Dois milhões de tartarugas foram salvas
Mais de dois milhões de tartarugas marinhas em risco de vida foram salvas, fruto do trabalho realizado, ao longo da costa angolana, de 2003 a 2016, por elementos do projecto Kitabanga, que visa a conservação da espécie.
A informação foi avançado ontem, em Luanda, pelo docente universitário e coordenador do projecto, Michel Morais, durante a palestra alusiva ao 16 de Junho, Dia Internacional das Tartarugas Marinhas.
As tartarugas, disse o coordenador do projecto, foram encontradas ao longo da costa nas localidades do Soyo e de Kissembo (província do Zaire), Palmeirinhas e Sangano (Luanda), Longa (Cuanza Sul), Cuio (Benguela) e Bentiaba (Namibe), depois de terem sido chocadas em terra.
Michel Morais disse que, desde o início do projecto em 2003, foram registados mais de vinte mil ninhos, o que corresponde a cerca de dois milhões de tartarugas recém-chocadas.
As tartarugas oliva, no total, desovaram entre 20 mil e 60 mil indivíduos e as kitabanga (tartarugas gigantes que dão nome ao projecto) entre 300 mil e 600 mil.
A situação das tartarugas kitabanga, segundo Michel Morais, “é muito preocupante”, uma vez que já desovaram em muito maior número ao longo da costa angolana.
Dados estatísticos apresentados pela estudante universitária Juelma dos Santos indicam que, só no período de 2015 a 2016, mais de 405 mil tartarugas foram capturadas acidentalmente por pescadores, em diferentes zonas, com destaque para Hogiua e Longa, no Cuanza Sul, e Luanda, muito procuradas pelas tartarugas para nidificação. Segundo Juelma dos Santos, as tartarugas são arrastadas pela acção dos pescadores, que ao puxarem as redes também arrastam os animais lá presos.
Para melhor garantir a conservação das tartarugas, o projecto Kitabanga criou maternidades no Soyo e no Cuio. Uma outra será montada, em breve, na região do Sangano.
Essas maternidades, que no essencial são um conjunto de ninhos, são montadas em espaços reservados e seguros das praias, onde as crias são protegidas das dinâmicas e transformações que ocorrem nas praias, provocadas pela acção do homem.
Graças ao trabalho de sensibilização levado a cabo pelo projecto Kitabanga, muitas das comunidades que antes comiam tartarugas deixaram de fazê-lo. “As comunidades ganharam uma nova mentalidade e deixaram de capturar os animais”, disse Juelma dos Santos.
O projecto Kitabanga surgiu por iniciativa da docente Ana Lúcia, da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, na década de 80. Foi reactivado em 2003, com a participação de estudantes da mesma faculdade. Neste momento, o projecto conta apenas com o patrocínio das empresas BP e Angola Cables. Devido à crise económica e financeira que o país vive, as demais empresas deixaram de apoiar.
Em Angola, as tartarugas são protegidas por lei desde 1970. Em 2004, a protecção foi reforçada com a implementação da Lei dos Recursos Biológicos e, desde 2016, as tartarugas passaram a fazer parte das prioridades do Plano Nacional de Conservação de Animais. No mesmo ano, foi aprovado o regulamento de proibição da caça, que, num lapso incompreensível, exclui as tartarugas do plano de protecção.
Mortes nas redes
Cerca de 29 mil tartarugas marinhas morrem todos os anos presas nas redes de pesca de camarão tropical, sendo depois vendidas no mercado europeu, denunciou ontem o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês).
A organização internacional de defesa do ambiente divulgou um relatório em que defende o uso do dispositivo excluidor de tartarugas como solução “efectiva e simples” para este problema, já que permite a saída rápida das tartarugas quando ficam presas nas redes e pode reduzir a sua captura acidental em 97 por cento, com uma perda mínima dos camarões pescados.