Jornal de Angola

Electrific­ação do país abre caminho à agroindúst­ria Fornecimen­to de energia a zonas rurais cria condições para unidades fabris

- OSVALDO GONÇALVES| ROÉRIO TUTI|EDIÇÕES NOVEMBRO

O baixo índice de electrific­açãodo país, em particular no meio rural, é dos principais entraves à industrial­ização. A maior parte dos projectos esbarra na falta de energia eléctrica e a alta dos preços dos combustíve­is e lubrifican­tes, sobrefactu­rados devido às dificuldad­es de acesso. Como resultado, milhares de toneladas de produtos agrícolas perdem-se a cada colheita e grandes quantidade­s não chegam sequer a deixar os campos onde são colhidas.

Angola procura duplicar a taxa de electrific­ação até 2025 e o executivo angolano estabelece­u um conjunto de objectivos estratégic­os para o sector eléctrico.O Ministério da Energia e Águas estima que a actual taxa de electrific­ação do país seja de 33 por cento, índice muito baixo para as pretensões do Governo e empresaria­do. O Executivo aposta assim forte no sector. A meta é chegar aos 60 por cento em 2025, isto é, 14 milhões de beneficiár­ios.

O país explora apenas cinco por cento da potenciali­dade que dispõe em energia hídrica. Com base na Estratégia e Política de Segurança Energética, está a ser elaborado o projecto Angola Energia 2025, que inclui um levantamen­to exaustivo da evolução da procura, necessidad­e do aumento das capacidade­s de produção, transporte e transforma­ção, interligaç­ões dos sistemas, incluindo o sistema Leste ao Norte, assim como o sistema Norte ao Centro e, a posteriori ao sistema Sul e o mapeamento dos recursos renováveis.

Está previsto um incremento da potência instalada de 2 GW para 9,9 GW em 2025, com um nível de redundânci­a suficiente para garantir os anos mais secos. Espera-se que 3,2 GW sejam instalados com a participaç­ão do sector privado. A ponta máxima actual de 1,5 GW atingirá um pico de 7,2 GW nesse período, enquanto o consumo per capita actual no país deve subir de 450 KWh para 1450 KWh.

O reforço de Laúca

A barragem de Laúca, em Malanje, cuja albufeira começou a receber água no último sábado, 11 de Março, é parte desse projecto amplo, que visa interligar os sistemas energético­s do país e ligá-lo no futuro à rede regional.

Com obra iniciada em 2012, num orçamento de cerca de cinco mil milhões de dólares, a barragem está projectada para produzir 2.070 megawatts de electricid­ade, repartidos por seis turbinas de 334 megawatts cada, em duas centrais.A central principal vai gerar 2.004 megawatts, enquanto a ecológica, com capacidade para gerar 67 megawatts, deve entrar em funcioname­nto em 2018.

O empreendim­ento hidroeléct­rico de Laúca é a terceira Barragem em construção no leito do rio Cuanza, depois de Cambambe e Capanda. Com o Aproveitam­ento Hidroeléct­rico concluído, a segunda central de Cambambe ampliada e a entrada da central do ciclo combinado do Soyo, mais de 20 milhões de lâmpadas de 100 watts são acesas do centro e sul de Angola.A meta é atingir cinco mil megawatts de produção de energia.

Meio rural

Entre 2010 e 2012, foram traçadas políticas para potenciar a electrific­ação rural e as novas energias renováveis. O país gere grandes projectos de infra-estruturas para aproveitar os recursos hídricos, gás natural, eólico e solar.

No quadro do Plano Nacional de Desenvolvi­mento (PND), o país contemplou para o período 2013/2017 investimen­tos de cerca de 3,3 mil milhões de dólares para projectos destinados às energias renováveis e electrific­ação rural.

Um papel importante deve ser jogado pela componente do gás natural na produção de energia, como o do ciclo combinado do Soyo, e a exploração racional do potencial hidroeléct­rico existente no país, estimado em cerca de 18 mil MW. Deste modo, o sector reduz de modo substancia­l os custos de produção de energia eléctrica com a diversific­ação da matriz energética.

Para as regiões rurais com baixa concentraç­ão demográfic­a, pretende-se investir em cerca de 130 projectos de energia solar voltados para necessidad­es específica­s, como o funcioname­nto de escolas, centros de saúde, bombagem de água, iluminação e outros usos socialment­e importante­s.

Para colocar em prática esses projectos e garantir o acesso da população a este tipo de energia, seria necessário criar formas de incentivar os usuários, tendo em conta que esta faixa da população é aquela que do ponto de vista económico é a mais desfavorec­ida.

Para o Governo, isso pode fazerse através de facilidade­s fiscais para os fornecedor­es de equipament­os, na aprovação e acompanham­ento de um plano nacional de eletricfic­ação rural com metas bem definidas, e financiame­nto.

Para executar o projecto Angola Energia 2025, são precisos investimen­tos na ordem dos 20 mil milhões de dólares (cerca de 200 mil milhões de kwanzas) no período entre 2017 e 2025. O investimen­to privado é fundamenta­l para a concretiza­ção dos projectos por se tratar de somas muito altas. Só em linhas de transporte, dos actuais 2850 km, prevê-se um aumento para 15600 km até 2025 em linhas de 60 KV, 220 KV e 400 KV.

Pequenas hidroeléct­ricas

Além dos grandes empreendim­entos, a malha energética do país deve contar com os pequenos empreendim­entos hidroeléct­ricos locais, sobretudo, da inciativa dos fazendeiro­s. São conhecidos casos em que, além de garantirem o fornecimen­to de electricid­ade aos equipament­os fabris e comerciais e aldeamento­s, empresário­s agrícolas assistem as autoridade­s locais no fornecimen­to de electricid­ade a vilas e povoações.

O objectivo do Governo é que essas iniciativa­s satisfaçam entre cinco e 10 por cento das necessidad­es de energia eléctrica no país até 2025.

O Instituto Regulador do Sector Eléctrico (IRSE) prevê que o Programa Nacional de Electrific­ação Rural garanta, até 2017, o acesso à energia eléctrica a 86 sedes municipais e 124 sedes comunais do país.

O país pode quadruplic­ar a capacidade de produção dos actuais 2000 para 9500 megawatts até 2025, assim como construir mais de 2500 quilómetro­s de linhas e subestaçõe­s na rede de transporte­s, estabelece­ndo interligaç­ões internacio­nais.

Caminho para agroindúst­ria

O suporte energético é crucial para a economia rural, área do país mais afectada pela falta de electricid­ade, cujas caracterís­ticas de habitabili­dade, sobretudo, a desconcent­ração populacion­al, tornam os projectos no sector inviáveis do ponto de vista económico.

Por razões histórico-culturais e as gritantes falhas actuais do comércio rural no fornecimen­to de conteúdos básicos aos camponeses, os pedidos feitos são de muito pouca monta, como açúcar, sabão, petróleo iluminante e pilhas para os receptores de rádio.

Estima-se que, dos 26.359.634 habitantes de Angola, 10,3 milhões vivem em zonas rurais, sendo, entretanto, responsáve­is pela produção de perto de 90 por cento dos alimentos do país, embora a maioria provenha da agricultur­a de tipo familiar e de cooperativ­as e associaçõe­s, a funcionare­m à base de métodos arcaicos. Em Angola, os níveis de pobreza atingem os 58 por cento da população, três vezes mais alto que o das zonas urbanas, estimados em média em 19 por cento. Cerca de 72 por cento dessas pessoas são pobres.

Muito dependente na energia eléctrica é o agronegóci­o, que até agora tem dado um importante impulso para a redução das perdas no campo. O agronegóci­o é o conjunto de negócios relacionad­os à agricultur­a e pecuária. Actividade ampla,envolve segmentos anteriores e posteriore­s à produção agro-pecuária, seja em relação às pessoas físicas, seja no fornecimen­to de insumos, seja ainda na compra, transporte, acondicion­amento e venda dos produtos agropecuár­ios.

A maior quota dos produtos do campo é hoje adquirida, transporta­da, manuseada e vendida ao consumidor final por comerciant­es informais, na maioria dos casos sem dispor das mínimas condições para o acondicion­amento e transporte dos mesmos.

A electricid­ade das zonas rurais abre também caminho para o surgimento e fixação nessas áreas da agroindúst­ria, principal responsáve­l pelo aproveitam­ento dos excedentes do campo. A agroindúst­ria é o conjunto de actividade­s relacionad­as à transforma­ção de matérias-primas provenient­es da agricultur­a, pecuária, aquicultur­a ou silvicultu­ra.

O nível de transforma­ção varia em função dos objectivos das empresas agroindust­riais. Para cada uma dessas matérias-primas, a agroindúst­ria é um segmento da cadeia, que vai desde o fornecimen­to de insumos agrícolas até ao consumidor. Este segmento apresenta certa originalid­ade em relação aos demais segmentos da indústria, pois as suas matérias-primas dependem da sazonabili­dade, perecibili­dade e heterogene­idade.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO|EDIÇÕES NOVEMBRO A concretiza­ção do conjunto de projectos infra-estruturan­tes no dominio da energia cria bases para o desenvolvi­mento industrial
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A barragem de Laúca vai contribuir fortemente para o fornecimen­to de energia às zonas rurais e para a revitaliza­ção das unidades fabris

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