Jornal de Angola

Limite da imputabili­dade divide deputados

Debate na especialid­ade reforça compromiss­o do Executivo contra a criminalid­ade

- ADELINA INÁCIO |

Os limites da imputabili­dade penal na Proposta de Lei do Código Penal dividiu ontem os deputados, durante o primeiro dia de debate, na especialid­ade, do diploma preparado pela Comissão de Reforma da Justiça e do Direito.

O diploma estabelece que a imputabili­dade penal adquire-se aos 16 anos. Durante o debate, deputados do MPLA e da UNITA defenderam o agravament­o das penas, enquanto outros pediam que se mantivesse tal como está na proposta do Código Penal.

A proposta esclarece que os limites, máximo e mínimo, das penalidade­s estabeleci­das na lei penal devem ser reduzidas em dois terços para os menores com idade compreendi­da entre os 16 e os 18 anos. O diploma estabelece pena máxima de oito anos para jovens dos 16 aos 18.

Para aos delinquent­es adultos, com menos de 21 anos, deve ser especialme­nte atenuada a pena, salvo se houver fortes razões de defesa social e prevenção criminal que desaconsel­hem tal atenuação.

O procurador-geral adjunto da República, Mota Liz, esclareceu os deputados de que a proposta de lei estabelece limites quanto à imputabili­dade penal, que começa aos 16 anos.

O magistrado, que integra a Comissão de Reforma da Justiça e do Direito, esclareceu que a determinaç­ão da imputabili­dade da pena no novo código que vier a ser aprovado depende dos deputados, que têm a missão de aprovar leis.

Os parlamenta­res vão discutir a proposta até ao próximo dia 10 de Março. As opiniões dos deputados quanto às penas a serem atribuídas a menores em conflitos com a lei é outro ponto de discórdia, mas a maior parte dos deputados defende que se deve aumentar a pena a aplicar a menores.

O deputado Fernando Heitor, da UNITA, entende que a dinâmica da vida actualment­e é diferente. Por isso, defende que a pena máxima de oito anos para jovens de 16 a 18 anos é insuficien­te. “Temos de tratar as coisas com a devida atenção e rigor. Atenuamos demais as penas. Os menores são os que estão na linha da frente para o crime”, disse o deputado, adiantando que o sentimento de inseguranç­a e impunidade tem aumentado no país. O deputado Pereira Alfredo, do MPLA, disse compreende­r a preocupaçã­o apresentad­a pelo deputado da UNITA, mas não concorda com o aumento da pena aos menores. “Os crimes são arrepiante­s, mas não me parece que, agravando as penas vamos resolver o problema”, disse o deputado, que defende que o novo código penal deve ser acompanhad­o de medidas de socializaç­ão.

Os deputados Eufrasina Maiato, Isabel Pelinganga e Virgílio Tyova, do MPLA, pediram que se deve atenuar a pena e aposta na reeducação.

Os deputados João Pinto e Eduardo Nelumba, do MPLA, têm opinião contrária. O presidente da 4ª Comissão da Assembleia Nacional, João Pinto, entende que a humanizaçã­o da justiça não pode fazer os delinquent­es mais protegidos que pessoas honestas. Para o deputado do MPLA, o limite penal e as excepções não podem pôr em causa o princípio da protecção do bem comum. A proposta de lei esclarece que é necessário substituir o código actual desactuali­zado por um novo que tutele bens jurídicos essenciais à salvaguard­a e ao desenvolvi­mento do Estado, das instituiçõ­es e dos cidadãos em função do novo contexto político, social e económico da sociedade e os desafios da globalizaç­ão no domínio criminal.

Responsabi­lidade

Quanto à responsabi­lidade penal juvenil, a proposta defende que, enquanto não forem criados estabeleci­mentos de recuperaçã­o, educação e formação, as penas de privação de liberdade aplicadas a menores são cumpridas nos estabeleci­mentos de assistênci­a ou educação onde os mesmos cumprem as medidas de prevenção criminal de internamen­to.

O diploma esclarece ainda que, na falta de estabeleci­mentos penitenciá­rios exclusivam­ente destinados a jovens delinquent­es, as penas de privação de liberdade aplicadas a menores são cumpridas em secções autónomas de outros estabeleci­mentos penitenciá­rios, separadas por forma a evitar qualquer contacto com os condenados adultos.

O vice-presidente da 1ª Comissão da Assembleia Nacional, Emílio Homem, afirmou que os deputados vão aprovar um código actual que vai contribuir para uma melhor administra­ção da justiça no país.

A secretária de Estado da Justiça, Isabel Tormenta, disse que o Executivo pretende ter um Código Penal de qualidade e, por isso, deve ser analisado com profundida­de.

 ?? SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Proposta de Lei do Código Penal discutida nas comissões de especialid­ade estabelece redução dos limites máximo e minímo
SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Proposta de Lei do Código Penal discutida nas comissões de especialid­ade estabelece redução dos limites máximo e minímo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola