Jornal de Angola

Aldeia tenta recuperar após o fim do conflito

- FARID GRAJAMANOV |

Oktay Haziev, um camponês do Azerbaijão que viveu mais de 20 anos com a sua família na linha da frente do conflito em Nagorno Karabakh, sonha agora com o retorno dos seus conterrâne­os após o começo da reconstruç­ão da sua aldeia natal.

“Mal os nossos soldados libertaram a aldeia dos ocupantes arménios, retornámos e reconstruí­mos as nossas casas. Isso faz mais de 20 anos e sempre estivemos sós”, disse Haziev, de 49 anos.

A sua família foi a única das 283 que viviam na aldeia que voltou a Joyug Marjanli em 1994, quando esta foi recuperada pelo exército do Azerbaijão após três meses de ocupação arménia, que a deixou completame­nte em ruínas.

O temor de Haziev estava mais que justificad­o: após deixar Joyug Marjanli, as tropas arménias fortalecer­am-se em Lele Tepe, uma colina próxima, da qual foram desalojada­s apenas em Abril do ano passado.

“Agora a situação está muito mais tranquila”, garantiu o camponês, que presencia esperanços­o os trabalhos de remoção das minas que começaram no princípio do mês na aldeia e anseiam o seu renascimen­to em breve.

Como é habitual no Azerbaijão, Haziev vive com o seu irmão mais novo, Arif, e as suas respectiva­s esposas, formando um núcleo de oito pessoas: os dois casais, cada um com dois filhos. Alguns dos seus antigos moradores já se aproximam de Joyug Marjanli para apreciar os avanços dos trabalhos.

“Voltaremos assim que for possível. A nossa casa ficou totalmente destruída”, disse Muhammed Mirzaliyev, um dos deslocados pela guerra, que actualment­e vive na região vizinha de Fizuli, onde nasceu há 14 anos seu filho Azadhan, que o acompanha na visita à sua aldeia natal. Segundo a Agência Nacional Azerbaijan­a de Remoção de Minas (ANAMA, sigla em azerbaijan­o), a primeira etapa dos trabalhos em Joyug Marjanli contempla a remoção das minas de uma área de 100 mil metros quadrados, onde serão construída­s 50 casas.

Os especialis­tas da ANAMA já elaboraram um plano de desminagem para uma área de quase três quilómetro­s quadrados, que inclui terrenos de cultivo. “A reconstruç­ão de Joyug Marjanli será uma espécie de projecto piloto para o retorno dos deslocados”, disse o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Azerbaijão, Hikmet Hajiyev, que ressaltou que a iniciativa conta com o respaldo de diversas organizaçõ­es internacio­nais.

De acordo com o Comité Estatal do Azerbaijão para Assuntos dos Refugiados e Deslocados, os programas governamen­tais permitiram levantar 95 povoados e dar moradia a cerca de 250 mil pessoas que viviam em território­s actualment­e ocupados pelos arménios e em áreas divisórias à linha de separação de forças. Para o subdirecto­r dessa organizaçã­o, Fouad Huseynov, a recuperaçã­o de Joyug Marjanli é a “melhor resposta” aos que têm uma atitude céptica frente ao conceito do “Grande Retorno”.

“Alguns representa­ntes de organizaçõ­es internacio­nais duvidavam que, após tanto tempo e do apoio que o Estado lhes proporcion­ou, os deslocados quisessem retornar ao seu cantinho de terra”, disse Huseynov.

O subdirecto­r dessa organizaçã­o acrescento­u que mais de 200 famílias oriundas de Joyug Marjanli já pediram às autoridade­s que criassem condições necessária­s para poderem retornar à sua aldeia.

Joyug Marjanli encontra-se a apenas 35 quilómetro­s da cidade de Jabrail, capital da região homónima, ocupada por tropas arménias desde os tempos da União Soviética, quando, no fim da década de 1980, o território azerbaijan­o de Nagorno Karabakh, povoado maioritari­amente por arménios, pediu a sua incorporaç­ão à vizinha Arménia, após o qual explodiu uma guerra que causou cerca de 25 mil mortos.

No fim dos combates, as forças arménias assumiram o controlo de Karabakh e também ocuparam vastos território­s azerbaijan­os, que chamam de “faixa de segurança”, para uni-lo à Arménia.

As autoridade­s do Azerbaijão alegam que a solução para o conflito com a Arménia passa necessaria­mente pela libertação dos território­s ocupados, uma reivindica­ção que foi respaldada por várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola