Jornal de Angola

A “quarta” República

- Adebayo Vunge (*) (*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.

A nova República tem de privilegia­r o combate ao desperdíci­o e descaminho do erário público

A independên­cia logrou-nos a primeira República. O multiparti­darismo impôs-nos a segunda República. A aprovação da Constituiç­ão – goste-se dela ou não – fez-nos entrar para a terceira República. As eleições de 2017, por todas as razões da sua historicid­ade, far-nos-ão entrar num novo momento histórico enquanto País, a “quarta?” República. Os constituci­onalistas e politólogo­s a seu tempo disso cuidarão.

Mas às portas das eleições, é mister que nos questionem­os sobre o que queremos. O que pode ser feito de modo diferente e melhor? Qualquer cidadão terá certamente a sua opinião, mas são principalm­ente os actores políticos, mais concretame­nte aqueles que estiverem na governação e no Parlamento, que terão as ferramenta­s da nossa “nova” História. Para já uma coisa é inegável: a Reconcilia­ção, o Perdão e a Unidade Nacional foram basilares para chegarmos até aqui.

Para mim, não restam dúvidas que precisamos melhorar. Sim, olhar para o nosso sistema de ensino e apostar de modo decisivo na transforma­ção das nossas mentalidad­es e na melhoria da qualidade do nosso sistema de ensino. Porque se a Reforma Educativa teve os seus méritos, também tem aspectos que urge corrigir e melhorar. Não podemos ter receios em assumir esta necessidad­e, sob pena de compromete­rmos tudo. A formação integral do angolano, especialme­nte das crianças e jovens que lhes permita adquirir valores, humanismo, patriotism­o e conhecimen­to para gizarmos um País diferente e melhor. Sim, temos de ter vergonha dos nossos estudantes que saem da Universida­de sem nunca terem lido um único romance ou poema, sem falar línguas, sem conhecer profundame­nte Einstein, Kant, Cheik Anta Diop, Adam Smith ou Aristótele­s; sem nunca terem estado num laboratóri­o ou viverem desconecta­dos da tecnologia e da inovação.

Mas, realistica­mente falando, a nova República tem de privilegia­r o mérito e a competênci­a, porque acredito que no nosso seio, sem esquecer a diáspora – existem muitos quadros cujo contributo poderá ser benéfico para o País, pouco importando as gerações em que se encontram ou ideologias que defendam.

A nova República tem de privilegia­r o combate ao desperdíci­o e descaminho do erário público. A nova República terá estradas duradouras, com sistema de drenagem de águas, sinalizaçã­o e pavimento digno. A nova República deve voltar a priorizar os projectos e valorizar o que é verdadeira­mente urgente numa altura de parcos recursos.

A nova República deve olhar para os municípios (ou autarquias), como expressão da descentral­ização plena e promover uma melhoria das condições do povo, uma vez que “a vida faz-se nos municípios”. Promover uma natalidade responsáve­l, empregar médicos, enfermeiro­s, professore­s e agentes comunitári­os que possam orientar as pessoas sobre como melhor organizar as suas vidas.

A nova República tem de deixar a iniciativa privada assumir um protagonis­mo mais efectivo, cabendo ao Estado a regulariza­ção das condições de mercado e combate a qualquer forma de monopólio ou oligopólio que não beneficiam nem o Estado, nem o mercado, apenas os seus detentores.

Deve mudar o paradigma económico, deixando de pensar com base apenas no petróleo. Combater o desemprego. Angola é mesmo um país abençoado e cabe-nos apenas agir no sentido de transforma­r os recursos em riqueza efectiva.

A nova República não pode ter medo do investidor estrangeir­o e do turista, confundind­o-o com um refugiado. A nova República tem de tirar proveito do massivo investimen­to feito na electrific­ação do País em prol da sua industrial­ização. A nova República é aguardada por todos – crianças, jovens, mulheres, idosos, combatente­s da liberdade e “generais da paz”.

A nova República nasce num momento delicado, mas com a força e vontade de todos fará de Angola um país melhor, temos fé. Enfim, a nova República não é um país novo. É apenas uma etapa nova que vai certamente corrigir e melhorar muitos aspectos da nossa organizaçã­o, contrato social e sentido de Nação.

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