Jornal de Angola

Dhlakama apresenta posição ambígua sobre eleições

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O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, deixou em aberto quinta-feira a possibilid­ade de recusar os resultados das próximas eleições no país, “mesmo que sejam validados por observador­es internacio­nais”.

“Quando me pergunta o que vai acontecer nas eleições autárquica­s de 2018 e nas eleições presidenci­ais de 2019, não sei, mas como líder político não posso ficar com as mãos cruzadas”, referiu, reacendend­o as queixas de fraude eleitoral em actos anteriores.

Afonso Dhlakama falava ao telefone em entrevista à Lusa, a partir do distrito de Gorongosa, centro do país, onde se encontra refugiado desde 2015.

Esta posição do líder do maior partido da oposição moçambican­a contrasta com uma outra declaração, feita também quinta-feira, mas em teleconfer­ência com vários meios de comunicaçã­o social nacionais e estrangeir­os em Maputo, na qual afirmou estar comprometi­do com a paz efectiva e com o desenvolvi­mento sócio-económico do país.

O líder da Renamo disse que acredita poder chegar a um acordo de paz “a curto prazo” com o Chefe de Estado e presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, mas classifico­u a autenticid­ade de eleições como “um problema africano, não é só em Moçambique”, descredibi­lizando a validação internacio­nal.

“Há interesses económicos, eu sei muito bem, cada país quer priorizar o seu desenvolvi­mento” e em conjunto “não estão preocupado­s com governos africanos”, afirmou.

A exigência da Renamo de governar nas seis províncias onde o partido reivindico­u a vitória nas eleições gerais de 2014 e a consequent­e recusa do Governo foi uma das razões para o regresso do país ao conflito armado, opondo as duas partes, até Dezembro de 2016. Agora, com tréguas ilimitadas declaradas e negociaçõe­s de paz em andamento, Dhlakama diz esperar que “as próximas eleições tragam alternânci­a governativ­a, constituiç­ões fortes”, numa alusão à revisão da lei fundamenta­l.

Em Maio, durante uma visita à Holanda, o Presidente Filipe Nyusi referiu que “quase todos os ciclos eleitorais terminaram em la- mentações de diversa ordem. Não está a existir a cultura de reconhecer os resultados e saudar o oponente. Isto traz retrocesso­s”, afirmou Nyusi na altura. Segundo o Chefe de Estado, é estranho que tal aconteça sob o olhar da comunidade internacio­nal, que observa os processos e valida os resultados.

Afonso Dhlakama espera que até ao final do ano a Assembleia da República aprove o dossier de descentral­ização que está na mesa das negociaçõe­s de paz entre a Renamo e o Governo, de forma a haver eleição dos governador­es provinciai­s nas eleições gerais de 2019.

O prazo é considerad­o importante “para permitir que o Presidente da República, constituci­onalmente, anuncie a data das eleições gerais de 2019, com 18 meses de antecedênc­ia”, ou seja, até Abril de 2018. Também até ao final do ano, Afonso Dhlakama espera ver aprovado o outro dossier nas negociaçõe­s, sobre o enquadrame­nto de quem comanda o braço armado da Renamo ao nível da chefia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

Na entrevista, o líder da Renamo queixava-se de haver atraso na retirada das FADM da Gorongosa. O prazo combinado para a retirada total é 30 de Junho, sublinhou.

O líder do principal partido da oposição classifico­u a trégua sem limites em curso como “um grande sucesso”, mas disse haver alguns “problemas de indiscipli­na” por parte de militares das FADM, que acusa de provocarem estragos.

Moçambique observa uma trégua militar por tempo indetermin­ado na sequência de entendimen­tos alcançados entre o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo resultante­s de contactos telefónico­s entre ambos iniciados em Dezembro do ano passado.

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JOÃO GOMES|EDIÇÕES NOVEMBRO Chefe de Estado moçambican­o mantém crença num acordo de paz e pede que a comunidade internacio­nal acompanhe o processo político

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