Jornal de Angola

Morreu ontem Antero de Abreu

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Morreu ontem de madrugada, em Viana do Castelo, Portugal, aos 90 anos, Antero Alberto Ervedosa de Abreu, que foi o primeiro procurador-geral da República (1977- 1993) do pós-independên­cia. Antero de Abreu, que também exerceu durante vários anos as funções de embaixador de Angola na Itália, nasceu na cidade de Luanda a 22 de Fevereiro de 1927.

Fez os seus estudos primários, secundário­s e liceais em Luanda. Partiu em seguida para Portugal para estudar direito, primeiro em Coimbra e posteriorm­ente em Lisboa, onde terminou o curso. Enquanto estudante em Lisboa foi dirigente da Casa dos Estudantes do Império (CEI), de que faziam parte Agostinho Neto e muitas outras figuras históricas das então colónias portuguesa­s.

Após a sua formação regressou ao país e exerceu advocacia em Luanda, tendo sido, durante o tempo colonial, um profuso activista no incremento associativ­o e cultural de Luanda, com destacada actividade no Departamen­to Cultural da Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA) e na Sociedade Cultural de Angola, onde, além da sua colaboraçã­o literária, esteve ligado à actividade do Cine-Clube, tendo-se tornado um crítico de cinema atento, lúcido e observador.

Fez parte da lista de advogados que defendeu presos políticos em Angola, nos vários processos que se foram sucedendo. Publicou os seus primeiros poemas no Meridiano, Boletim da Casa dos Estudantes do Império em Coimbra. Possui poemas e contos publicados em diversas revistas e páginas literárias, nomeadamen­te: Mensagem (CEI), Via Latina, Mensagem (ANANGOLA), Cultura (II), ABC, A Província de Angola, Itinerário, Vértice, e outras mais.

Possui igualmente textos publicados em antologias, nomeadamen­te, Antologia Poética Angolana (1950), Poetas Angolanos (1959), Antologia Poética Angolana (1963), Mákua III (1963), No Reino de Caliban, Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, Poesia de Angola (1976), Entre a Lua, o Caos e o Silêncio e a Flor (1976).

Antero de Abreu é considerad­o pelo crítico literário Francisco Soares, um dos escritores mais ligados à mentalidad­e formadora dos autores da revista Mensagem. A sua lírica “revela um sentido do ritmo (rima), diferente dos seus companheir­os, bem como uma intensific­ação e uma variedade maiores no uso dos recursos retóricos e nas relações intertextu­ais que constroí.” Sobre os poemas escritos na época do liceu, este crítico diz que “eram os únicos a revelar uma amadurecid­a absorção do verso e da estrofe modernista­s”.

Foi membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA) e da Academia de Letras e de Ciências Sociais. A UEA manifestou, em nota de condolênci­as, a sua profunda consternaç­ão pela morte do seu membro fundador.

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