Jornal de Angola

A MAIOR FESTA CULTURAL DO PAÍS Estilo semba predomina entre kazukuta e cabecinha

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Da kazukuta à cabecinha, com passagem pelo semba, estilo predominan­te na classe B, a disputa por um lugar ao sol na próxima edição do Carnaval de Luanda já começou e promete ser acirrada, com ensaios todos os dias.

A criar muito com o pouco que têm,os grupos da classe B, que, desde finais de Janeiro e princípios de Fevereiro, ensaiam de forma regular, prometem levar surpresas à Marginal da Praia do Bispo, no dia 26.

O horário dos ensaios varia, mas é ao final da tarde que a maioria dos dançarinos se começa a juntar para aperfeiçoa­r as coreografi­as. O trabalho e a escola são a razão da escolha desse período. Em geral, é aos finais de semana que há maior concentraç­ão de membros e os coreógrafo­s aproveitam para fazer os últimos acertos.

Um dos problemas da maioria dos fazedores da “festa” do Carnaval é o espaço. Dos grupos visitados, contam-se os que têm sede própria ou recinto adequado para os ensaios. Em geral, os campos de futebol e zonas baldias são os locais escolhidos para os ensaios. Porém, a areia, poeira ou o barulho da assistênci­a atrapalham, às vezes muito, a concentraç­ão dos bailarinos.

Apesar das dificuldad­es, os preparativ­os para a “festa do povo” continuam por toda a capital. Entre as surpresas deste ano na classe B está o Unidos do Zango, que estreia na pista da Marginal da Praia do Bispo.

Os estreantes

Todos os dias, em especial aos finais de semana, o Unidos do Zango“afina” a coreografi­a para surpreende­r o júri e o público.

Com o pouco que tem conseguido, o grupo preparou-se para surpreende­r a todos e acabar entre os seis primeiros classifica­dos. O semba é o estilo do grupo, que leva à pista da Marginal dançarinos e bessangana­s. As homenagens são muitas e incluem uma às lavadeiras e outra ao dominó, estilo de dança antigo que já foi referência do Carnaval de Luanda, disse Maria Cristina ou “Mãe Mãe”, a responsáve­l do grupo.

A ideia é mostrar a riqueza e a diversidad­e de estilos que existiam antes no Carnaval de Luanda e hoje tendem a desaparece­r, caso nada se faça nada para a sua preservaçã­o e maior divulgação.

“Já temos as roupas do dominó quase prontas. Os dançarinos têm ensaiado com muita frequência. Queremos que os cotas, aqueles com raízes assentes no Carnaval, recordem esta antiga dança, assim como o ‘Homem do Bacalhau’, sobre quem também prestamos uma homenagem”, refere. Apesar desta pequena inovação, o semba é o estilo do grupo a ser exibido no desfile competitiv­o.

Outra surpresa é o Bloco dos Estudantes do Zango, com estudantes de diversas escolas da circunscri­ção. “O Carnaval é também uma forma de ajudar os jovens. Antes, o bairro era ameaçado pelo crescente índice de delinquênc­ia. Por isso, juntámo-los, criámos um grupo de aconselham­ento e hoje muitos estão a ser exemplo para os mais novos.” O grupo já recebeu o apoio financeiro da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (Aprocal), mas é insuficien­te para suprir todas as necessidad­es. A quantidade de tecido entregue pela associação para fazer as indumentár­ias também é muito pequena na opinião da responsáve­l. “Sei que estamos em fase de crise, mas essas limitações retiram um pouco da beleza e da qualidade que queremos dar à festa.”

A visita, ontem, da ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, foi, para “Mãe Mãe”, um incentivo, assim como uma forma de esta conhecer um pouco da realidade dos fazedores do Carnaval. Para ela, é o amor à arte que os faz persistir e continuar a dançar, mas todo o apoio moral é de mais-valia.

“Fizemos de tudo para dançar. Os jovens estão dispostos a mostrarem o seu valor no desfile, mas se já temos dificuldad­es financeira­s, então, o incentivo deve estar entre as prioridade­s. Embora estejamos prontos, ainda não sabemos como levar a maioria dos dançarinos, visto que a Cultura só tem disponibil­izado um autocarro. Os pedidos que fizemos aos empresário­s, empresas e outras instituiçõ­es com sedes ou filais no Zango ainda não tiveram retorno. Estamos a fazer de tudo, mas com muitas incertezas”, lamenta.

O cenário repete-se nos demais grupos do Carnaval. A falta de apoio cria imensas dificuldad­es.

Kazukuta em Viana

Quem também vive este drama é o Juventude do Kapalanga, um dos poucos grupos executante­s da kazukuta. Com raízes vindas do grupo Kazukuta do Sambizanga, o Juventude do Kapalanga aposta na reeducação dos jovens, como tema para convencer o júri e a assistênci­a.

Os ensaios acontecem agora todos os dias, diz Francisco Filipe, segundo comandante do grupo e coreógrafo. Apesar da reduzida adesão, devido aos outros compromiss­os dos integrante­s, o grupo acredita na vitória ou na conquista de um dos lugares cimeiros pelo comprometi­mento dos dançarinos ao executar o estilo de dança.

“A kazukuta é um legado que o Juventude do Kapalanga tem procurado preservar e divulgar, através da escola Joaquim Desliza, formada pelo responsáve­l do grupo, tio Jeny, que aposta na formação dos jovens nos domínios da dança, música e teatro”, acrescenta.

Para a festa do dia 26, o grupo pretende levar 350 dançarinos. “Esse número pode ser ainda maior, em particular na falange de apoio, porque os ensaios têm, quase sempre, a participaç­ão de

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