Aumenta o temor pela influência da família de Trump no Governo
Ivanka Trump com o primeiroministro japonês, Shinzo Abe, e o marido Jared Kushner que quer participar das reuniões diárias sobre segurança na Casa Branca: a família de Donald Trump está omnipresente, alimentando os temores sobre os conflitos de interesse e a falta de experiência.
As fotos da primeira reunião do magnata nova-iorquino com um líder estrangeiro na quinta-feira (17) provocou uma enxurrada de tuítes de indignados simpatizantes de Hillary Clinton.
Numa delas, aparece Ivanka, sempre muito elegante, sentada com o seu pai e o primeiro-ministro japonês na Trump Tower, em Nova Iorque. Numa outra, Abe e Trump conversam, observados pelo casal Ivanka e Jared.
“Conflito de interesses é um eufemismo”, disse Matt Ortega, um executivo da campanha digital de Hillary.
“OMGOMGOMGOMGOMG” por “Oh My God” (Oh meu Deus), reagiu a revista de esquerda Mother Jones.
Citando fontes anónimas, o jornal The New York Times afirmou que Kushner consultou um advogado sobre a possibilidade de entrar para o governo do sogro.
Uma lei anti-nepotismo adoptada em 1967, depois que o expresidente John F. Kennedy nomeou o seu irmão Bobby como secretário de Justiça, proíbe - em princípio - qualquer membro da família directa, ou política, de um presidente de ter um emprego remunerado numa agência federal.
A legislação é, porém, mais ambígua no que se refere a cargos de assessores na Casa Branca, de acordo com a imprensa americana.
Depois de ser eleito, Trump deu sinais de que pretende continuar a dar à sua família um papel primordial no seu governo.
Durante a campanha, o magnata apoiou-se nos seus filhos Eric, Donald Jr. e Ivanka, que também são muito envolvidos nos seus negócios. Jared foi, por sua vez, um fiel conselheiro.
“Especialistas primeiro”
A influência exercida pela família Trump não é nova, lembra o professor de Ciência Política Sam Abrams, na Sarah Lawrence College, de Nova Iorque.
De Eleanore Roosevelt a Michelle Obama, passando pelas famílias Kennedy e Bush, as esposas e os filhos desempenham, com frequência, um papel importante na tomada de decisões dos presidentes, embora na maioria dos casos tenha sido um processo informal. A lei anti-nepotismo nunca impediu que isso acontecesse, afirmou.
Segundo Daniel DiSalvo, especialista do City College de Nova Iorque, o bilionário republicano representa uma combinação inédita “pela natureza do seu negócio”.
“O seu nome representa grande parte do valor dos seus activos, como os seus prédios e campos de golfe, a importância da sua fortuna e os filhos adultos que meteu nos seus negócios”, comentou.
“Tudo isso favorece os eventuais conflitos de interesse”, afirma DiSalvo, acrescentando que “não serão resolvidos” com a criação de um “blind trust”, uma sociedade fiduciária que será administrada pelos seus filhos, naqual o presidente não terá qualquer poder.
Segundo Abrams, ainda que a influência da família Trump não tenha nada de surpreendente, o empresário comete um erro ao pô-la em primeiro plano desde agora, sobretudo, quando ainda não nomeou reconhecidos especialistas isentos de polémica para o seu governo.
“É normal envolver a família, mas quando você se vai reunir com Shinzo Abe, um aliado próximo dos EstadosUnidos, é necessário falar primeiro com os especialistas em vez de se virar para Jared e perguntar-lhe: “o que é que você acha?”, alega Abrams.
Na quinta-feira, especialistas citados pelos jornais americanos mostraram a sua preocupação com o facto de Trump não ter pedido para ser informado pelo Departamento de Estado antes doseu encontro com Abe. “Há tanto rancor, tanta frustração” após a eleição, considerou Abrams.
“É uma má liderança, quando se sabe que algo não funciona e que as pessoas estão chateadas (...) Isso não ajuda os americanos a sentirem-se melhor”, sustenta.