Mediador acusado de sabotar negociações
GUERRA NA SÍRIA Rússia critica falta de acção para levar sírios a negociar o fim dos confrontos
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, acusou ontem o enviado das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, de sabotar as conversações de paz que visam por fim ao conflito sangrento no país.
“A ONU na pessoa do seu enviado Staffan de Mistura sabota desde há mais de seis meses a resolução do Conselho de Segurança da ONU 2254, que determinada a organização de negociações internas sírias sem condições prévias”, declarou Lavrov, citado pelas agências russas, de acordo com a agência France Presse.
Neste contexto, “os opositores patriotas e o governo sírio não têm provavelmente outra alternativa que não seja a de tomarem eles próprios a iniciativa e organizarem um diálogo interno”, sublinhou o governante russo, em declarações proferidas em Minsk, na Bielorrússia, onde se encontra em visita oficial.
A resolução 2254, adoptada pelo Conselho de Segurança daONU em Dezembro de 2015, dá instruções ao Secretário-Geral da organização para reunir os representantes do Governo sírio e da oposição para negociações oficiais sobre um processo de transição política no país, estabelecendo “o início do mês de Janeiro de 2016” para o lançamento das conversações.
De acordo com a resolução, “em seis meses”, deveria resultar de um processo político dirigido pelos sírios com o apoio das Nações Unidas “um governo credível, inclusivo e não sectário”, assim como a fixação de um calendário e as modalidades para a elaboração de uma nova constituição.
As conversações indirectas promovidas por Staffan de Mistura no final de Janeiro deste ano foram interrompidas, com a oposição a denunciar desde logo uma ofensiva militar das forças do Governo sírio com o apoio militar da Rússia no norte da Síria, que decorria ao mesmo tempo que os negociadores estavam sentados à mesa. As negociações indirectas foram retomadas em 13 de Abril em Genebra e novamente interrompidas no dia 18 desse mês, mais uma vez com a oposição a considerar inaceitável a continuação dos bombardeamentos de civis por parte do Governo em simultâneo com as conversações.
Em 27 de Abril, uma nova tentativa de sentar as partes à mesa não obteve quaisquer progressos.
Desde então, Staffan de Mistura anunciou diversas vezes estar à espera do reinício das conversações, sem que as mesmas se concretizassem. A aviação militar russa está a intervir no território sírio em apoio às forças do Presidente Bashar al-Assad desde Setembro de 2015.
Desde o início da guerra na Síria em 2011, morreram mais de 300 mil pessoas, sendo que o conflito provocou já o deslocamento de mais de metade da população do país.
Detenção de líder dos curdos
A justiça turca emitiu um mandado de detenção contra o líder do principal partido dos curdos do norte da Síria, suspeito de envolvimento num atentado à bomba em Ancara em Fevereiro, noticiou a agência Anadolu.
Salih Muslim, líder do Partido União e Democracia (PYD), é um dos 48 visados por mandados de detenção, incluindo dirigentes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como terrorista pelas autoridades turcas.
Os 48 são suspeitos de envolvimento num atentado perpetrado a 17 de Fevereiro em Ancara, com um automóvel armadilhado que explodiu à passagem de uma coluna militar e fez 28 mortos e mais de 60 feridos.
O ataque foi reivindicado na altura pelo grupo TAK (Falcões da Liberdade do Curdistão), uma facção dissidente do PKK, mas as autoridades turcas afirmaram que ele foi planeado conjuntamente pelo PKK e pela milícia do PYD.
O braço armado do PYD, também classificado pela Turquia como grupo terrorista, integra a coligação árabo-curda que combate os "jihadistas" do Estado Islâmico.