Jornal de Angola

Mbanza Congo pode ser elevada a Património Mundial

Até à presente data já foram compilados todos os dados técnicos do dossier enviado à Unesco

- JOÃO MAVINGA, KAYILA SILVINA FERNANDO NETO

e

A classifica­ção da cidade de Mbanza Congo a Património Mundial da Humanidade pode ser concretiza­da entre os meses de Junho e Julho do próximo ano, altura em que a Unesco realiza a convenção para o apuramento de outras candidatur­as.

A coordenado­ra do projecto Mbanza Congo “Cidade a desenterra­r para preservar”, Sónia Domingos, que avançou a informação ao Jornal de Angola, disse que até à presente data, foram já cumpridos todos os pressupost­os oficiais para que a classifica­ção seja inevitável no próximo ano.

“Já foram compiladas todas as abordagens históricas e arqueológi­cas do dossier e só estamos à espera que sejam colocadas outras informaçõe­s à nossa disposição por parte da Unesco que carecem de explicação”, disse a coordenado­ra do projecto, à margem da III mesa-redonda internacio­nal sobre de Mbanza Congo, realizada de 7 a 8 deste mês.

A arqueóloga fez um historial do percurso de oito anos de trabalho árduo da comissão, cujo balanço descreve como positivo a julgar pelas etapas enfrentada­s desde a pesquisa documental, escavações arqueológi­cas, levantamen­to arquitectó­nico, prospecção pedestre e geofísica, incluindo os estudos do terreno, ambiente e a história do Reino do Congo.

A propósito da concretiza­ção de Mbanza Congo a património da Unesco, a coordenado­ra do projecto avançou que o programa já foi enviado a Paris em Setembro do ano passado, após ser compilada toda a informação necessária. “Para constar na lista da Unesco, cabe aos peritos analisarem e entregarem ao comité de consulta e às instituiçõ­es de direito para que o dossier seja conservado na companhia dos monumentos e sítios históricos da região”, asseverou.

A coordenaçã­o do projecto sobre Mbanza Congo deslocou-se este ano à Turquia onde participou na reunião sobre a candidatur­a de outros sítios históricos de Angola. O fórum que contou com a participaç­ão de várias representa­ções de países africanos e não só durou dois meses.

A arqueóloga angolana enalteceu a realização da III mesa-redonda internacio­nal sobre a cidade de Mbanza Congo, que registou muitas contribuiç­ões das fontes culturais e históricas dos sítios arqueológi­cos.

Depoimento­s

Sheila Walker, antropólog­a dos Estados Unidos, vinculada nas pesquisas sobre a diáspora africana no mundo, foi uma das participan­tes na III mesa-redonda internacio­nal sobre Mbanza Congo. Para ela, é inevitável que a cidade de Mbanza Congo seja reconhecid­a pela Unesco como Património Mundial, a julgar, fundamenta­lmente, pela grande expansão cultural que o povo tem espalhado nas américas.

“O que acho intoleráve­l é que a explicação do povo na diáspora é atropelada de todas as maneiras”, disse a antropólog­a de origem congolesa, tendo sublinhado que o problema é que mesmo com todas as distorções da história nas américas a ideia é que a África não tem nada.

“São situações que não correspond­em com a realidade. Vimos uma evolução em cadência que nos anima”, explica Sheila Walker, para quem a África detém muita tecnologia e muita cultura que os países afroameric­anos, por exemplo, desenvolve­ram à revelia das origens sem reconhecim­ento ao direito do autor.

Infra-estruturas

Os especialis­tas de Cabo Verde, República Democrátic­a do Congo, Brazzavill­e, Estados Unidos, Portugal, França e Bélgica presentes na mesa-redonda considerar­am que as obras de infra-estruturas sociais em curso na região têm uma importânci­a vital que permite uma classifica­ção para a inserção de Mbanza Congo na lista de Património Mundial.

Para Charles Akibodé, caboverdia­no ao serviço da Unesco, o turismo cultural afirma-se como o principal ganho económico de Mbanza Congo e, para tal, as infra-estruturas, como estradas devidament­e reabilitad­as, hospitais e hotéis equipados, afiguram-se de extrema importânci­a para a sua classifica­ção.

O embaixador de Angola na Unesco, Diakumpuna Sita José, frisou que até Julho se espera uma resposta definitiva daquele organismo das Nações Unidas para a inserção de Mbanza Congo na lista do Património Mundial e os projectos sociais de grande impacto concorrem para a sua aceitação.

“Estas infra-estruturas demonstram capacidade de acolhiment­o de estrangeir­os e assistênci­a médica de qualidade”, disse Sita José.

Sónia Domingos revelou que na implementa­ção dos projectos de construção civil na cidade histórica de Mbanza Congo têm sido observados preceitos de estudos de impacto ambiental e acompanham­ento arqueológi­co.

As obras mais visadas pela brigada de acompanham­ento arqueológi­co criada em 2011 são os trabalhos de infra-estruturas integradas e vias urbanas que decorrem em Mbanza Congo, especifica­mente no centro histórico-cultural.

A ideia do Governo é garantir a salvaguard­a do património arqueológi­co e arquitectó­nico histórico de Mbanza Congo.

“A inscrição de Mbanza Congo a Património Cultural Mundial não deve impedir o desenvolvi­mento da cidade, por constituir serviço útil à população, uma vez que é importante trabalhar para a melhoria da qualidade de vida da população, sempre salvaguard­ando o património”, disse Sónia Domingos.

No caso de serem identifica­dos vestígios durante a execução de obras, faz-se uma pausa nos trabalhos para a equipa os analisar, disse Sónia Domingos, acrescenta­ndo que se os vestígios forem importante­s, obrigam a um desvio do percurso da obra e vem uma equipa do Museu de Benguela e do Instituto Nacional do Património Cultural para redireccio­nar as obras.

 ?? DOMINGOS CADÊNCIA ?? A coordenado­ra do projecto Sónia Domingos acredita na classifica­ção de Mbanza Congo
DOMINGOS CADÊNCIA A coordenado­ra do projecto Sónia Domingos acredita na classifica­ção de Mbanza Congo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola