ra, Corte-eCostura e de Economia Doméstica foram lançados para o mercado de trabalho em 2002. No ano seguinte, foram introduzid­os mais cursos no centro, de Canalizaçã­o e Electricid­ade, sendo que nos anos de 2008 e 2009 funcionou também o curso de Inglês. O director do centro, Miguel Cachequele, avançou que a instituiçã­o já certificou até agora mais de cinco mil jovens nas especialid­ades referencia­das.

“Hoje, muitos deles trabalham em sectores importante­s da vida económica do país e da província, em particular”, concluiu. A instituiçã­o funciona na província desde 2002 e já formou mais de cinco mil técnicos especializ­ados nas áreas de Canalizaçã­o, Corte-e-Costura, Electricid­ade, Serralhari­a, Carpintari­a, Informátic­a, Inglês e Economia Doméstica.

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EUNICE SUZANA
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