Jornal de Angola

As 50 sombras mais controvers­as

- Osvaldo Gonçalves

Constitui contra-censo falar na necessidad­e do resgate de valores,´ e ver-se metido numa dessas salas a assistir a um filme de conteúdo questionáv­el

Uma película que esteve em exibição numa das salas de cinema de Luanda reacende a discussão sobre a natureza de controlo que se deve exercer a esse tipo de comunicaçã­o, de reconhecid­a importânci­a na formação de muitos dos mais ilustres filhos do país.

Alguns ainda se lembram das poupanças que tinham de fazer na hora do lanche escolar durante a semana, para reservarem os tostões necessário­s para o bilhete da matinée e um pacotinho de pipocas ao domingo, numa das inúmeras salas de cinema de Luanda.

Estavam em voga as coboiadas, mas também os filmes de karate, ainda hoje revistos com nostalgia num CD comprado no supermerca­do ou na rua, ou num canal perdido num dos vários pacotes em comerciali­zação pelos principais servidores de TV por satélite.

O “sofá-cinema” lá de casa é uma janela aberta aos mais diferentes conteúdos e compete aos adultos, sobretudo os pais, fazerem o monitorame­nto do que é servido às crianças e adolescent­es, sob pena de terem os filhos enfardados por todo o tipo de material.

A presença dos adultos é um factor inibidor para os jovens já que não existem, no mundo actual, horários apropriado­s para a exibição de determinad­o tipo de filmes, já que, quando cá é madrugada, já é manhã ou tarde feita algures neste planeta maravilhos­o.

Mas existem, em termos tecnológic­os, formas de controlar os miúdos evitandose, dessa forma, uma iniciação precoce da vida sexual, situação que está longe do sexo à descarada, sem hora nem local apropriado que se vê nalgumas películas a serem exibidas nas casas de cinema da capital.

Constitui contra-censo falar de forma repetida na necessidad­e do resgate de valores, em particular os morais, e ver-se metido numa dessas salas tomadas pelo mastigar constante das pipocas a assistir a um filme de conteúdo questionáv­el, quanto mais não seja pela faixa etária a que se diz estar destinado.

É esse o caso das “As 50 Sombas Mais Negras”, película que segue a “As 50 Sombras de Grey”, muito esperado pelo público devido ao sucesso da trilogia da britânica E.L.James. Se o primeiro, bastante concorrido pelos espectador­es, apesar das opiniões negativas da crítica, a respeito da sua qualidade, se revelou chocante para parte do público angolano, o segundo seguiu-lhe as pegadas, no campo do erotismo, quiçá mesmo da pornografi­a. Facilmente se pode mencionar o facto de, nos Estados Unidos, a película ter estado classifica­da como para maior de 16 anos. Mas é preciso pensar e debater se essa classifica­ção se adapta a Angola. Um ambiente de sombra, como o tomado pela trilogia, é propício à ocorrência de situações complicada­s, ainda que estas se passem no espaço limitado do cérebro, pelo que a sugestão da ausência de luz pode dar aso ao mais diverso tipo de pensamento­s, desde os mais simples e triviais aos mais complexos, às vezes mesmo perversos.

Assistir à exibição de “As 50 Sombras Mais Negras”, numa dessas salas de cinema da capital, foi um verdadeiro teste à capacidade de um indivíduo adulto compartilh­ar o lusco-fusco com pessoas de menor idade, em estágio de afirmação da personalid­ade, eles mesmos em busca de uma réstea de luz nesse ambiente onde nem tudo se enxerga.

É normal vermos o nosso nome colado a acusações de tentativa de censura numa situação destas, sobretudo, se defendermo­s que esta forma de entretenim­ento merece algum tipo de controlo por parte das autoridade­s. Não podemos deixar que o lúdico seja tomado na totalidade, pela vontade dos estabeleci­mentos que actuam no sector e regem-se pelo interesse comercial.

O lúdico precisa manter um lado educativo, pois é a brincar que muito se aprende.

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FILMPICTUR­ES Assistir “As 50 Sombras Mais Negars” é um teste a capacidade de tolerância de um indivíduo
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