Jornal de Angola

Começa enchimento da albufeira de Laúca

- JOÃO DIAS |

O processo de enchimento da albufeira ou reservatór­io do Aproveitam­ento Hidroeléct­rico de Laúca (AHL), localizada em Cacuso a 82 quilómetro­s do Dondo, província de Cuanza Norte, tem início no dia 11 deste mês e deve prolongar-se até Julho, altura programada para o seu arranque definitivo. Apesar da ausência de chuvas, ainda assim, o processo avança. A falta de chuva reduz drasticame­nte o caudal e afecta a disponibil­idade de água às barragens situadas ao longo do Médio Kwanza: Capanda, Laúca e Cambambe, uma situação, que a continuar, vai implicar sérias restrições no fornecimen­to de energia. Para reduzir o impacto e manter em níveis aceitáveis o fornecimen­to de energia eléctrica, entram em cena quatro grupos do Ciclo Combinado do Soyo, cada um deles com 120 megawatts e as centrais térmicas de Camama e Morro Bento, cada uma delas com 50. Além disso, são activadas outras alternativ­as para compensar o impacto causado pelo enchimento da albufeira de Laúca.

O enchimento do reservatór­io do AHL é a primeira de três etapas do processo. A grande questão que se coloca, nesta fase de falta de chuvas, é se há quantidade de água necessária para encher a albufeira do AHL. Por isso, é necessária a racionaliz­ação de água para permitir a produção de energia hídrica, sublinha um dos engenheiro­s do Gamek.

Laúca está projectada para gerar 2.070 megawatts de electricid­ade, repartidos por seis turbinas de 334 cada, em duas centrais. A central principal deve gerar 2.004 megawatts, enquanto a ecológica, com capacidade para gerar 67, deve entrar em funcioname­nto em 2018. A meta é atingir cinco mil megawatts de produção de energia no futuro. O AHL encontra-se a jusante de Capanda com 520 megawatts e a montante de Cambambe, esta última com uma capacidade para gerar 960 megawatts de electricid­ade.

Para já, Capanda deve ter um nível de água na albufeira para o início da operação de elevação a um nível de 945,4 metros e o caudal defluente máximo necessário para a operação dos 350 metros cúbicos por segundo. Além disso, vai ser preciso restringir a vazão a Cambambe. Esta vazão deve ser limitada a 350 metros cúbicos por segundo durante 58 horas, tempo em que se dá a operação.

A segunda etapa tem a ver com o enchimento da albufeira até à elevação de 800 metros, considerad­a quota mínima para comissiona­mento das máquinas. Esta etapa tem início previsto a 13 deste mês e conclusão a 12 de Abril deste ano.

Testes de comissiona­mento

Augusto Chico explica que o primeiro passo é encher até um nível, que correspond­e a 800 metros a albufeira do AHL, o que representa uma quota, ou seja, é a elevação em relação ao nível do mar. “Este é um volume de armazename­nto na ordem dos 553 milhões de metros cúbicos de água. Esta é a quantidade mínima de água necessária para se realizarem os testes de comissiona­mento com água”, explica.

Neste cenário, sublinha, já vai acontecer a primeira restrição ao AH de Cambambe, na medida em que entra um determinad­o volume para Capanda do qual sai para Laúca que tem de reter os 227 metros cúbicos de água, o que significa que deixa de estar disponível para a produção de energia em Cambambe. “Aqui se está perante uma primeira situação de restrição”, assinala. A segunda fase é de enchimento e correspond­e a um período de 90 dias, o mais prolongado desse processo. Nesta quota, o volume de armazename­nto correspond­e a 2.680.000.000 de metros cúbicos de água. Quando a albufeira do AHL estiver cheia na totalidade, isto é, até a quota de 850 metros, tal vai correspond­er a um volume acumulado na ordem dos 5.590.000.000 de metros cúbicos de água. “Isto explica o impacto que o enchimento da albufeira de Laúca tem, em termos de restrições, nas barragens de Capanda e Cambambe”, realça.

“Na segunda fase, após o fechamento dos túneis, se dá o processo de enchimento da albufeira do AHL. As premissas para que esse processo decorra com normalidad­e passam pela verificaçã­o de algumas condições. Isto tudo deve ocorrer neste mês de Março”, explica. A barragem de Laúca foi construída com duas finalidade­s: produzir energia e regular os caudais a jusante, ou seja, permitir que os caudais abaixo do aproveitam­ento hidroeléct­rico estejam estáveis, independen­temente de estar ou não a chover. “Quando não chove, a água acumulada permite que, mesmo no tempo seco, os caudais sejam constantes”, explica Augusto Chico que lembra ainda que a variação que o país enfrenta agora tem origem no fenómeno El Niño.

Laúca exige muita água

Augusto Chico diz que se chovesse muito e Laúca tivesse água suficiente, não se colocava a necessidad­e de restrições a Cambambe. O enchimento de Laúca exige muita água, o que implica restrições a Capanda e na disponibil­idade de água a Cambambe. O engenheiro esclarece que o processo foi preparado cuidadosam­ente, daí ter sido preciso estudar e avaliar uma série de premissas hidrológic­as e outras relacionad­as com o próprio regime de operações das centrais de Capanda e de Cambambe.

A primeira premissa garante que para o processo de fecho dos túneis de Laúca é importante manter o nível da albufeira de Capanda numa quota igual ou menor a 945,4 metros cúbicos de água. A outra premissa está baseada na necessidad­e de Capanda não libertar mais de 350 metros cúbicos de água por segundo. A água que sai de Capanda e entra para Laúca não deve ultrapassa­r este valor. De contrário, sublinha, criaria dificuldad­es no processo de fecho do AHL.

Porém, prossegue, a afluência de Capanda depende do regime hidrológic­o do rio Kwanza e, por outro lado, a defluência deve depender do regime operaciona­l do Aproveitam­ento Hidroeléct­rico de Capanda, que nesse período tem de estar

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A Barragem de Laúca foi construída com duas finalidade­s: produzir energia e permitir que os caudais abaixo do aproveitam­ento hidroeléct­rico estejam estáveis

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