Alain Juppé admite concorrer caso Fillon desista da corrida
O ex-primeiro-ministro francês e actual presidente da Câmara de Bordeaux, Alain Juppé, assegurou a amigos que está disposto a substituir o candidato conservador à presidência francesa, François Fillon, caso este desista da corrida eleitoral.
O antigo rival de Fillon nas primárias da centro-direita afirma que se mantém fiel ao actual representante do seu partido, mas que aceitaria ocupar o posto se for preciso, informaram ontem meios de comunicação social franceses.
“O pedido não pode vir somente do povo que me apoiou. Tem que ser mais amplo”, disse, segundo declarações recolhidas pelo jornal “Le Parisien”.
Juppé, vencido por Fillon na segunda volta do pleito interno da centro-direita, conta entre outros com o apoio do também ex-aspirante JeanFrançois Copé, que segundo esse meio “actua em segredo” para o ajudar a conseguir os 500 apadrinhamentos de cargos públicos necessários para validar uma candidatura.
As deserções na campanha de Fillon e as dúvidas sobre a idoneidade da sua candidatura dispararam nesta semana, depois de este anunciar que os juízes de instrução o notificaram a comparecer no dia 15 visando uma eventual acusação.
Fillon, que hoje deve apresentar o seu programa político à sociedade em Aubervilliers, a norte de Paris, reiterou nas últimas semanas que não vai renunciar caso seja acusado de ter atribuído supostos empregos fictícios à sua mulher e a dois dos seus cinco filhos. O candidato espera reunir 200 mil pessoas numa manifestação em defesa da sua candidatura que foi convocada para domingo na praça de Trocadero, diante da Torre Eiffel.
O cerco judicial na França em torno do conservador François Fillon apertou quinta-feira, com uma busca policial na residência do candidato presidencial, enquanto o seu adversário de centro, Emmanuel Macron, completava a apresentação do seu programa. Fillon retomou a campanha eleitoral numa tentativa de superar a enorme crise que envolve os supostos cargos fantasmas ocupados pela mulher e filhos. A Polícia vasculhou a sua residência em Paris, como parte da investigação.
A busca envolveu o apartamento de Fillon num elegante bairro da capital, informou uma fonte ligada à campanha do candidato conservador. Paralelamente, o Parlamento Europeu decidiu suspender a imunidade da candidata de extrema direita e líder da Frente Nacional (FN), Marine le Pen, que está a ser investigada por outro juiz, por divulgar nas redes sociais imagens de execuções do grupo jihadista Estado Islâmico.
Macron soma e segue
O candidato de centro, Emmanuel Macron, completou na quinta-feira a apresentação do seu esperado programa, enquanto se firma como favorito para a eleição de Abril. As últimas sondagens colocam Macron, de 39 anos, como o favorito para enfrentar e vencer numa segunda volta, em 7 de Maio, a candidata de extremadireita Marine le Pen.
Macron, acusado de ser muito vago nas suas propostas, descreveu as suas medidas sociais e políticas que misturam propostas capazes de convencer os eleitores de todas as tendências, como havia feito com o seu programa económico, no qual apontou rigor e investimentos. “Reconciliamos com este projeto a liberdade e a protecção”, afirmou Macron ao apresentar o seu “contrato-promessa com os franceses” diante de mais de 300 jornalistas.
“A França é um país irreformável. Mas não propomos reformá-lo. Propomos uma transformação completa”, disse.
Macron promete reformar o sistema de aposentação, para estabelecer regras idênticas para os funcionários públicos e privados. Mas o seu projecto não modifica a idade mínima legal para a reforma. Também propõe uma “discriminação positiva” para que os habitantes dos subúrbios pobres consigam ter acesso a empregos.
Em relação aos pedidos do seu novo aliado do centro, François Bayrou, o programa de Macron prevê a redacção de uma “grande lei de moralização da vida pública” que proibiria os parlamentares de empregar parentes “para colocar fim ao nepotismo.”
Um golpe directo contra Fillon, 62 anos, que começou em Novembro a sua campanha como o grande favorito para as próximas eleições e que agora se encontra no terceiro lugar devido ao escândalo dos cargos fantasmas.
Marine le Pen
O Parlamento Europeu aprovou na quinta-feira a retirada da imunidade parlamentar da candidata de extrema direita à Presidência francesa, Marine le Pen, a pedido da Justiça, que a investiga por divulgar em 2015 imagens de atrocidades cometidas pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
“Acredito que o resultado esteja claro. Uma grande maioria votou a favor da retirada da imunidade”, declarou o eurodeputado da extrema esquerda Dimitrios Papadimulis, que presidiu os debates na sede do Parlamento, em Bruxelas.
Depois de abrir uma investigação pela “divulgação de imagens violentas” em Dezembro de 2015, a Procuradoria da região de Nanterre reivindicou a revogação da sua imunidade.
Se for processada e considerada culpada, a candidata da Frente Nacional pode ser condenada a até três anos de prisão, além de ter de pagar uma multa de 75.000 euros.
Em resposta a um jornalista que estabeleceu uma relação entre seu partido e o EI, Le Pen publicou no Twiter três imagens que mostravam um homem com um uniforme laranja debaixo de um tanque, outro vestido da mesma forma a ser queimado numa jaula e o corpo decapitado do refém americano James Foley.
Antes da votação, Le Pen voltou a justificar a sua atitude em declarações à imprensa francesa. “Sou deputada e estou a cumprir o meu papel quando denuncio o Daesh [acrônimo árabe do EI]”, assegurou a parlamentar, denunciando o que chamou de “investigação política.”