Jornal de Angola

Aumenta o temor pela influência da família de Trump no Governo

- CATHERINE TRIOMPHE | AFP

Ivanka Trump com o primeiromi­nistro japonês, Shinzo Abe, e o marido Jared Kushner que quer participar das reuniões diárias sobre segurança na Casa Branca: a família de Donald Trump está omnipresen­te, alimentand­o os temores sobre os conflitos de interesse e a falta de experiênci­a.

As fotos da primeira reunião do magnata nova-iorquino com um líder estrangeir­o na quinta-feira (17) provocou uma enxurrada de tuítes de indignados simpatizan­tes de Hillary Clinton.

Numa delas, aparece Ivanka, sempre muito elegante, sentada com o seu pai e o primeiro-ministro japonês na Trump Tower, em Nova Iorque. Numa outra, Abe e Trump conversam, observados pelo casal Ivanka e Jared.

“Conflito de interesses é um eufemismo”, disse Matt Ortega, um executivo da campanha digital de Hillary.

“OMGOMGOMGO­MGOMG” por “Oh My God” (Oh meu Deus), reagiu a revista de esquerda Mother Jones.

Citando fontes anónimas, o jornal The New York Times afirmou que Kushner consultou um advogado sobre a possibilid­ade de entrar para o governo do sogro.

Uma lei anti-nepotismo adoptada em 1967, depois que o expresiden­te John F. Kennedy nomeou o seu irmão Bobby como secretário de Justiça, proíbe - em princípio - qualquer membro da família directa, ou política, de um presidente de ter um emprego remunerado numa agência federal.

A legislação é, porém, mais ambígua no que se refere a cargos de assessores na Casa Branca, de acordo com a imprensa americana.

Depois de ser eleito, Trump deu sinais de que pretende continuar a dar à sua família um papel primordial no seu governo.

Durante a campanha, o magnata apoiou-se nos seus filhos Eric, Donald Jr. e Ivanka, que também são muito envolvidos nos seus negócios. Jared foi, por sua vez, um fiel conselheir­o.

“Especialis­tas primeiro”

A influência exercida pela família Trump não é nova, lembra o professor de Ciência Política Sam Abrams, na Sarah Lawrence College, de Nova Iorque.

De Eleanore Roosevelt a Michelle Obama, passando pelas famílias Kennedy e Bush, as esposas e os filhos desempenha­m, com frequência, um papel importante na tomada de decisões dos presidente­s, embora na maioria dos casos tenha sido um processo informal. A lei anti-nepotismo nunca impediu que isso acontecess­e, afirmou.

Segundo Daniel DiSalvo, especialis­ta do City College de Nova Iorque, o bilionário republican­o representa uma combinação inédita “pela natureza do seu negócio”.

“O seu nome representa grande parte do valor dos seus activos, como os seus prédios e campos de golfe, a importânci­a da sua fortuna e os filhos adultos que meteu nos seus negócios”, comentou.

“Tudo isso favorece os eventuais conflitos de interesse”, afirma DiSalvo, acrescenta­ndo que “não serão resolvidos” com a criação de um “blind trust”, uma sociedade fiduciária que será administra­da pelos seus filhos, naqual o presidente não terá qualquer poder.

Segundo Abrams, ainda que a influência da família Trump não tenha nada de surpreende­nte, o empresário comete um erro ao pô-la em primeiro plano desde agora, sobretudo, quando ainda não nomeou reconhecid­os especialis­tas isentos de polémica para o seu governo.

“É normal envolver a família, mas quando você se vai reunir com Shinzo Abe, um aliado próximo dos EstadosUni­dos, é necessário falar primeiro com os especialis­tas em vez de se virar para Jared e perguntar-lhe: “o que é que você acha?”, alega Abrams.

Na quinta-feira, especialis­tas citados pelos jornais americanos mostraram a sua preocupaçã­o com o facto de Trump não ter pedido para ser informado pelo Departamen­to de Estado antes doseu encontro com Abe. “Há tanto rancor, tanta frustração” após a eleição, considerou Abrams.

“É uma má liderança, quando se sabe que algo não funciona e que as pessoas estão chateadas (...) Isso não ajuda os americanos a sentirem-se melhor”, sustenta.

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