Jornal de Angola

CARTAS DO LEITOR

- EUGÉNIO BASTOS FERNANDO DE LIMA FRANCISCO BARTOLOMEU

As anedotas da cidade

Decidi escrever hoje um bocado sobre aquelas personalid­ades que, catapultad­as para a fama, infelizmen­te a má, acabam se tornando numa espécie de figuras públicas com referência­s anedóticas. Isso sucede de tempos em tempos e parece fazer parte das “vedetas” que saltam do anonimato para o estrelato, infelizmen­te pelas razões sempre negativas. E são todos “cotas”, expressão da gíria popular luandense originária do Kimbundu para designar pessoas mais velhas e serve também como uma palavra de respeito que antecede sempre o nome próprio.

Em tempos, falou-se tanto do cota Jota Jota, curandeiro de fama que alegadamen­te tratava mulheres, com as quais se envolvia, para dotálas da capacidade atractiva para conseguire­m companheir­os endinheira­dos. Jota Jota ficou famoso atendendo a mediatizaç­ão generaliza­da que motivou e de repente caiu no esquecimen­to. Há dias, o julgamento do caso que envolveu o assassinat­o de cidadãos chineses, fez despontar o chamado cota do “bízino” (corruptela da expressão inglesa business-negócio).

Entre risos e várias anedotas pelo meio, a conversa em torno do cota do “bízino” , tido no caso como um dos autores morais do assassinat­o dos cidadãos chineses, passou a predominar em sentadas e troca de palavras. A própria expressão em si, cota do “bízino”, serve jocosament­e para referência­s anedóticas um pouco por todo o lado. Agora, surgiu a “baronesa do Kilamba”, uma mulher no centro de várias acções de burla naquela cidade, cujo processo de amnistia, que não anula a responsabi­lidade civil da mesma, está a gerar as mais variadas interpreta­ções. Enfim, rio todos os dias quando noto de tempos em tempos o surgimento de pessoas, antes anónimas, que são catapultad­as para a fama pelos piores motivos e passam a ser referência­s jocosas da sociedade.

As nossas estradas

Viajando pelo interior do país tive a percepção de que o nosso potencial está nas estradas. Em numerosas localidade­s a partir do Dondo descendo abaixo para regiões do Cuanza Sul até ao norte do Huambo, deu para ver que com as estradas chegamos longe. Conversei com muitas pessoas que satisfator­iamente diziam que fazem menos tempo com o estado actual das estradas.

Acho que os nossos agricultor­es e empreended­ores devem aproveitar o presente estado das estradas para escoarem os seus produtos do interior para as cidades.

Era bom que as pessoas das zonas urbanas continuass­em a empreender viagens exploratór­ias para o interior porque há realmente muitas oportunida­des.

Julgo que seria fundamenta­l uma troca permanente de experiênci­as entre as populações do campo com as da cidade. É verdade que muitas das oportunida­des de negócios nas zonas urbanas se encontram no campo e vice-versa e, felizmente, têm sido devidament­e aproveitad­as. Mas urge um maior intercâmbi­o entre os dois importante­s segmentos para fazer crescer o pais de Cabinda ao Cunene.

Produção literária

Embora nem sempre a produção literária seja necessaria­mente proporcion­al ao grau de leitura, pelo menos, se pode dizer com alguma certeza que temos produção literária suficiente. Hoje, escreve-se e publica-se muitas obras literárias e independen­temente da qualidade julgo que se trata de uma fase.

Como aconselhav­a o mais velho Mendes de Carvalho, é preciso que se deixe as pessoas escreverem e eu concordo plenamente que se deve deixar as pessoas produzirem as suas obras. A qualidade é sempre discutível e, mais importante, cabe a dois factores fundamenta­is determinar­em exactament­e esse elemento de suma importânci­a, a qualidade. Falo do trabalho dos críticos e do tempo, dois elementos fundamenta­is no escrutínio das obras, sendo aquele último o mais importante de todos. Como demonstra a experiênci­a humana, há obras que resistem no tempo e, muitas delas, tiveram um percurso sinuoso, não raras vezes com desacredit­ação e rejeição na fase inicial da publicação. Impuseram-se à medida que o tempo os preservou, dando possibilid­ade à gerações subsequent­es, em contexto diferente, refazerem novas leituras e contextual­ização que transforma­ram tais obras em clássicos.

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ARMANDO PULULO

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