Jornal de Angola

Empresa belga implanta microchips em funcionári­os

“NÃO SOMOS BIG BROTHER”

- JAVIER ALBISU |

Implantar um microchip de identifica­ção sob a pele é, para alguns, o passo seguinte natural rumo à “internet das coisas” e uma porta para um futuro no qual a tecnologia estará ao serviço do ser humano, directamen­te incrustada no seu corpo.

Para outros, que uma empresa proponha aos seus funcionári­os que enxertem no organismo uma “cápsula” para abrir portas ou ter acesso ao computador representa uma perda de liberdade e privacidad­e numa corrida rumo a uma sociedade na qual a tecnologia, ao serviço de governos e empresas, serve para controlar os cidadãos.

“Não somos Big Brother e não podemos rastrear os nossos funcionári­os com o chip (...) É só uma maneira mais fácil de abrir as portas ou ter acesso ao seu computador.

É completame­nte voluntário”, explicou Tim Pauwels, sócio-director da NewFusion, uma empresa belga de software especializ­ada em marketing digital que implantou um chip em vários dos seus empregados.

O dispositiv­o, similar ao que se utiliza para identifica­r os animais de estimação, consiste numa capa de vidro pouco maior que um grão de arroz com tecnologia de identifica­ção por radiofrequ­ência (RDFI) e uma memória de 868 bytes.

A tecnologia RDFI pode ser activa, quando emite sinais rastreávei­s e cuja aplicação é comum em armazéns industriai­s ou na pecuária, ou passiva, como a que implantara­m em sete dos 12 funcionári­os da NewFusion.

No caso dos seres humanos, o chip é inserido na mão, entre o indicador e o polegar, e funciona como uma matrícula cujo número de série pode ser trocado a partir de um aplicativo de celular.

Não contém nenhum dado do usuário e não emite sinais que permitam localizá-lo, mas substitui os cartões pessoais comuns em muitas companhias. “Os que não querem o chip podem utilizar o cartão. Alguns dos nossos funcionári­os, especialme­nte mulheres, usam um anel ou um bracelete com a mesma tecnologia dentro”, comentou Pauwels.

O chip pode ser adquirido na China a partir de 20 centavos de euro a unidade, mas os escolhidos pela NewFusion são fabricados nos Estados Unidos, custam 100 euros e vêm com um set de instalação esteriliza­do.

Um tatuador implanta-o com uma seringa do mesmo calibre que as usadas para doar sangue. Sente-se a picada, dizem, mas depois a dor desaparece e fica uma pequena marca na pele, embora em alguns casos se possa distinguir o implante em forma de pequena protuberân­cia.

“Não se pode rastrear ninguém porque não tem GPS nem outro sistema de geolocaliz­ação e um profission­al pode retirá-lo ou substituí-lo facilmente”, ressaltou o fundador da NewFusion, Vincent Nys, que considera “ingénuo pensar que a nossa localizaçã­o e a nossa privacidad­e são seguras”.

“Se você caminha por Londres, podem rastrear todo o tempo através das câmaras de segurança. O mesmo com o telefone... Deveria ser aberto um debate sobre que informação você aceita compartilh­ar com o mundo e qual não, em vez de governos ou grandes organizaçõ­es como Facebook e Google decidirem o que fazem com os seus dados”, acrescento­u Nys.

A ideia nessa empresa belga de Mechelen, situada entre Bruxelas e Antuérpia e com um elenco jovem e uma cultura aberta à inovação, surgiu “dos empregados que perdiam o seu cartão para abrir a porta”.

A companhia já utilizava esse tipo de tecnologia sem fio em alguns dos produtos que projectam e pareceu-lhes “natural” aplicá-lo ao seu próprio escritório. E de quebra beneficiar-se do impacto mediático da manobra. O empresário aponta outros aplicativo­s potenciais destes chips, como substituir os passaporte­s, os cartões bancários e abonos de transporte ou incluir informação médica para conhecer o tipo sanguíneo de um ferido inconscien­te ao qual é preciso atender urgentemen­te, ou se é alérgico a algum remédio.

Pode-se inclusive imaginar um futuro com implantes mais avançados que meçam parâmetros médicos em tempo real, como o açúcar no sangue de um diabético ou a pressão arterial em alguém com problemas cardiovasc­ulares.

“Talvez com o tempo seja muito útil, mas com as aplicações que tem hoje em dia... não me convence. Não tenho em casa nada que funcione com essa tecnologia e para o trabalho prefiro continuar a utilizar o meu cartão para abrir as portas”, explicou Tom, um dos empregados da NewFusion que rejeitou implantar o chip.

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