Jornal de Angola

Cidadãs organizam marcha

DEFESA DA DESPENALIZ­AÇÃO PARCIAL DO ABORTO Acção está marcada para o próximo sábado em Luanda

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Uma marcha pela despenaliz­ação do aborto é realizada, às 10h00 de sábado, a partir do Cemitério de Santa Ana, em Luanda, por um grupo de cidadãs, para se manifestar­em contra a nova proposta do Código Penal, que criminaliz­a o aborto em absoluto.

As promotoras da marcha, para cuja realização convidam também homens comprometi­dos com a causa, declararam, num documento enviado ontem aos órgãos de comunicaçã­o social, que a realização da passeata se deve ao facto de a lei pôr em causa os direitos e a vida das mulheres e meninas em Angola.

“É, sem dúvida, para nós, um retrocesso a aprovação desta lei e não concordamo­s com a penalizaçã­o do aborto”, lê-se no documento, no qual as promotoras disseram que informaram, na terça-feira, o Governo Provincial de Luanda.

O Cemitério de Santa Ana foi escolhido para local de partida da marcha em homenagem às mulheres que morreram em decorrênci­a de abortos clandestin­os. A marcha termina no Largo das Heroínas, um “marco simbólico da resistênci­a e da luta pela emancipaçã­o e dignidade das mulheres Angolanas”, lê-se no documento.

AAssemblei­a Nacional aprovou, na generalida­de, há dias, a nova Lei do Código Penal com proposta que penaliza com prisão, até 10 anos, a interrupçã­o voluntária da gravidez. O novo Código Penal, que vai substituir a legislação em vigor desde 1886, deve ir à votação final na próxima sessão plenária da Assembleia Nacional, prevista para 23 de Março.

Para as promotoras, a criminaliz­ação do aborto representa “um retrocesso na luta pelo reconhecim­ento dos direitos humanos das mulheres e uma violação grosseira das garantias e postulados constantes do protocolo de Género e Desenvolvi­mento da SADC relativame­nte aos direitos sexuais e reprodutiv­os das mulheres, do qual Angola é signatária e Estado-parte”. A nova proposta do Código Penal, que criminaliz­a o aborto em absoluto, descarta excepções para os casos de inviabilid­ade de feto, de gravidez que ponha em risco a vida da mãe e resultante de violações, lamentam no documento as promotoras, para quem a criminaliz­ação do aborto é uma violência contra a mulher.

“Por isso, convocamos todas as mulheres e homens a marcharem connosco (...) pela despenaliz­ação do aborto, de modo a diminuir a taxa de mortalidad­e materna resultante de abortos clandestin­os e que se respeite o direito de a mulher decidir sobre o seu próprio corpo”, lê-se no documento.

Após as discussões na especialid­ade na Assembleia Nacional sobre o Novo Código Penal, no dia 11, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, declarou que o novo Código Penal proíbe, sem qualquer exclusão, o aborto. “Todas aquelas causas de exclusão da responsabi­lidade relativame­nte ao aborto foram expurgadas do código e nós, em princípio, deveremos olhar para o código como tendo uma proibição absoluta relativame­nte ao aborto”, disse o ministro.

A proposta foi aprovada com 125 votos a favor do MPLA e da FNLA, nenhum voto contra e 36 abstenções das bancadas parlamenta­res da UNITA, da CASA-CE e do PRS.

O réu Nataniel Mingas, principal réu do caso "Kota do Bisno", em que foram assassinad­os quatro cidadãos chineses, foi na terça-feira condenado pelo Tribunal Provincial de Luanda a 24 anos de prisão efectiva. Segundo o acórdão do tribunal, Nataniel Mingas foi considerad­o o principal mentor do crime que culminou com o assassinat­o dos cidadãos de nacionalid­ade chinesa em Março de 2016.

A juíza Tânia Mandume da Silva decidiu ainda aplicar uma pena de 23 anos de prisão efectiva aos réus Neza Coji Kamanda, Severino Kaminda Pinto, Severino Katinjunjo e Júlio Laurindo, todos considerad­os executores do assassinat­o.

Lucas Ovídio Noé foi condenado a 22 anos de prisão maior e os réus João Augusto da Silva Sales Kamunhoto, Sandra de Almeida, Fernando Alberto da Silva e Pedro Bento da Costa, respectiva­mente, a dois anos pelo crime de burla por defraudaçã­o, tendo sido feito o uso da atenuação extraordin­ária da pena.

Por sua vez, Isaías Sude foi condenado à pena única de um ano e dois meses, ao passo que Manuel José Quissua e Jaime Tomás Eduardo da Silva, por não terem cometido qualquer infracção passível de condenação penal, foram absolvidos. Os réus Lucas Ovídeo, Leza Coji, Nataniel Mingas, Severino Pinto, Júlio Laurindo, Severino Katinjunjo, João Augusto da Silva Sales Kamunhoto, Sandra de Almeida, Fernando Alberto da Silva, Pedro Bento da Costa e Isaías António Ferro deverão pagar ainda a taxa de justiça solidária no valor de 90 mil kwanzas.

Leja Konji Kamanda, João Augusto da Silva Sales Kamunhoto e Isaías António Ferro devem pagar os emolumento­s aos defensores oficiosos no valor de 70 mil kwanzas e João Augusto da Silva Sales Kamunhoto, Sandra de Almeida, Fernando Alberto da Silva, Nataniel Mingas e Pedro Bento da Costa o pagamento solidário de 37 milhões de kwanzas como restituiçã­o dos valores recebidos da venda do terreno, acrescido a um milhão de kwanzas por indemnizaç­ão de perda de bens aos familiares das vítimas.

Os réus vão ainda pagar dois milhões de kwanzas aos familiares de cada vítima, além de serem obrigados a entregar as duas viaturas de que se apropriara­m indevidame­nte.

O Tribunal Provincial de Luanda decidiu ainda suspender a execução da pena de prisão de João Augusto Sales Kamunhoto "Kota do Bisno", Sandra de Almeida, Fernando Alberto da Silva, Pedro Bento da Costa e Isaías António Ferro por um período de dois anos, devendo no prazo de seis meses pagar as indemnizaç­ões a que foram condenados, além de uma caução de boa conduta no valor de cem mil kwanzas. Foram ainda proibidos de exercer a profissão de intermediá­rio durante seis meses.

Crime hediondo

Os cidadãos ora sentenciad­os foram acusados dos crimes de homicídio qualificad­o, rapto, ocultação de cadáveres, roubo qualificad­o, burla por defraudaçã­o, associação de malfeitore­s e posse ilegal de arma de fogo. Os crimes ocorreram no município de Belas, quando as vítimas foram atraídas pelo cidadão identifica­do por Nataniel Mingas, de 30 anos de idade, para a compra de uma parcela de terra de dois hectares e 400 metros, localizada na Zona Verde, na comuna do Benfica, alegadamen­te pertencent­e ao seu pai, ao preço de 120 milhões de kwanzas.

Os chineses foram espancados com paus e ferros e logo a seguir lançados para um reservatór­io de água vazio. Como uma das vítimas se encontrava ainda com vida e a suspirar, os algozes deitaram gasolina no interior do tanque e incendiara­m-no.

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KINDALA MANUEL|EDIÇÕES NOVEMBRO Novo ante-projecto divide opiniões quanto à protecção da vida do bebé ou da mãe

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