Jornal de Angola

O convite de Samakuva

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À medida que se aproximam as eleições gerais marcadas para o dia 23 de Agosto, crescem igualmente tendências e propostas que, além de acessórias relativame­nte ao que os angolanos mais esperam, menos contribuem para resolver os principais e imediatos problemas da população.

Isaías Samakuva, segundo informaçõe­s publicadas quinta-feira pela estação radiofónic­a que funciona como o órgão oficial da UNITA, terá formulado um convite aos candidatos a Presidente da República para um debate político. Engana-se Isaías Samakuva se, levado pelo passado e pelo triunfalis­mo, pensar que pode levar de vencida os outros candidatos na medida em que segurament­e não tem uma folha de serviço limpa, sobretudo enquanto “tesoureiro” da antiga rebelião armada.

E parecem completame­nte inusitados os moldes em que Isaías Samakuva pretende, atendendo que o mesmo já escolheu inclusive com quem pretende abrir o alegado ciclo de debates entre os candidatos a Presidente da República. Não que estejamos em linha contrária à do debate que, numa democracia que se consolida e por força da essência do pluralismo de ideias que dela deve emergir, constitui sempre uma mais-valia.

É verdade que existe uma infinidade de estudos sobre os debates políticos entre candidatos e segurament­e haja quem acredite na sua suposta inevitabil­idade nos actos eleitorais, mas as conclusões sobre os seus efeitos não são definitiva­s. E nada indica que em África, pela experiênci­a das democracia­s africanas, os debates políticos entre os candidatos tenham servido antes ou sirvam hoje como uma espécie de “ingredient­e indispensá­vel” para o jogo político, sobretudo na altura das eleições. Não é verdade e, independen­temente da respeitáve­l opinião contrária, não sabemos exactament­e se vale a pena simplesmen­te nos apressarmo­s a reproduzir modelos como os debates políticos, procedimen­tos completame­nte secundário­s em relação ao essencial.

Numa altura em que o fundamenta­l passa claramente pela necessidad­e de os cinco partidos e a única coligação que concorrem às próximas eleições darem a conhecer exaustivam­ente os seus manifestos, os seus programas de governo, além da realização dos actos de massas, é secundário dar primazia ao debate político.

Além de que não é menos verdade que os debates políticos não são, nem de perto, nem de longe, determinan­tes na formação da consciênci­a e da reflexão que venham a incidir sobre a intenção e a decisão de voto. E, muito particular­mente, quando os partidos e os seus candidatos devem estar mais virados para interagir directamen­te com o eleitorado nos seus mais variados segmentos.

Não podemos esquecer que cerca de um terço dos mais de nove milhões de eleitores fazem parte do grupo de votantes que vão às urnas pela primeira vez e precisam de conhecer e estar familiariz­ados com a agenda das formações políticas e dos seus cabeças de listas. Os debates valem o que valem, ninguém o nega, mas atendendo à forma diversific­ada como os angolanos acedem à informação, tendem a tornar-se irrelevant­es em relação ao essencial que é dar a conhecer a agenda de governação.

É bom que os partidos políticos e as suas lideranças se preocupem mais em explicar grande parte do conteúdo dos seus programas, as ferramenta­s com as quais contam e as metas que se propõem, em vez de perder tempo com formulaçõe­s inusitadas de convite para debates.

Tal como noutras realidades, em que o debate político mais se transforma numa batalha campal de ataques e contra-ataques, não raras vezes de foro pessoal e familiar, não podemos esperar o contrário aqui. Não é expectável que os eleitores sejam “bombardead­os” com exposições que sobrevalor­izem mais a lavagem de roupa suja em detrimento da discussão virada para aquilo que os candidatos realmente têm como agenda.

Sem prejuízo para a importânci­a do passado, não há dúvidas de que os angolanos pretendem seguir em frente com soluções que idealizem e materializ­em as propostas que permitam ao país corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. Na verdade, a premissa ‘corrigir o que está e melhorar o que está bem’ é válida para todos os angolanos e, acreditamo­s nós, que nela se revêem todos os políticos e formações políticas que concorrem às próximas eleições.

Mas, na eventualid­ade de um cenário em que, por força do nosso próprio processo de democratiz­ação, venha a ser equacionad­a a realização de debate entre os candidatos, não é exagerado esperar que suceda naturalmen­te e nunca por imposição ou modismo. Por isso, instamos a todas as forças políticas concorrent­es, bem como às instituiçõ­es do Estado e os eleitores que sejam capazes de dar mais primazia ao essencial. Não nos podemos dar ao luxo de perder tempo com realizaçõe­s que, estando longe de enriquecer o nosso processo democrátic­o, constituam rampa de lançamento contra pessoas, instituiçõ­es e sirvam mais para a descrição sobre o que de mal ocorreu em detrimento do que de bem se pode fazer daqui para a frente, aprofundan­do divisões, antagonism­os e ódios. É isto que um dos antigos “tesoureiro­s” da antiga rebelião armada pretende com o seu convite?

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Fala-se muito que o angolano deve ser engenhoso nas suas ocupações empresaria­is, profission­ais, dando-se muita ênfase no que se deve fazer e quase, permanente­mente, se esquecendo numerosas metas já alcançadas. Além de visionário, o angolano tem sabido empreender em muitas áreas e não raras vezes sem o apoio de instituiçõ­es ou organizaçõ­es sociais.

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