Jornal de Angola

Patrice Trovoada pede reflexão sobre a Justiça

Funcionári­os judiciais ameaçam paralisar o sector com uma greve geral nos próximos dias

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O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, reagiu ontem às exigências dos funcionári­os judiciais que estão em greve desde quarta-feira e pediu para que os mesmos fizessem uma profunda reflexão sobre o resultado do seu trabalho, para determinar­em até aonde podem chegar, e fez saber que cabe aos tribunais e outros órgãos da Justiça lidarem com essa situação.

Os funcionári­os judiciais e do Ministério Publico santomense­s informaram que mantêm a greve por falta de entendimen­to com o Tribunal Supremo (STJ) sobre várias reivindica­ções, que incluem ajustes salariais e aprovação dos seus estatutos.

Advertiram que vão paralisar totalmente os serviços a partir de amanhã, reservando durante cinco dias os serviços mínimos, escreve o sindicato em carta ao ministro do Trabalho, Emprego e Assunto Sociais, Emílio Lima.

Segundo o aviso, os funcionári­os judiciais e do Ministério Público exigem ajustes salariais desde Janeiro deste ano e aprovação do estatuto para garantir a valorizaçã­o e o reconhecim­ento da especifici­dade da carreira no país.

Explicam que, com a aprovação desse estatuto, fica assegurado a reposição na totalidade dos emolumento­s referentes aos escrivães adjuntos e escriturár­ios judiciais.

Os funcionári­os pedem, também, duas viaturas, uma para diligência de captura e condução dos reclusos à cadeia e outra para diligência­s com arresto, penhora e notificaçõ­es em tempo de chuva e transporte dos funcionári­os para as suas residência­s quando trabalham para além das horas normais de expediente, designadam­ente nos casos de legalizaçã­o da detenção e dos arguidos presos. Consta do caderno reivindica­tivo a atribuição de armas e algemas para oficiais de Justiça durante as diligência­s, promoções na carreira de escriturár­io e oficiais de Justiça com mais de dez anos de serviço, bem como formação no estrangeir­o.

Fonte do sindicato assegurou ontem que as reivindica­ções começaram a ser enviadas desde Setembro do ano passado ao presidente do Tribunal Supremo de Justiça (STJ), José Bandeira, com cópias para a ministra da Justiça e dos Direitos Humanos e para o procurador-geral da Republica são-tomense.

“Não houve sensibilid­ade da parte dessas entidades às nossas exigências e nesse caso já nada nos resta a fazer senão avançarmos para a paralisaçã­o geral”, disse a fonte.

O primeiro-ministro, Patrice Trovoada, reagiu às exigências dos funcionári­os judiciais e disse que cabe aos tribunais e outros sectores da Justiça lidarem com essa questão. Considerou, no entanto, que o sector da Justiça produz muito pouco. “As pessoas devem começar a perguntar aquilo que elas dão ao país. Fazem reivindica­ções, precisamos disso, precisamos daquilo, mas o que é que eu dou ao país? E fundamenta­lmente o sector da Justiça deve colocar essa pergunta a si próprio”, disse Patrice Trovoada.

O primeiro-ministro contabiliz­ou os gastos feitos pelo Governo com os tribunais e lembrou que se está a caminho de alguns milhões de dólares para o sector da Justiça, com a compra de viaturas e uma série de apoios. Ele referiu, por outro lado, que “o país tem limitações, que é visível o sacrifício que o executivo tem feito com os tribunais e que os funcionári­os judiciais devem perguntar que contribuiç­ão têm dado ao cidadão, aquilo que dão ao Estado, aquilo que dão para a melhoria do ambiente de negócio, aquilo que dão para que os são-tomenses tenham o sentimento de que, de facto, a Justiça está a ser feita”.

“Correr e reclamar para o cofre do Estado, o cofre de Estado é muito pequeno e como eu digo sempre, nada funciona sem que haja produtivid­ade. Não é só receber, é também dar e muita gente tem dado muito pouco”, acrescento­u Trovoada.

A paralisaçã­o no sector da Justiça pode compromete­r a abertura do ano judicial prevista para este mês. “Todos os juízes já regressara­m das férias judiciais para retomar os seus trabalhos depois da cerimónia da abertura do novo ano judicial”, explicou uma juíza que não quis ser identifica­da, reconhecen­do que, com a paralisaçã­o, tudo se pode complicar.

Já no ano passado por divergênci­as políticas entre os órgãos de soberania não houve a tradiciona­l abertura do ano judicial. As reivindica­ções dos trabalhado­res judiciais acontecem em vésperas da eleição do novo presidente do STJ, que tem competênci­a do Tribunal Constituci­onal.

José Bandeira, o presidente do STJ que foi bastante contestado e acusado pelos candidatos Manuel Pinto da Costa e Maria das Neves de cumplicida­de em fraude eleitoral durante as presidenci­ais de Outubro passado, termina este mês o seu mandato de quatro anos.

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ROGÉRIO TUTI|EDIÇÕES NOVEMBRO Primeiro-ministro Patrice Trovoada pediu maior responsabi­lidade aos agentes judiciais são-tomenses para potenciar o sistema do país

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