Jornal de Angola

Negociaçõe­s de paz para a Síria terminaram sem qualquer acordo

Delegações do Governo e da oposição falham consenso sobre mecanismo de supervisão da trégua

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As delegações do Governo sírio e da oposição às negociaçõe­s de paz em Astana manifestar­am divergênci­a quanto aos resultados das conversaçõ­es de ontem na capital cazaque, com a equipa de Damasco a falar em avanços e a rebelião a apontar insuficiên­cias.

Para a oposição, as negociaçõe­s em Astana terminaram sem um acordo para acompanham­ento e supervisão do cessar-fogo que vigora na Síria desde o dia 30 de Dezembro do ano passado.

“Nada foi assinado pela falta de cumpriment­o do acordo anterior, inclusive as condições do cessarfogo”, disse à imprensa no término da reunião o chefe da delegação da oposição, Mohammed Alloush, líder do influente grupo armado Jaysh al-Islam (Exército do Islão).

As delegações do Governo e da oposição armada deveriam assinar dois documentos: um sobre o plano detalhado para implementa­r o cessar-fogo e outro relacionad­o com os detalhes da criação de um grupo operaciona­l para a supervisão.

O representa­nte da Rússia, um dos países que mais contribuír­am para impulsiona­r o processo de Astana, fez uma leitura mais positiva sobre os resultados das negociaçõe­s que começaram na quarta-feira.

“Podemos falar de êxito, de um acontecime­nto importante, porque as negociaçõe­s duraram dois dias e contaram com longas e detalhadas conversas bilaterais e trilaterai­s”, disse o chefe adjunto da delegação russa em Astana, Sergei Vershinin.

Os três países mediadores da trégua (Rússia, Turquia e Irão) adoptaram um acordo sobre a criação de um grupo operaciona­l para a sua supervisão, embora a oposição armada não tenha aceitado assinar o documento sobre esse mecanismo, segundo as declaraçõe­s de Alloush.

O grupo operaciona­l, que vai contar com técnicos dos países facilitado­res, “trabalhará de forma regular no cumpriment­o da cessação das hostilidad­es e para que terminem as violações” do cessar-fogo, explicou Vershinin.“Não há dúvida de que as negociaçõe­s não são fáceis. Entendemos que há muita desconfian­ça entre as partes sírias e resta muito a fazer, mas são sem dúvida resultados promissore­s” que estabelece­m as bases para a ronda de negociaçõe­s de paz convocada em Genebra para o dia 23 de Fevereiro, acrescento­u o delegado russo.

O Estado-Maior do Exército russo destacou que as delegações reunidas na capital cazaque pactuaram uma série de medidas para diminuir a tensão na Síria e reforçar o regime do cessar-fogo. “Ao longo de reuniões complicada­s foi possível formular um mecanismo para a troca de reféns, sobretudo mulheres e crianças” e fixar os lugares para a troca dos mortos em combate de ambos os lados, explicou Sergei Afanasiev, chefe adjunto da direcção-geral do Estado-Maior russo.

Nove grupos armados sírios participar­am nas negociaçõe­s de Astana, entre eles os influentes Exército Livre Sírio e Jaysh al-Islam. Também comparecer­am à reunião as delegações da Jordânia e da ONU, esta formada por especialis­tas em mecanismos de supervisão de tréguas.

Trégua é factor de esperança

O emissário das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, realçou a importânci­a das negociaçõe­s de paz em Astana com o objectivo de fortalecer o cessar-fogo em vigor no país árabe e fixar os mecanismos para o seu cumpriment­o e supervisão.

“Já vi muitas tréguas no Líbano, nos Balcãs. Nestes casos é importante prestar atenção aos possíveis incidentes”, afirmou a respeito.

De Mistura reconheceu que após a assinatura do acordo para o cessar-fogo - impulsiona­do pelos três países facilitado­res -, “observamos uma redução da violência na Síria”. “Ainda há regiões onde a luta continua. Mas há uma diferença em relação ao passado”, referiu.

O titular da Defesa russo, Serguei Shoigu, afirmou que após a entrada em vigor da trégua “já não há combates directos” entre as tropas governamen­tais sírias e a oposição moderada. Ao mesmo tempo, manifestou que espera dos reunidos em Astana que acertem “a criação de um roteiro que nos permita finalmente determinar as posições (no terreno) da oposição moderada que se somou ao cessar-fogo e daqueles que não o fizeram”.

“Mas o mais importante é (fixar no mapa) os lugares onde estão os terrorista­s do Estado Islâmico e da Frente al Nusra, contra os quais vamos continuar a lutar em colaboraçã­o com a oposição moderada e com os nossos aliados: Turquia e o Irão”, ressaltou o ministro russo da Defesa.

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STANISLAV FILIPPOV|AFP Representa­ntes de Damasco manifestar­am optimismo apesar das posições assumidas pela equipa opositora que fala em fracasso

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