A “quarta” República
A nova República tem de privilegiar o combate ao desperdício e descaminho do erário público
A independência logrou-nos a primeira República. O multipartidarismo impôs-nos a segunda República. A aprovação da Constituição – goste-se dela ou não – fez-nos entrar para a terceira República. As eleições de 2017, por todas as razões da sua historicidade, far-nos-ão entrar num novo momento histórico enquanto País, a “quarta?” República. Os constitucionalistas e politólogos a seu tempo disso cuidarão.
Mas às portas das eleições, é mister que nos questionemos sobre o que queremos. O que pode ser feito de modo diferente e melhor? Qualquer cidadão terá certamente a sua opinião, mas são principalmente os actores políticos, mais concretamente aqueles que estiverem na governação e no Parlamento, que terão as ferramentas da nossa “nova” História. Para já uma coisa é inegável: a Reconciliação, o Perdão e a Unidade Nacional foram basilares para chegarmos até aqui.
Para mim, não restam dúvidas que precisamos melhorar. Sim, olhar para o nosso sistema de ensino e apostar de modo decisivo na transformação das nossas mentalidades e na melhoria da qualidade do nosso sistema de ensino. Porque se a Reforma Educativa teve os seus méritos, também tem aspectos que urge corrigir e melhorar. Não podemos ter receios em assumir esta necessidade, sob pena de comprometermos tudo. A formação integral do angolano, especialmente das crianças e jovens que lhes permita adquirir valores, humanismo, patriotismo e conhecimento para gizarmos um País diferente e melhor. Sim, temos de ter vergonha dos nossos estudantes que saem da Universidade sem nunca terem lido um único romance ou poema, sem falar línguas, sem conhecer profundamente Einstein, Kant, Cheik Anta Diop, Adam Smith ou Aristóteles; sem nunca terem estado num laboratório ou viverem desconectados da tecnologia e da inovação.
Mas, realisticamente falando, a nova República tem de privilegiar o mérito e a competência, porque acredito que no nosso seio, sem esquecer a diáspora – existem muitos quadros cujo contributo poderá ser benéfico para o País, pouco importando as gerações em que se encontram ou ideologias que defendam.
A nova República tem de privilegiar o combate ao desperdício e descaminho do erário público. A nova República terá estradas duradouras, com sistema de drenagem de águas, sinalização e pavimento digno. A nova República deve voltar a priorizar os projectos e valorizar o que é verdadeiramente urgente numa altura de parcos recursos.
A nova República deve olhar para os municípios (ou autarquias), como expressão da descentralização plena e promover uma melhoria das condições do povo, uma vez que “a vida faz-se nos municípios”. Promover uma natalidade responsável, empregar médicos, enfermeiros, professores e agentes comunitários que possam orientar as pessoas sobre como melhor organizar as suas vidas.
A nova República tem de deixar a iniciativa privada assumir um protagonismo mais efectivo, cabendo ao Estado a regularização das condições de mercado e combate a qualquer forma de monopólio ou oligopólio que não beneficiam nem o Estado, nem o mercado, apenas os seus detentores.
Deve mudar o paradigma económico, deixando de pensar com base apenas no petróleo. Combater o desemprego. Angola é mesmo um país abençoado e cabe-nos apenas agir no sentido de transformar os recursos em riqueza efectiva.
A nova República não pode ter medo do investidor estrangeiro e do turista, confundindo-o com um refugiado. A nova República tem de tirar proveito do massivo investimento feito na electrificação do País em prol da sua industrialização. A nova República é aguardada por todos – crianças, jovens, mulheres, idosos, combatentes da liberdade e “generais da paz”.
A nova República nasce num momento delicado, mas com a força e vontade de todos fará de Angola um país melhor, temos fé. Enfim, a nova República não é um país novo. É apenas uma etapa nova que vai certamente corrigir e melhorar muitos aspectos da nossa organização, contrato social e sentido de Nação.