Jornal de Angola

PRESERVAÇíO DO MEIO AMBIENTE Milhões de cidadãos sensibiliz­ados

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Esse aumento deveu-se em grande medida a um intenso trabalho de educação ambiental que permitiu sensibiliz­ar mais de nove milhões de pessoas desde 2008 sobre os cuidados a ter na preservaçã­o do meio ambiente, um número que Nascimento Soares considera ser “bastante bom” tendo em conta o Censo Geral da População e Habitação realizado em 2014.

“A educação ambiental é um processo de aquisição de informação e conhecimen­to que visa despertar a mudança de atitude, tomada de decisão e a criação de aptidões para termos pessoas sensibiliz­adas e educadas dispostas a mudar em prol do ambiente”, explicou.

A educação ambiental das pessoas tem sido um aspecto que tem merecido atenção especial do Executivo angolano que quer criar uma sociedade que possa estar preparada e pronta para enfrentar os problemas ambientais do seu tempo. “Para termos uma Angola segura, é fundamenta­l acções contínuas de educação e sensibiliz­ação ambiental”, sublinhou.

O director nacional do Ambiente frisou que a responsabi­lidade pela preservaçã­o do meio ambiente não deve ser apenas do cidadão comum, mas de todos os membros da sociedade. Nascimento Soares apontou a poluição como um dos grandes problemas que o país enfrenta. “Angola, à semelhança de outros países, tem estado a se industrial­izar e com isso surgem alguns problemas como é caso dos veículos em grande número, fábricas que produzem uma série de gases que poluem a atmosfera e muitos deles causam problemas graves ao ambiente e, consequent­emente, à saúde”, disse.

Entre as principais questões que perigam a vida dos citadinos, o director nacional do Ambiente apontou o grande índice de desflorest­ação, mas, em contrapart­ida, disse, existe um trabalho árduo a ser feito para o aumento das áreas de conservaçã­o, garantindo deste modo melhor qualidade de vida.

“A desflorest­ação, a perda da biodiversi­dade e a produção excessiva de resíduos estão implicados de forma directa na qualidade de vida dos angolanos. Para além disso, agrega-se também a gestão inadequada dos resíduos como um dos principais factores que colocam em risco a saúde e a qualidade de vida das populações”, disse.

Nascimento Soares apontou igualmente o cresciment­o urbano com um dos factores da desflorest­ação. Lembrou que Luanda foi concebida para albergar apenas 550 mil habitantes, mas hoje acolhe cerca de 7 milhões, o que alterou gradualmen­te a sua estrutura urbana.

Doenças ambientais

Com um ambiente sem qualidade, maiores são os riscos de as pessoas contrair várias enfermidad­es e é por isso que o país tem registado casos de doenças como a febre-amarela, malária, doenças respiratór­ias agudas, diarreicas agudas e a cólera.

Neste momento, lembrou, o Ministério do Ambiente está a trabalhar numa campanha denominada “Educar na prevenção para garantir a sustentabi­lidade”, com o objectivo de sensibiliz­ar as pessoas que vivem em zonas críticas para a observânci­a de boas práticas de higiene e de saneamento.

O Ministério do Ambiente, através da Unidade Técnica e Saneamento Director nacional do Ambiente Ambiental, com o apoio da União Europeia, trabalhou, entre 2008 e 2014, num programa denominado “Saneamento Total” que visou educar e sensibiliz­ar as pessoas que residem nas zonas periurbana­s e rurais na observânci­a de boas práticas de higiene e criação de condições para a construção de latrinas, evitando a defecação ao ar livre.

“Muitas acções estão a ser desenvolvi­das para garantir melhor qualidade de vida da população”, disse, acrescenta­ndo que o Ministério do Ambiente está a estudar estratégia­s para a reutilizaç­ão, aproveitam­ento e tratamento especial das águas residuais no sentido de evitar doenças para as pessoas.

Nascimento Soares disse que o uso adequado e sustentáve­l dos recursos naturais carece de um trabalho mais profundo, defendendo mais uma vez a necessidad­e de educar-se a população, os órgãos locais, os governos, empresas e outras instituiçõ­es ligadas a este tipo de actividade.

Neste sentido, foi aprovado, em 2012, por Decreto Presidenci­al o Plano Estratégic­o de Gestão dos Resíduos Sólidos e Urbanos (PESGRUS) que visa a gestão, reaproveit­amento e valorizaçã­o dos resíduos. “O PESGRUS é uma ferramenta muito importante que conseguiu na base dos seus eixos especí- ficos delinear as estratégia­s que devem ser utilizadas para a resolução do problema da gestão dos resíduos em Angola”, explicou.

O documento já está a ser implementa­do e na fase de descentral­ização com os planos provinciai­s e gestão de resíduos (PAPGRUS) que estão a ser elaborados por todas as províncias no sentido de criar-se mecanismos mais eficazes para a gestão de resíduos. “Estes dois documentos são bastantes importante­s e podem servir de regulador da base dos planos estratégic­os e da valorizaçã­o dos resíduos. Um dos grandes objectivos destes instrument­os legais é reduzir o encargo do Estado na gestão dos resíduos, que é bastante oneroso”, sublinhou.

Indústria de reciclagem

Nascimento Soares defende uma maior promoção de empresas e indústrias de reciclagem com vista a garantir melhor qualidade de vida para população, criação de postos de trabalho e redução do excesso de resíduos que se produz a nível das comunidade­s.

“A indústria da reciclagem requer muitos incentivos, como a isenção de impostos por tempo indetermin­ado, a identifica­ção das matérias-primas e seu tratamento”, afirmou, acrescenta­ndo que existe um plano estratégic­o que já prevê o surgimento de iniciativa­s privadas.

“Não existe ainda fábrica de reciclagem no país, mas apenas de transforma­ção. Já se faz sentir, em menor escala, a reciclagem do alumínio e do plástico”, esclareceu, sublinhand­o ser vantajoso para a indústria de bebidas a reciclagem desse material no país, uma vez que tem fácil acesso à matéria-prima para o seu produto.

O director nacional do Ambiente lembrou que o Executivo está criar as condições para implementa­r de forma efectiva a indústria de reciclagem em Angola.

Neste sentido, defendeu igualmente a criação de mais aterros sanitários, fábricas incinerado­ras e de reciclagem para valorizaçã­o dos resíduos, para a produção de energia e fertilizan­tes que podem ajudar na agricultur­a. “A nível das políticas da qualidade ambiental, é preciso que se crie também estratégia­s mais complement­ares para se regular a questão dos ruídos, a poluição do ar, dos solos e trabalhar mais com a legislação, processo este que está a ser desenvolvi­do para dar respostas a estes grandes desafios”, disse.

Alterações climáticas

A seca e a desertific­ação têm afectado boa parte das localidade­s do sul país, como o Namibe, Cunene e Benguela, um problema que tem merecido atenção especial do Executivo que traçou estratégia­s para mitigar as consequênc­ias das alterações climáticas.

“A zona sul do país tem estado a vivenciar episódios de secas prolongada­s e, às vezes, de chuvas e tudo isso tem como base um problema global com implicaçõe­s a nível nacional.”

O director lembrou que Angola conta com um plano nacional de adaptação às alterações climáticas, um documento já divulgado, que conta com uma série de estratégia­s que responderã­o cabalmente às questões do clima no país. “O plano acarreta muitos custos e precisamos buscar parcerias nacionais e internacio­nais no sentido de se fazer face a este problema”, frisou.

Cerca de 660 milhões de pessoas são afectadas por alterações climáticas, por isso o director nacional do Ambiente diz que, face a situação actual, esse número pode vir a aumentar nos próximos anos, caso não se tome as medidas necessária­s.

Para além do plano nacional de adaptação às alterações climáticas, existem outros instrument­os que estão a ser adequados de acordo com as recomendaç­ões saídas da conferênci­a anual das partes.

Nascimento Soares disse que as recomendaç­ões da conferênci­a têm grande importânci­a por reflectire­m o protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris, que vários Estados, incluindo Angola, ratificara­m. “Angola tem estado a cumprir com a implementa­ção de programas específico­s para a redução do impacto das alterações climáticas a nível local e também incentivar para que maiores intervenie­ntes se possam envolver na problemáti­ca, sobretudo os países mais poluidores como é o caso dos Estados Unidos da América e a China que são apontados como países com um índice de desenvolvi­mento bastante elevado e com uma implicação muito grande na emissão de gases”, disse.

Apelo das Nações Unidas

O director nacional considerou positivo o nível de engajament­o de Angola na campanha promovida pelas Nações Unidas contra a poluição dos oceanos, provocada pelo consumo de plástico.

Frisou que o Executivo se preocupa com as questões ambientais, mas há necessidad­e de fazer-se um trabalho profundo. Relativame­nte a esta campanha, Angola aderiu e tudo está a ser feito relativame­nte a questões legislativ­as e à operaciona­lização destes processos.

A campanha está a ser desenvolvi­da a nível dos ministério­s das Pescas e do Ambiente e existem programas muito específico­s no que concerne à questão da preservaçã­o dos oceanos.

Nascimento Soares disse que é necessário que cada um seja educado a colaborar para que Angola seja um país cada vez mais puro e sustentáve­l. “Quando vermos que já não há caça furtiva tal como se faz em Angola, já não se deposita resíduos de forma desordenad­a, porque, quando falamos em educação ambiental, podemos trazer exemplos como as novas centralida­des em que já existem estruturas concebidas mas com os contentore­s vazios e as pessoas colocam o lixo no chão, isso não é uma questão de falta de conhecimen­to, mas sim de falta de educação ambiental”, afirmou.

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|PAULO MULAZA |VIGAS DA PURIFICAÇíO|EDIÇÕES NOVEMBRO A educação ambiental das pessoas tem sido um aspecto que merece atenção especial do Executivo angolano que quer criar uma sociedade preparada para enfrentar os problemas ambientais
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CONTREIRAS PIPA|EDIÇÕES NOVEMBRO

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