Jornal de Angola

ONU condena proposta da União Europeia

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Um grupo de relatores da ONU advertiu à União Europeia sobre o apoio do bloco a um “sistema para devolver migrantes para onde estes possam estar sujeitos à tortura e a tratamento­s cruéis, desumanos ou degradante­s.”

O apelo foi feito após a reunião de Chefes de Estado e de Governo do bloco europeu realizada em Valeta, na Ilha de Malta, na qual foram discutidas novas medidas sobre movimentos migratório­s, que incluem uma maior cooperação com a Líbia.

Os especialis­tas defendem que, pelas suas condições, a Líbia “não pode ser um porto de desembarqu­e” e que medidas como aumentar a segurança e encerrar fronteiras “apenas contribuem para aumentar o sofrimento dos que chegam aos limites da Europa e os empurra para as mãos de contraband­istas.”

Sobre as propostas de Bruxelas, alegadamen­te destinadas a reforçar capacidade­s e a formar guardas líbios em operações de busca e de salvamento, controlar as fronteiras e prevenir novas rotas de migração em maior cooperação com Estados do norte de África, os relatores mas manifestam “profunda preocupaçã­o”, porque “migrantes que tentam fugir de violações dos direitos humanos seriam abandonado­s nas mesmas condições, o que violava o princípio que proíbe que sejam devolvidos.”

Para os relatores da ONU, qualquer compromiss­o com “países terceiros” deve respeitar as normas internacio­nais de direitos humanos. “Os Estados-membros da União Europeia não podem falhar na sua responsabi­lidade e devem prestar contas por qualquer violação dos direitos humanos em relação ao possível acordo”, prosseguem. Para os relatores, limitar os pontos de partidas à costa líbia “significa simplesmen­te aceitar e legitimar o sofrimento humano que continua no país.” Outro perigo da decisão, alertam, consiste em devolver os migrantes para “condições em que sofrem prisão arbitrária, tortura, maus tratos, homicídios ilegais, tráfico e desapareci­mento forçado.”

A recomendaç­ão dos relatores é que Bruxelas dê mais recursos para ajudar os migrantes em perigo no mar e, que no desembarqu­e, estes “tenham informaçõe­s, cuidados e apoio” no andamento dos processos de asilo “de forma equitativa.” O Fundo da ONU para a Infância, Unicef, estima que 190 crianças morreram nos últimos três meses a tentar atravessar a rota do Mediterrân­eo. Entre a Líbia e a Itália, 1.191 pessoas perderam a vida, 13 vezes mais casos fatais do que no mesmo período entre 2015 e 2016.

“Avanço político”

O enviado especial do Secretário­Geral da ONU para a Líbia, Martin Kobler, disse acreditar no alcance de um avanço político” no país este ano, ao apresentar ao Conselho de Segurança, na semana passada, num debate, o seu mais recente relatório sobre a nação africana.

O também mediador do diálogo explicou que o sentimento é de que a produção do petróleo aumentou e que o combate ao terrorismo teve sucesso “pelo menos, com a derrota do Estado Islâmico” no país, mas sublinhou que entre os vários desafios estão dúvidas sobre a emenda do acordo político na forma como este se apresenta.

Martin Kobler considerou satisfatór­io o “consenso crescente” dos últimos dois meses em áreas como o acordo político e o apoio dos países s vizinhos para consolidar as mensagens em prol da paz, segurança e prosperida­de e pediu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a comunidade internacio­nal sejam unânimes quanto à Líbia, para que “não haja brechas e todos sigam o caminho do processo político para encorajar os cidadãos nacionais a prosseguir o diálogo.”

Guarda Nacional líbia

Entretanto, os EUA manifestar­am “profunda preocupaçã­o” pelo surgimento de uma nova força paralela designada Guarda Nacional em Tripoli, por considerar­em que o desdobrame­nto de engenhos e veículos armados “vai entravar a segurança e a estabilida­de na capital líbia.”

Grupos armados pertencent­es ao “Governo de Salvação”, gabinete paralelo liderado por Khalifa alGhoueil, anunciaram na semana passada a sua fusão na formação de uma nova força militar denominada “Guarda Nacional líbia”, órgão paralelo às forças do Governo de União Nacional, reconhecid­o pela Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e as potências ocidentais como o legítimo da Líbia.

Em comunicado, o Departamen­to norte-americano de Estado refere que o desdobrame­nto destes engenhos armados “vai agravar a já frágil situação de segurança em Tripoli” e pede aos líbios para trabalhare­m para a construção “de uma força militar nacional unificada sob a direcção civil, capaz de garantir a segurança para todos os líbios e na luta contra os grupos terrorista­s.”

A fragmentaç­ão e a falta de coordenaçã­o entre as forças líbias, conclui o documento, só pode beneficiar o Estado Islâmico e outros grupos terrorista­s que buscam explorar a Líbia e os seus recursos”.

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MAHMUD TURKIA|AFP Relatores advertem União Europeia que devolver migrantes à Líbia significa aceitar e legitimar o sofrimento humano que continua no país

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