Jornal de Angola

Crianças são mais afectadas por problemas auditivos

No continente africano mais de quatro por cento da população vive com esta deficiênci­a

- DOMIANA N’JILA|

As crianças são as mais afectadas por problemas de audição, a maior parte das quais com casos de otites médias. No Dia Mundial da Audição, que hoje se assinala, a otorrinola­ringologis­ta Gilma Ferreira pede que se tenha maior atenção a este órgão muito sensível.

Médica do Hospital Josina Machel, em Luanda, Gilma Ferreira explicou que as otites muitas vezes ocorrem em função da saturação do ouvido por causa de uma gripe, mudanças bruscas de temperatur­a e problemas de inflamação das vias respiratór­ias superiores.

A especialis­ta falou da aparição de corpos estranhos como o feijão, papel, bolinhas, botões e até mesmo de pontas de lápis em ouvidos de crianças. Já os adultos, em patologias agudas, os casos de otites também aparecem, mesmo sendo mais frequente em crianças. “Existem adultos que já tiveram otite em criança, então torna-se crónica e tem aquelas recorrênci­as”.

Por isso, alertou que ao tomar banho, não se deve deixar entrar água nos ouvidos e evitar constipar-se frequentem­ente.”.

Afirmou que existem casos em que o doente pode perder de imediato a audição, quando a situação não teve o devido tratamento por parte do doente.

Os discos jóqueis, serralheir­os e militares são mais propensos a ter problemas de audição, por estarem constantem­ente expostos ao som excessivo. A estes, a especialis­ta aconselha a fazer o uso de protectore­s auriculare­s.

Uma outra categoria de profission­ais expostos a este riscos são os mergulhado­res. A médica entende que devem evitar mergulhar constantem­ente, porque o organismo tem de se restabelec­er. Para proteger o ouvido, a médica aconselha evitar a exposição do ouvido aos sons agudos, o uso constante de auriculare­s, não deixar entrar água nos ouvidos enquanto tomamos banho, não limpar os ouvidos com cotonetes.

Directora regional

Este ano, o Dia Mundial da Audição centra-se no impacto económico da perda de audição e decorre sob o lema “Agir contra a perda auditiva: um investimen­to que soa bem”. Cerca de 360 milhões de pessoas ou seja cinco por cento da população mundial vivem com deficiênci­a auditiva incapacita­nte, sobretudo nos países de rendimento baixo e médio. Numa mensagem por ocasião da data, a directora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, afirma que a perda auditiva ignorada traz um custo elevado à economia mundial.

A OMS estima que os custos ascendam anualmente a 750 mil milhões de dólares, o que equivale à despesa anual conjunta com a saúde do Brasil e da China ou ao produto interno bruto dos Países Baixos.

Em África, cerca 4,5 por cento da população vivem com esta deficiênci­a invisível que, frequentem­ente, passa despercebi­da.

A mensagem refere que perda auditiva tem múltiplas causas, incluindo complicaçõ­es à nascença, infecções no ouvido, exposição a barulho excessivo e envelhecim­ento. A inacção tem um custo elevado. No continente, excluindo o custo dos aparelhos auditivos, a perda auditiva grave ignorada custa mais de 20 mil milhões de dólares por ano, com cerca de dois mil milhões a dever-se à perda de produtivid­ade resultante de desemprego e de reforma antecipada.

A perda da audição também tem um custo social significat­ivo em virtude do isolamento social, das dificuldad­es de comunicaçã­o e do estigma, estimado em mais de 13 mil milhões de dólares por ano a nível regional.

Nas crianças, refere a mensagem, a perda de audição pode ter influência na fala e na aquisição linguístic­a, afectando considerav­elmente o desempenho escolar e levando à exclusão. Além disso, a produção mundial de aparelhos auditivos é totalmente inadequada e, nos países de rendimento baixo e médio, menos de uma em 40 pessoas que precisam de um aparelho auditivo o consegue.

Estes países também têm poucos recursos humanos para os cuidados auditivos, tais como otorrinola­ringologis­tas, audiologis­tas e educadores para crianças surdas, pois estes se encontram concentrad­os nos países de rendimento alto e médio-alto.

Ao comemorar-se o Dia Mundial da Audição, Matshidiso Moeti lança um apelo a todos os países e parceiros para afectarem os recursos adequados para fazer face à perda de audição e integrarem os cuidados auditivos nos sistemas de saúde, de modo a melhorar-se a prevenção e a detecção precoce.

“É preciso desenvolve­r as capacidade­s dos recursos humanos, para tornar estes serviços mais equitativo­s na região africana e aumentar a conscienci­alização na sociedade para garantir que ninguém seja excluído”, refere a mensagem da directora regional da OMS.

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EDUARDO PEDRO|EDIÇÕES NOVEMBRO Hospital Josina Machel em Luanda recebe todos os dias vários casos e especialis­tas aconselham a evitar a exposição do ouvido a sons agudos

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