Enfim é a democracia
Insistimos na necessidade do exercício de um comportamento que faça jus à convivência pela paz e à livre circulação de bens em todo o território nacional
O apelo para a contenção verbal aos fazedores de política assume, nestes poucos dias que antecedem o início oficial da campanha eleitoral, contornos justificados de chamamento para a missão de compromisso, para o momento eleitoral e responsabilidade para com o país. Nesta fase, ao lado de outras preocupações, normais e esperadas, insistimos na necessidade do exercício de um comportamento que faça jus à convivência marcada pela paz, estabilidade, liberdade de circulação de pessoas e bens em todo o território nacional, além de outros ganhos. Já foram várias as intervenções no sentido de que as eleições marcadas para o dia 23 de Agosto sejam realizadas sob o manto de celebração e festa dos angolanos. E que todos devem manter o mesmo discurso de tolerância, de aceitação dos concorrentes, no caso dos actores políticos, como adversários que lutam pela conquista, exercício e manutenção do poder, no fundo, tendo como base aspirações semelhantes. Não estamos enganados se acreditarmos que não há nenhuma força política que não tenha como objectivo principal fazer de Angola um bom país para todos os seus filhos. Logo e independentemente do programa e manifesto político de cada formação política, todos, sem excepção, pretendem ver esse país melhor do que está para o bem das famílias, das pessoas e das suas instituições. No fundo, o que diferencia não são os fins pelos quais lutam os partidos políticos e a coligação eleitoral que concorrem nas eleições gerais de 23 de Agosto, mas as variadas modalidades às quais os referidos entes mencionados se propõem. Os nossos actores políticos, até onde chegamos em termos de desempenho durante o que já se convencionou chamar de pré-campanha eleitoral, às portas do seu encerramento para dar lugar a fase oficial, estão a dar provas de urbanidade, maturidade e responsabilidade. Independentemente das situações decorrentes da própria acção política por via da qual a inconstância, reclamação e luta de ideias, leva muitas vezes aos actores políticos a "barricarem-se" em trincheiras opostas, é normal que os nossos actores políticos não convirjam em todos os assuntos. Salvo naquelas matérias que dizem respeito directamente aos valores da pátria, à democracia, ao Estado de Direito, aos direitos, às liberdades e às garantias fundamentais dos cidadãos, além de outros, não faz sentido tomar partido nas disputas entre os actores políticos. Deixar a política com os políticos, sem prejuízo para o activismo cívico, a cidadania e demais acções que contribuam para o exercício positivo do contrapoder, parece claramente o melhor caminho. Em todo o caso, nunca será demais apelar para as boas práticas em momento eleitoral para que sejamos exemplares na condução e participação do processo eleitoral para, dentro das nossas condições, capacidades e limitações, sermos exemplares. Precisamos somente de fazer cada um a sua parte e com o "savoir-faire" que o momento eleitoral aconselha demonstrar que a democracia é também nossa sina e que os seus princípios estruturantes se enraízam no nosso ADN a cada dia. Temos de continuar a fazer prova de que somos capazes de organizar todo o processo eleitoral com a lisura, transparência e democracia, independentemente de situações próprias de processos complexos. Não podemos perder de vista o seguinte, simples e esperado: por mais que as eleições de 23 de Agosto sejam livres, transparentes, justas e democráticas, não faltará quem se vai agarrar às eventuais irregularidades que não influenciam os resultados finais. Mas, enfim, é a democracia.