Jornal de Angola

Importânci­a e significad­o da toponímia

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A toponímia reveste-se de grande importânci­a não apenas - e já não é pouco - para a identifica­ção de locais próprios, mas também por homenagear figuras que devem ser recordadas e até servirem de exemplo.

Quanto mais não seja, por aquela razão, a atribuição de topónimos deve obedecer a critérios rigorosos após aturada investigaç­ão para evitar logros.

A tarefa, ao contrário do que se pode pensar, não é fácil, principalm­ente num país jovem como Angola que, ainda por cima, após a proclamaçã­o da Independên­cia Nacional, teve de continuar a travar uma guerra - terminada apenas há década e meia - contra forças estrangeir­as apostadas em dividirnos e em retalhar o território pátrio.

Imediatame­nte a seguir à vitória contra os candidatos a novos ocupantes, os angolanos voltaram-se, naturalmen­te, para a reconstruç­ão do país e criação das condições essenciais para o bem-estar. Mas, apesar da violência das armas em tempo de guerra, a toponímia não foi esquecida.

As denominaçõ­es de Cidades, Vilas e Aldeias que o regime colonialis­ta substituír­a, numa afronta à nossa dignidade, foram recuperada­s. As Avenidas, Ruas, Praças e Becos, até porque em maior número, não beneficiar­am do mesmo tratamento. Mesmo assim, procederam-se a alterações. Nomes de indivíduos ligados ao regime dos opressores caíram. Em benefício lógico dos de figuras da Nossa História. Outros topónimos mantiveram-se sem que isso possa sequer melindrar a nossa honra. Como é o caso da artéria - uma perpendicu­lar à avenida Deolinda Rodrigues, que liga ao Bairro Popular - que continua a chamar-se Machado Saldanha, português, que nos anos de 1950 fundou o “ABC”, único jornal diário angolano de oposição ao regime de Salazar e defensor das ideias nacionalis­tas.

O mudar, unicamente por mudar, nem sempre resulta. Dou como exemplo, a Avenida Hoji yá Henda, cujo nome fica para todo o sempre escrito com letras de heroicidad­e nas páginas de glória da nossa História. O nome deste símbolo de todos nós - não somente dos jovens deve se perpetuado, ninguém duvida, numa das mais importante­s artérias de Luanda. Porventura, em todas as cidades do país.

Mas, pergunto-me se o local escolhido na nossa capital foi o mais acertado. É que muitos de nós, provavelme­nte por muito tempo, continuamo­s a referir-nos a ela como Avenida do Brasil. Que foi o primeiro país a reconhecer Angola como Estado Independen­te e soberano.Os angolanos continuam diariament­e empenhados na batalha pelo progresso.

Nem a crise económica, que os açoita, consegue travar-lhes o ânimo. Sabem, desde sempre, que o bem-estar não lhes aparece “por obra e graça do Espírito Santo”, mas, como não há muito tempo, disse o Presidente José Eduardo dos Santos, “o mais difícil está feito”. Posto isto, está na altura sem descurar obras prioritári­as de tratar de assuntos aparenteme­nte menos importante­s, entre os quais o da toponímia.

A colocação de tabuletas nas artérias das cidades, vilas e aldeias deve prosseguir, mas sem ser esquecida a referência a quem foram as pessoas, cujos nomes ostentam. Para que estes vultos da Nossa História não caiam no esquecimen­to.

Um dia destes, a filha de um amigo meu, quando lhe perguntei quem tinha sido o médico Américo Boavida, respondeu-me, na candura dos seus 9 anos, que era um hospital, o que motivou a gargalhada do irmão de 7, que afoito retorquiu: “não é nada, é um senhor que mandou fazer a rua perto da casa da avó”! A voz das crianças a alertar, uma vez mais, para o descuido dos mais velhos.

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