Mulheres são pilares da sociedade
O Dia Internacional da Mulher surgiu num contexto de lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho e de direito de voto. Em Angola, já se faz sentir a participação de muitas mulheres no poder de decisão, contribuindo para o desenvolvimento social e económico do país.
O suplemento Angolana foi ao encontro de mulheres de vários estratos sociais, que defendem a emancipação do género como um ganho e a passagem de testemunho como o foco principal na educação familiar.
Aos 60 anos, viúva e mãe de seis filhos, Maria Bartolomeu Caetano enaltece a “árdua luta” levada a cabo pela Organização da Mulher Angolana (OMA) pela emancipação da mulher angolana.
“Hoje, já se faz sentir a independência da mulher como mãe, esposa e profissional. Antes da independência, a mulher não tinha poder de escolha, de defesa contra os maus tratos. Éramos submissas aos homens, sem oportunidade de estudo e trabalho para garantirmos a nossa liberdade”, recordou.
É reformada e natural da comuna de Bambuca, município de Caxito, no Bengo, onde viveu períodos sangrentos de guerra de 1961 a 1975. Foi devido a esse facto que Maria Bartolomeu Caetano emigrou para Luanda, tendo assentado arraiais no bairro H oji-ya-Henda durante 26 anos.
Com a sua experiência de vida, conseguiu o primeiro emprego em 1974, num depósito de pão. Em 1990, trabalhou no sector privado de comercialização de mosaicos e azulejos, onde foi vítima de discriminação de género e racial pelos patrões de nacionalidade portuguesa. Devido aos maus tratos, pediu demissão um ano depois de ter começado a trabalhar. Sendo uma mulher de sorte, conseguiu um outro emprego na indústria têxtil e de confecções até à sua aposentadoria. “Hoje, já podemos colaborar e decidir o certo e o errado, seja no serviço, em casa, escola porque antes, ao darmos o nosso contributo éramos oprimidas pelos nossos parceiros ou mesmo membros da família”, lamentou Maria Bartolomeu Caetano.
Diz estar feliz com a nova geração pelo facto de valorizar a nossa cultura, hábitos e costumes. “Hoje, já vestem trajes tradicionais nacionais e de outros países africanos, sem esquecer o uso do cabelo natural, tranças e outros acessórios que identificam as nossas tradições”, disse, exortando as suas companheiras de luta a continuarem a educar os filhos, a corrigir o que está errado e a mostrar o caminho certo a seguir.
Pilar da sociedade
Flora Segunda, formada em Línguas e Literatura Africana pela Universidade Agostinho, caracteriza a mulher como o principal pilar da sociedade. Funcionária do Ministério da Construção há quatro anos, considera que, devido à sua experiência de vida, a mulher assume hoje dupla responsabilidade social, sendo, por isso, capaz de assumir diversas tarefas sem interferir na sua vida pessoal.
Flora Segunda considera especial o dia 8 de Março em que a mulher, a nível mundial, é homenageada, amada e recordada como o elo de ligação mais forte da sociedade. “A nossa conquista social, económica e trabalhista já é considerável e bem vista”, frisou, defendendo que é preciso que a mulher preserve os princípios morais e cívicos para continuar a ser a grande educadora da sociedade.
Lidar com a terra faz parte da vida de Benedita Nachicombo desde os 12 anos, ainda na província do Huambo, sua terra natal. Hoje, aos 56 anos, ela considera-se uma verdadeira líder na transmissão dos nossos hábitos e costumes aos mais jovens. Por isso, defende uma maior valorização da mulher e exorta as jovens a aproveitarem as oportunidades criadas pelo Executivo para a inserção, cada vez mais, de mulheres nos órgãos de decisão, na formação académica, no mercado de trabalho.
As dificuldades da vida levaram Marcelina Mateus, 23 anos, a formar família muito cedo para poder ajudar nas despesas da casa dos pais. Devido a essa situação, ela foi obrigada a deixar de estudar, numa altura em que frequentava a 10ª classe num dos estabelecimentos de ensino do município do Cazenga. Marcelina, hoje mãe de dois rapazes, diz não ter prazo para regressar à escola, pois a prioridade é continuar a trabalhar para suprir as necessidades da família.
“A vida está difícil e não está fácil encontrar emprego. Eu, felizmente, trabalho numa cafetaria, onde recebo um salário que, embora não seja o desejado, ajuda a sustentar a minha família”, conta.
Numa altura em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Marcelina diz não estar arrependida das opções que teve que fazer na vida, mas sublinha: “não desejo às outras raparigas o mesmo que aconteceu comigo. Devem primeiro terminar a sua formação académica e, antes de tomar qualquer decisão, devem consultar sempre uma pessoa mais experiente.”
Berço da humanidade
Marta Morais e Celmira Tavares dedicam o Dia Internacional da Mulher às mulheres zungueiras, kínguilas, quitandeiras e auxiliares de limpeza, que de tudo fazem e enfrentam para o sustento da família.
Marta Morais, assistente comercial num laboratório de análises clínicas, define a mulher como o “berço da humanidade”, que gera vidas. Ela condena a discriminação de que é alvo a mulher zungueira, trabalhadora doméstica, kínguila e auxiliar de limpeza. “É um trabalho igual aos outros, digno para o sustento de muitas famílias de baixa renda”, disse.
Casada há quatro anos, Marta Morais já foi empregada de mesa aos 16 anos num dos restaurantes da Baixa de Luanda, um trabalho que diz ter aceitado com muito orgulho e sem vergonha, porque tinha que ajudar os seus pais nas despesas de casa.
Para a assistente comercial, a regulamentação da Lei do Trabalhador Doméstico vai trazer inúmeros benefícios como subsídios de férias, licença disciplinar e reforma.
Já para Celmira Tavares, a Organização da Mulher Angolana (OMA) deve continuar a promover a mulher nos vários sectores socioeconómicos do país. Estudante do 4º ano do curso de Geofísica na Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, Celmira também condena a discriminação à mulher zungueira e defende mais respeito e valorização do seu esforço na busca incessante do sustento familiar.
“Somos a mãe da sociedade, que gera vidas lançando-os para os grandes desafios do mundo, logo, o respeito e a humildade é o principal ingrediente que uma mulher deve preservar”, frisou Celmira Tavares.
Educadora da sociedade
Vitorina Diogo e Rita Mafuca são funcionárias públicas, exercendo a função de auxiliares de limpeza. Vitorina, 56 anos, viúva e mãe de sete filhos, sendo cinco meninas, considera a mulher como educadora da sociedade. Como mãe, educadora e companheira, Vitorina Diogo disse que conseguiu conciliar o seu trabalho como auxiliar de limpeza, desde 1978, no Sindicato Nacional das Indústrias dos Materiais de Construção, Madeira e afins e a lida doméstica para que nada faltasse aos filhos.
A auxiliar de limpeza, natural do Cuanza Sul e residente há vários anos em Luanda, explicou que foi uma fase difícil, na medida em que era difícil conseguir um emprego. Hoje, Vitorina Diogo diz sentir-se uma mulher realizada como auxiliar de limpeza e orgulhosa por ter educado os filhos a serem pessoas honestas, humildes, educadas e solidárias. “Hoje, uns estão formados e outros continuam os estudos, constituíram famílias e conseguiram bons empregos”, diz regozijada. A mesma lamenta a atitude negativa das jovens mulheres, que hoje discriminam a profissão de auxiliares de limpeza. “Não devemos negar as profissões, todas são bem-vindas desde que consigamos sustentar as nossas famílias”, defendeu Vitorina Diogo apelando à nova geração para acatar os conselhos dos mais velhos, para que, futuramente, consigam singrar correctamente na sociedade.
“Devem é apostar na formação, para amanhã garantirem uma profissão à sua altura. Muitas jovens não trabalham com honestidade para o seu sustento. Querem tudo na hora, valorizando apenas os bens materiais como carro, roupa, viagens, sem pensar no amanhã”, lamentou.
Por seu lado, Rita Mafuca defende que a mulher é o suporte do homem, na tomada de decisões para o progresso da sociedade. Funcionária do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) há três anos, Rita homenageia todas as mulheres que, com o seu trabalho digno, têm contribuído para o engrandecimento do país. “O mais importante é trabalhar para progredir profissionalmente e sustentar a família. Nada de mentir, se prostituir e roubar, de preferência ser uma auxiliar de limpeza”, disse.
Laura Massete é professora há 11 anos e como educadora afirma que a mulher tem um papel preponderante na educação da criança e na resolução de conflitos entre indivíduos.
Ela define a juventude actual como uma grande incógnita, perdida no mundo. Por isso, condena o actual comportamento das mulheres que não cultivam bons hábitos culturais e familiares. “Cada família tem a sua crença e costume para transmitir aos filhos, daí a importância dos pais e encarregados de educação não deixarem toda a responsabilidade aos professores, porque o nosso papel é complementar o que não foi transmitido em casa”, explicou Laura Massete.