Estados Unidos rejeitam confirmar a morte
Rússia reivindica bombardeamento do local onde se encontrava Abu Bakr al-Bagdadi
A coligação internacional liderada pelos Estados Unidos afirmou ontem que não pode confirmar o anúncio de Moscovo sobre a possível morte do líder máximo do grupo Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Bagdadi, num bombardeamento de aviões da Força Aérea russa perto de Raqa (Síria), informou a AFP.
Ao ser questionado sobre o tema, Ryan Dillon, porta-voz da coligação anti rebelde, respondeu: “Não podemos confirmar estas informações no momento.”
A principal milícia curdo-síria, as Unidades de Protecção do Povo (YPG), também disse que não dispunha de informação sobre a suposta morte do líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Bagdadi, num ataque aéreo russo no final de Maio, perto de Raqa.
“Não tenho informação e não quero fazer nenhum comentário”, disse à Agência Efe por telefone o portavoz das YPG, Nuri Mahmoud.
As YPG são o componente mais importante das Forças da Síria Democrática (FSD), uma aliança armada que integra vários grupos e que, desde Novembro do ano passado, realiza uma ofensiva contra o Estado Islâmico em Al Raqa.
As FSD contam com o apoio da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, que também enviou efectivos das suas forças especiais para o local de combate.
Um comunicado divulgado ontem pelo Ministério russo da Defesa refere que o líder da organização rebelde Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, foi morto no dia 28 de Maio, após um ataque da aviação russa nos arredores de Al Raqa, na Síria.
“Segundo informações que recebemos por diversos canais, o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, estava numa reunião de chefes do EI atacada pela aviação russa e foi morto na acção dos aviões su-35 e su-34”, informou o ministério, através de um comunicado.
No ataque, “também foram mortos outros chefes militares do grupo terrorista, integrantes do chamado conselho militar do EI, além de 30 comandantes de nível médio e cerca de 300 guerrilheiros”, afirmam os militares russos.
A aviação russa bombardeou os rebeldes na madrugada do dia 28 do mês passado, depois de os seus drones confirmarem o local e a hora da reunião dos chefes do Estado Islâmico.
Os militares dos Estados Unidos, que dirigem a coalizão internacio- nal para lutar contra o EI na Síria e o Iraque, foram informados pela Rússia antes do ataque.
Um personagem enigmático
O iraquiano Abu Bakr Al-Bagdadi, proclamado “califa” de todos os muçulmanos pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), que pode ter sido morto num bombardeamento russo, é um personagem enigmático, que prefere permanecer na sombra.
Nascido em 1971 em Samarra, norte da capital iraquiana, Abu Bakr Al-Bagdadi, cuja captura o Governo dos Estados Unidos oferece 10 milhões de dólares, é um dos homens mais procurados do planeta. Diversas vezes no passado circularam rumores sobre a sua morte.Apesar do grande aparato de propaganda do EI, que divulga uma grande quantidade de fotos ou vídeos das suas ofensivas e atrocidades, Al-Bagdadi não aparece muito.
“É bastante notável que o líder do grupo terrorista que mais se preocupa com a sua imagem seja tão discreto”, afirmou em 2015 Patrick Skinner, analista da consultoria de inteligência Soufan Group.
Em dois anos, o “califa Ibrahim” apareceu em apenas um vídeo, gravado numa mesquita de Mossul e divulgado em Julho de 2014. Ele estava com barba grisalha, turbante e roupas escuras.
Na gravação ele aparece a dar ordens a todos os muçulmanos que o obedeçam, pouco depois da organização ter proclamado o “califado” nos territórios sob o seu controlo na Síria e Iraque.
Em Novembro de 2016, Al Furqan, um meio de comunicação afiliado ao EI, difundiu uma mensagem de áudio, em que o homem que fala se identifica como Al-Bagdadi e exorta as suas tropas a resistir ao avanço do exército iraquiano em Mossul, reduto do grupo.
Mas Al-Bagdadi teria abandonado Mossul no início de 2017, e teria sido visto em vários lugares próximos da fronteira entre Síria e Iraque.
“Existe um elemento de mistério que vem do facto de ter sobrevivido a várias tentativas de fazê-lo desaparecer”, disse no ano passado Aymenn Al-Tamimi, analista do Middle East Forum.
Segundo um documento dos serviços secretos iraquianos, Abu Bkr al-Bagdadi é doutor em Estudos Islâmicos e foi professor na Universidade de Tikrit (norte). Ele teve quatro filhos com a primeira esposa, entre 2000 e 2008, e mais quatro com a segunda.
Numa entrevista ao jornal sueco Expressen em Março deste ano, Saja Al Dulaimi, que foi sua esposa durante três meses, o descreveu como “um pai de família normal”, professor universitário, admirado pelas crianças.
Bagdadi uniu-se à insurreição no Iraque pouco depois da invasão das tropas dos Estados Unidos em 2003 e teria sido preso num campo de detenção americano.
Apesar das forças americanas terem anunciado em 2005 a morte de Abu Dua - um dos seus codinomes - ele reapareceu em 2010 à frente do Estado Islâmico no Iraque (ISI), braço iraquiano da Al-Qaeda.
Alguns anos depois conseguiu transformar este grupo na mais potente, rica e brutal organização extremista do mundo, com presença na Síria em 2013 e no Iraque em 2014.
Na época, Bagdadi já havia se desvinculado da Al-Qaeda ao rejeitar as ordens do líder deste grupo, Ayman al-Zawahiri, de concentrarse no Iraque e deixar a Síria para a Frente Al-Nosra.
A sua trajectória é diferente do caminho traçado por Osama Bin Laden, que desenvolveu a AlQaeda graças à sua fortuna e que já era conhecido internacionalmente muito antes dos ataques de 11 de Setembro de 2001, especialmente pelos muitos vídeos em que aparecia.
“A sua ascensão à fama não pode ser comparada com a de outros líderes terroristas mais famosos. Bin Laden era conhecido pelo seu nome”, afirmou Skinner.
“Bagdadi evita ser o centro das atenções e, nos seus discursos, fala sobre o seu califado e os seus inimigos, não de si mesmo”, acrescenta o analista do Soufan Group.