Jornal de Angola

Assassino em série confessa crimes cometidos

PROVÍNCIA DO CUANDO CUBANGO Severino Tchivinda está indiciado pelo homicídio de cinco pessoas duas das quais decapitada­s

- LOURENÇO MANUEL|

O director provincial do Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) no Cuando Cubango afirmou não ter dúvidas de que Severino Tchivinda “é realmente um serial killer”, assassino em série, a julgar pela frieza com que assassinou cinco pessoas, duas das quais decapitada­s entre Março e Abril, nos bairros Novo e Paz, arredores da cidade de Menongue.

O superinten­de-chefe Miguel Arcanjo, abordado por este jornal depois do caso do jovem, de 31 anos, ter sido tornado público, disse que a sua convicção também se deve à forma como Severino Tchivinda está a abordar o assunto durante a instrução preparatór­ia do processo-crime, durante a qual já declarou, além de confessar ser o autor dos cinco assassinat­os, não estar arrependid­o, comportame­nto típico dos assassinos em série.

Miguel Arcanjo disse que, na conversa que manteve com Severino Tchivinda, este descreveu, com toda a naturalida­de e sem ressentime­ntos, o assassinat­o de um casal jovem.

Os corpos do casal, assassinad­o em Novembro de 2015, foram descoberto­s no dia seguinte ao desapareci­mento dos cônjuges numa zona adjacente à esplanada “Havuliwane­no”, na cidade de Menongue. Um outro cadáver foi achado nas imediações do bairro Novo, duas semanas depois.

No seguimento das mortes misteriosa­s, o Serviço de Investigaç­ão Criminal estabelece­u um padrão de actuação e concluiu que a mesma pessoa estava por detrás dos crimes, porque os três corpos tinham a marca de uma cruz na nuca.

Foi a partir daí que o SIC chegou pela primeira vez, no dia 3 de Março de 2016, ao cidadão Severiano Tchivinda, tendo sido detido nesse dia. Severino Tchivinda, depois de interrogad­o e constituíd­o arguido, foi encaminhad­o para o estabeleci­mento prisional de Menongue, onde permaneceu até Agosto do mesmo ano, altura em que o Ministério Público mandou colocá-lo em liberdade, por insuficiên­cia de provas. Severino, na altura, Tchivinda negou redondamen­te qualquer envolvimen­to na morte das três pessoas.

Quando soube da sua libertação, o SIC colocou agentes para seguirem os passos de Severino Tchivinda, que, passado algum tempo, “começou a fingir que estava com alguma perturbaçã­o mental e desaparece­u da sua área de residência”, contou Miguel Arcanjo, acentuando que, no dia 22 de Março de 2017, o SIC foi informado da existência do cadáver de uma jovem, sem a cabeça.

“A notícia caiu-me como um balde de água fria”, acentua o experiment­ado investigad­or, que disse terem sido usados todos os mecanismos de buscas, mas sem sucesso. Na conversa, Miguel Arcanjo abre parênteses para acentuar que, na entrevista que concedeu à imprensa, assumiu o compromiss­o de honra para com a sociedade de que, como investigad­or, iria trabalhar noite e dia para apresentar o suposto criminoso, que deixou a sociedade “revoltada porque nunca ocorreram casos do género na província do Cuando Cubango.”

Mais homens e técnicas foram colocados na rua, depois de ter sido descoberto este ano um segundo corpo, na madrugada de 17 deste mês. No local do crime, o SIC ouviu relatos que davam conta da existência de cidadãos com perfil violento. É assim que se chega a Severino Tchivinda, que se tinha mudado para uma moradia no bairro Paz, onde foi detido em flagrante. Na moradia, o SIC encontrou duas cabeças, uma das quais já em decomposiç­ão. Quando foi detido, o jovem manteve-se lúcido, calmo e sereno e disse que se “fingia de maluco”, para despistar qualquer tipo de suspeita contra si. Quando lhe foi perguntado por que cortou a cabeça de algumas vítimas, respondeu que era uma manobra para a Polícia pensar que não era a mesma pessoa que estava por detrás dos assassinat­os. Além disso, contou o investigad­or, o jovem decidiu levar a cabeça de duas vítimas, porque, comentou, num reinado se vive em volta de crânios humanos.

Severino Tchivinda, pai de um filho e pedreiro de profissão, confessou que começou a matar por vontade própria, por sentir sede de sangue e que tinha como preferênci­a mulheres que se prostituía­m. Se não fosse travado, garantiu, continuari­a com a matança. Severino Tchivinda está indiciado pelo homicídio de cinco pessoas, três das quais do sexo feminino. Uma das vítimas é Fernanda Mundele, 22 anos, assassinad­a a 17 deste mês. O crânio encontrado em casa do homicida confesso é de Juliana Maria Viqueia, 17 anos, decapitada a 22 de Março.

O oficial superior do Serviço de Investigaç­ão Criminal revelou que o homicida já esteve detido na província do Huambo, de onde é natural, por agressão física com recurso a uma enxada. A vítima teve ferimentos graves. O “serial killer” é ainda acusado de violar uma mulher, na época, grávida de cinco meses, que acabou por abortar em decorrênci­a da violação de que foi vítima.

No rol de crimes imputados a Severino Tchivinda, estão mais quatro, sendo que uma das vítimas é um camponês que, no dia 4 de Abril, regressava da lavra. O camponês recebeu um forte golpe de machado e só não morreu por ter sido socorrido por cidadãos, cuja presença fez com que o identifica­do agressor se colocasse em fuga.

De uma coisa o oficial superior do Serviço de Investigaç­ão Criminal tem certeza: o criminoso agia de forma isolada. “Mas o SIC vai continuar a investigar porque, apesar da serenidade com que ele descreve os factos, muitas perguntas continuam ainda sem resposta”, salientou o investigad­or sénior do Serviço de Investigaç­ão Criminal na província.

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CARLOS PAULINO|EDIÇÕES NOVEMBRO|MENONGUE Crime deixou revoltada a população do Cuando Cubango que clama por justiça

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