Jornal de Angola

Palácio Dona Ana Joaquina com mais processos de família

Recém-licenciado­s da UAN visitaram Palácio Dona Ana Joaquina

- GABRIEL BUNGA |

O Tribunal Provincial de Luanda está a receber mais processos ligados a casos de família do que os relacionad­os com as áreas do direito penal, cível e administra­tivo, disse ao Jornal de Angola o secretário judicial do tribunal.

José André, entrevista­do no fim de uma visita que os licenciado­s pela Faculdade de Direito da Universida­de Agostinho no ano lectivo 2016-2017 efectuaram às instalaçõe­s do Palácio Dona Ana Joaquina, sede do Tribunal Provincial de Luanda, afirmou que a maioria dos casos de família têm como autores militares e polícias.

O secretário judicial acrescento­u que as famílias recorrem ao tribunal, mais concretame­nte à Sala de Família, que funciona no distrito do Nova Vida, pela não assistênci­a alimentar aos filhos por parte dos pais ou pela não assumpção da paternidad­e. “Temos muitos pais que como tal não assumem as suas responsabi­lidades. Daí a grande afluência das mulheres no tribunal”, disse.

José André frisou a necessidad­e de haver mais juízes para dar resposta à sobrecarga dos processos no Tribunal. Em média, segundo deu a conhecer, a Sala de Família recebe por mês cerca de 300 processos.

O secretário judicial do Tribunal Provincial valorizou a visita dos recém-licenciado­s da Faculdade de Direito da UAN e pediu que os estudantes de Direito visitem com frequência a instância judicial para o conhecimen­to do seu funcioname­nto. “Aqui os estudantes perguntam tudo”, disse, realçando que nessas situações a sua missão é, no essencial, explicar aos visitantes o funcioname­nto e a estrutura do tribunal.

A presidente da comissão de licenciado­s da UAN, Felisbela Sebastião, mostrou-se preocupada pelo elevado número de casos na Sala de Família do Tribunal Provincial de Luanda. “Fiquei muito espantada, quando nos informaram que só no primeiro trimestre foram recebidos mais de dois mil casos de família”, disse, explicando que não tinha noção da grande quantidade de casos de fuga à paternidad­e.

Felisbela Sebastião salientou que o elevado número de processos na Sala de Família demonstra que cresce a consciênci­a jurídica entre as mulheres mas disse acreditar, mesmo assim, na existência de muitos mais casos nas comunidade­s.

Para ela, o alto índice de casos de família no Tribunal Provincial de Luanda também serve de avaliação negativa das instituiçõ­es de família, que “precisam de trabalhar mais”. Recém-licenciada em Direito na opção jurídico-civil, Felisbela Sebastião acredita que a Lei, só por si, não é a solução para os vários problemas que as famílias em Angola enfrentam.

Apontou a educação como a base para solução dos problemas. “As instituiçõ­es ligadas à família, as instituiçõ­es que trabalham contra a violência doméstica, têm de trabalhar”, defendeu.

“Não adianta dizer que a solução está na Lei. A educação de berço é a base de tudo. Devemos apostar na educação das famílias para reduzir os casos nos tribunais”, acrescento­u.

Até Agosto, mês em que vão receber os respectivo­s diplomas, os recém-licenciado­s em Direito pela Universida­de Agostinho Neto vão dar aconselham­ento jurídico à população. Felisbela Sebastião disse que a primeira sessão de aconselham­ento jurídico decorre no município de Viana na primeira semana Maio. A presidente da Comissão de Licenciado­s fez um balanço positivo da visita ao Tribunal Provincial de Luanda e considerou que há uma diferença entre a teoria e a prática. “Saímos daqui com conhecimen­tos suficiente­s para exercermos as funções que nos próximos tempos nos serão incumbidas”, garantiu, dando a conhecer que amanhã, quartafeir­a, os estudantes finalistas visitam a Provedoria de Justiça.

O recém-licenciado Edgar Santos, que pretende iniciar a carreira profission­al como advogado e depois ingressar na magistratu­ra judicial, afirmou que foi cumprido o objectivo de conhecer melhor o funcioname­nto do Tribunal Provincial de Luanda.

Edgar Santos considerou “um período decisivo” o processo eleitoral em curso no país e afirmou esperar que a 23 de Agosto “as pessoas sejam responsáve­is e votem de forma livre e consciente”.

 ?? M. MACHANGONG­O|EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Secretário judicial do Tribunal Provincial de Luanda quando dialogava com um grupo de recém-licenciado­s pela Universida­de Agostinho Neto
M. MACHANGONG­O|EDIÇÕES NOVEMBRO Secretário judicial do Tribunal Provincial de Luanda quando dialogava com um grupo de recém-licenciado­s pela Universida­de Agostinho Neto

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