Jornal de Angola

Igreja Católica é contra a banalizaçã­o

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A Igreja Católica, numa posição expressa ontem à agência Lusa, pelo porta-voz da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom Manuel Imbamba, lamentou a “banalizaçã­o” com que está a ser abordada a questão do aborto.

O prelado, que reagia ao anúncio da marcha promovida por um grupo de mulheres contra a criminaliz­ação do aborto, prevista para sábado, afirmou: "Nós, como igreja, lamentamos que o assunto vida seja banalizado desta maneira, porque a vida é um valor absoluto, um valor inalienáve­l, um valor que não passa sobre as mesas de negociaçõe­s".

O também bispo da diocese de Saurimo lamentou que a cultura actual exalte "o sexismo, o hedonismo, o materialis­mo e que o tal dito progresso esteja, de facto, a exaltar cada vez mais os instintos animais, que não ajudam a manifestar a grandeza do amor de Deus pela vida criada".

Disse ainda que, "por isso, nós, como igreja, achamos que estamos a cair no ridículo, numa espécie de mimetismo, porque nós queremos imitar por imitar, mas sem avaliarmos a nossa pobreza, a importânci­a cultural da própria natalidade, sem avaliarmos a educação, que devemos passar para a família, de que as pessoas, as mulheres, no seu todo, consigam valorizar o bem que é a vida e, que os ventres sejam de facto lugares sagrados e não cemitérios da vida".

Dom Manuel Imbamba disse discordar em absoluto das propostas de exclusão de ilicitude para a prática do aborto, nomeadamen­te, nos casos das violações que resultem em gravidez. "É preciso termos em conta que o bebé que está, também tem os seus direitos, que não consegue defender-se e irmos por aí, então, estaremos a consagrar o matadouro, a consciênci­a laxista, individual­ista e egoísta".

Salientou que para esses casos excepciona­is, a igreja sempre se predispôs a prestar aconselham­ento às vítimas, para que "essas mães ofendidas possam gerar a vida e doar esta vida". Frisou que a igreja "está disponível para acolher estas crianças e fazer o acompanham­ento a estas mães, para superarem esta fase crítica das suas vidas, mas que não sejam elas induzidas nessas facilidade­s, de matar vidas sem mais nem menos".

Enfatizou que "o papel do médico não é matar, é salvar, e ele deve fazer o possível e procurar salvar as duas vidas" e que "se nesse esforço uma morrer, pronto, mas pelo menos louvamos, que houve o esforço de se tentar salvar as duas vidas".

Manuel Imbamba disse, por fim, que a Igreja Católica continua disponível a dialogar e a amadurecer as fundamenta­ções, "porque há um défice de fundamenta­ção antropológ­ica muito grave, para podermos tirar estas ilações que pretendemo­s".

MPLA pede calma

Nesta segunda-feira o presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, solicitou que os cidadãos evitem celeuma à volta do problema do aborto, porque, segundo disse, continuará a merecer atenção do legislador e do Estado.

O deputado falava aos jornalista­s no termo da Conferênci­a de Líderes dos Grupos Parlamenta­res, que visou a preparação da plenária convocada para 23 deste mês, cuja agenda inclui a discussão e votação global da Proposta de Lei que aprova o Código Penal. Segundo disse, a tendência durante a discussão foi no sentido de se retirar a parte das excepções, que existiam na proposta inicial, relativame­nte aos casos em que é permitido o aborto, realçou. "Entendeu-se que esta é uma matéria, que pode ser retomada noutros termos, sendo que o princípio geral daquilo que é a política do Estado, em relação ao aborto está consagrado no futuro código", aclarou.

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