Gerónimo Neto está optimista
Treinador desafia actuais seleccionadores a superar o sétimo lugar do Mundial de França
Três vezes campeão continental, à frente da Selecção Nacional sénior feminina de andebol, Gerónimo Neto acredita na conquista do título africano da modalidade. Afastado das quadras por questões de saúde, o técnico que liderou o ASA, na conquista do único título nacional de andebol dessa agremiação, em seniores femininos, continua a participar activamente na gestão técnica da Federação Angolana de Andebol e deixa, em entrevista ao Jornal de Angola, conselhos importantes para a prova continental que vai decorrer em Luanda.
Três vezes campeão continental, à frente da Selecção Nacional sénior feminina de andebol, Gerónimo Neto estreou-se como técnico principal das Pérolas de África no CAN de 2000, realizado na Argélia. O momento era conturbado, face à saída de Beto Ferreira, o mais renomado treinador nacional e a renovação forçada do “sete” nacional. No entanto, o jovem técnico justificou plenamente a confiança em si depositada, pelo então presidente da Federação Angolana de Andebol (Faand), Hilário de Sousa. Seguiram-se dois CAN, com saldo vitorioso, em 2005 na Tunísia e, em 2008, na última prova que o nosso país organizou.
Afastado das quadras por questões de saúde, o técnico que liderou o ASA, na conquista do único título nacional de andebol dessa agremiação, em seniores femininos, continua a participar activamente na gestão técnica da Faand e deixa, nesta entrevista, conselhos importantes para a prova que se avizinha. De permeio, desafia Filipe Cruz e Edgar Neto a melhorarem o 7º lugar que conseguiu em 2007, em França, já no próximo Campeonato do Mundo, na Alemanha, pois considera que é chegada a hora de fazê-lo.
Jornal de Angola - Já sente o ambiente do CAN? Como antevê esta prova, cá em Luanda?
Gerónimo Neto
- O nosso andebol está bem e recomenda-se. Não está a morrer. Muito pelo contrário, fruto do excelente trabalho que temos realizado nos escalões de formação, despontam a cada dia que passa novos talentos que nos permitem estar no topo e com margem para subir cada vez mais. Já se Antigo seleccionador nacional acredita na reconquista do título continental sente o ambiente, mas falta mais divulgação e maior mobilização do público. As atletas devem oferecer alguns bilhetes para incentivar as pessoas a irem em peso ao pavilhão, porque é esse povo que nos vai empurrar para a vitória. É assim em casa. O público tem um carinho muito grande pela selecção de feminina de andebol e pode transformar os nossos maus momentos em bons momentos. Agora, do ponto de vista competitivo, ao nível africano, com maior ou menor dificuldade, a ideia é mesmo ganhar. Já lancei o desafio ao Filipe Cruz, para levar este espírito de vitória ao nível mundial e olímpico, a começar pelo próximo Campeonato do Mundo, no próximo ano, na Alemanha. Sem qualquer espécie de xenofobia, até porque eu próprio treinei equipas em Portugal, quero que quando o sétimo lugar for melhorado, que seja por um treinador angolano. E o Filipe garantiu que vão procurar fazer isso.
Jornal de Angola - Nestes últimos anos, Gerónimo Neto licenciou-se em Psicologia do Trabalho. Será que isso vai implicar maior distanciamento em relação ao andebol?
Gerónimo Neto
- Não. Pelo contrário. Faço parte da área técnica da federação. O director técnico é o Pina de Almeida e eu trabalho directamente com ele. Quero dar muito mais ao desporto e sinto que posso fazer isso. Para o próximo ano, para além do trabalho que realizo aqui na federação (vai haver eleições e espero que eu possa continuar), pretendo implementar um projecto de massificação do andebol e do basquetebol. Temos tudo elaborado. Poderá ser uma escola, um núcleo, enfim, pode funcionar cá, no Huambo, etc, o mais importante é desenvolver um projecto concreto que, em dois ciclos olímpicos, no máximo produza resultados concretos.
Jornal de Angola - Quais são os principais adversários de Angola neste CAN e que estratégia aconselha?
Gerónimo Neto
- Sem desprimor para outros adversários, porque todos nos merecem muito respeito, a Tunísia e a Costa do Marfim são, na minha opinião, os concorrentes principais a ter em conta. Isto porque, tal como referiu o presidente da federação, a nossa convicção na vitória é grande, mesmo reconhecendo que poderemos enfrentar dificuldades, porque os outros também estão a trabalhar. Em termos estratégicos, temos que defender com muita intensidade, para limitar as acções de ataque das nossas adversárias e forçá-las a cometer erros. A partir daí, lançamos o nosso contra-ataque e temos os nossos problemas resolvidos.
Jornal de Angola - Que recomenda, para manter os níveis de concentração das jogadoras em casa?
Gerónimo Neto
- Reitero aqui que o público é peça fundamental. É mais um jogador em campo. Acredito que, ao nível do corpo técnico, tudo está a ser feito para que as meninas estejam nas melhores condições físicas, técnicas, tácticas e psicológicas e entrem no seu máximo no CAN. Organizar esta competição pela terceira vez já é um ganho. Seria ouro sobre azul ganhá-la. Para tal, quando chegarem do estágio, as jogadoras deverão ser dispensadas para rever familiares. É um aspecto muito importante, porque elas ficaram longe dos filhos, pais, irmãos, maridos, etc. e o conforto moral que irão receber destas pessoas, antes de partirem para a batalha final, é fundamental. Depois desta dispensa, a pátria fala mais alto e elas devem, então, concentrar-se unicamente na prova. Durante a própria competição, no dia de pausa, é importante criar outros ambientes, fora da realidade desportiva, para que as jogadoras possam descomprimir.
Jornal de Angola - Falou da melhoria do nosso desempenho em Jogos Olímpicos e campeonatos do mundo. Que política devemos seguir internamente, para assegurar esta melhoria?
Gerónimo Neto
- Referi antes que, na generalidade, trabalhamos bem a formação. É importante manter isso. Entretanto, seria excelente se treinadores conceituados tornassem o seu trabalho extensivo a outras províncias que têm o andebol em fase embrionária. Se eles trabalhassem algum tempo no Huambo, Huíla, Malanje e outras províncias com muito potencial, mas um pouco adormecidas, o andebol cresceria aí, já com grande qualidade e nós só tínhamos a ganhar. Outro aspecto importante é a manutenção do equilíbrio nas competições internas. Deve, no mínimo, haver alguma paridade entre os dois principais clubes. O ideal seria ter muitos clubes fortes. Não sendo possível, pelos menos os dois principais devem ter algum equilíbrio. Nesta altura, além da Marinha, o 1º de Agosto tem os núcleos de Benguela e Cabinda. A ideia é boa e traz benefícios à modalidade. Mas, se os outros não têm capacidade de acompanhar, perdese o equilíbrio interno e a selecção vai ressentir-se disto.