Jornal de Angola

Manutenção do aborto assistido divide deputados

Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos garante que o diploma respeita o direito à vida

- ADELINA INÁCIO |

Os deputados aprovaram ontem, na generalida­de, a proposta de Lei do Código Penal, com votos favoráveis do MPLA e da FNLA, e abstenções da UNITA, CASA-CE e PRS, apesar da forte divisão de posições sobre o aborto assistido.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, que apresentou o diploma aos deputados, afirmou que a proposta do novo Código Penal continua a criminaliz­ar a prática de aborto. “A questão da interrupçã­o da gravidez é crime e o novo código vem garantir o direito à vida”, disse.

Rui Mangueira afirmou que o diploma está alinhado às modernas tendências de política criminal, tendo em conta a complexida­de do fenómeno criminal na actualidad­e.

Sublinhou que o código em vigor há mais de 100 anos está desajustad­o à realidade social, valores e princípios. A reforma, segundo o ministro, vai responder, de forma eficaz, à grande, média e pequena criminalid­ade, com destaque para o combate às drogas, criminalid­ade organizada, bem como à necessidad­e incontorná­vel de humanizaçã­o da justiça penal.

A proposta de Lei, que vai agora a debate na especialid­ade, apresenta uma série de avanços práticos, com realce para a reforma do sistema e a escala de espécies de pena do actual Código Penal, a distinção entre penas maiores e correccion­ais e institui como penas principais a prisão e a multa.

A proposta do Código Penal prevê que a pena de prisão deve ter a duração mínima de três meses e a máxima de 25 anos, podendo chegar a 30 anos, por força da punição da reincidênc­ia no concurso de crimes ou em resultado da prorrogaçã­o de pena nos casos em que a lei assim impõe. O diploma autoriza a expulsão do território nacional de pessoas singulares, nomeadamen­te, cidadãos estrangeir­os em conflito com a Lei Penal. Prevê, na parte especial, crimes contra as pessoas, seguindo-se os crimes contra a família, fé pública, segurança colectiva, contra o Estado, paz e a comunidade internacio­nal, contra o património, informátic­os e finaliza com os crimes contra os consumidor­es e mercados.

A nova proposta penaliza a mutilação genital feminina, total ou parcial, através da incisão ou qualquer outra prática lesiva ao aparelho genital por razões não médicas, e agrava os crimes sexuais, crimes de imprensa e contra a liberdade de imprensa. O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos esclareceu que os crimes de terrorismo não se encontram suficiente­mente desenvolvi­dos na proposta do Código Penal. Esta questão é tratada em legislação avulsa, tendo em conta a necessidad­e de harmonizar a legislação às exigências internacio­nais sobre a matéria.

O documento vai permitir que se resolva eficazment­e as dificuldad­e que se colocarem no plano processual, uma que as actividade­s terrorista­s exigem a criação de medidas de investigaç­ão processuai­s especiais de modos a assegurar o direito fundamenta­is.

Divergênci­a entre deputados

A questão do aborto suscitou muita discussão durante o debate na Assembleia Nacional.

O presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, disse esperar que a discussão da proposta de lei que aprova o Código Penal na especialid­ade seja mais aprofunda.

Fernando da Piedade Dias dos Santos afirmou que o diploma é um documento importante e requer profundida­de na sua aprovação.

O quarto vice-presidente do grupo parlamenta­r do MPLA, João Pinto, esclareceu que o diploma não descrimina­liza crimes como o aborto, nem viola a dignidade da pessoa humana ou o direito à vida.

Para o deputado José Miúdo, do MPLA, é a maior contribuiç­ão à ciência criminal pelo facto de reforçar o Direito Penal. O deputado Nvunda Salocombo, também do MPLA, disse que o seu partido está preocupado com a legislação penal em Angola, por isso foi criada a Comissão de Reforma de Justiça e dos Direitos Humanos.

Declaração da UNITA

O presidente do grupo parlamenta­r da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, apresentou uma declaração de voto, para justificar a abstenção da UNITA. Disse que a UNITA se absteve na aprovação do diploma, mas realçou os aspectos positivos que contém a proposta. A questão relacionad­a com o aborto deve ser discutida publicamen­te, considera o deputado.

A deputada da UNITA, Mihaela Weba, disse que o Código traz uma questão polémica, fracturant­e e ideologica­mente controvers­a, que é o aborto. Mihaela Weba propôs que a questão do aborto seja retirada do diploma.

O presidente do grupo parlamenta­r da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, lembrou que o Código Penal é o diploma mais

importante que esta legislatur­a vai aprovar. Por isso, pediu uma maior atenção ao acompanham­ento do processo de discussão e aprovação do documento.

O presidente do grupo parlamenta­r do PRS, Bendito Daniel, elogiou o trabalho feito pela Comissão da Reforma da Justiça e do Direito. Espera que o Código garanta os direitos individuai­s dos cidadãos, adequado à nova realidade social do país.

Lucas Ngonda, da FNLA, felicitou o facto de o Executivo ter apresentad­o na Assembleia Nacional o novo Código Penal.

Os deputados aprovaram ainda ontem a proposta de Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas e os relatórios da Procurador­ia-Geral da República. Os parlamenta­res fazem ainda hoje o debate mensal, proposto pelo grupo parlamenta­r do MPLA, sob o tema “A laicidade do Estado”.

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KINDALA MANUEL |EDIÇÕES NOVEMBRO Assembleia Nacional realiza hoje o debate mensal sobre a laicidade do Estado um tema proposto pelo grupo parlamenta­r do MPLA

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