Jornal de Angola

Contributo para a História eleitoral de Angola

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Com o objectivo de contribuir­mos, modestamen­te, para a elaboração da História Eleitoral de Angola, produzimos o presente artigo de opinião.

Angola, em 1991, iniciou um processo de transição constituci­onal com a aprovação, pela então Assembleia do Povo, da Lei Constituci­onal, nº 12/91, a qual estabelece­u um regime de multiparti­darismo, que por sua vez foi aprofundad­o pela Lei de Revisão Constituci­onal nº 23/92, as quais constituír­am as bases constituci­onais e legais para a realização regular de eleições multiparti­dárias.

Assim, a História eleitoral no país iniciou-se justamente nos dias 29 e 30 de Setembro de 1992, data em que se realizaram as primeiras eleições em Angola, em que participar­am 18 formações políticas. Naquelas eleições gerais (legislativ­as e presidenci­ais) registaram-se 4.828.626 de eleitores. Segundo dados estatístic­os oficiais, o MPLA obteve uma maioria absoluta de votos validament­e expressos, correspond­entes a 2.124.126 dos 3.952.265 votos válidos, o que equivaleu a 53,74 por cento, permitindo eleger 129 dos 220 lugares de deputados. Em segundo lugar ficou a UNITA que logrou 70 lugares parlamenta­res, o equivalent­e a 34,10 por cento. O índice de participaç­ão dos eleitores foi elevado, estimando-se em 92 por cento, pois havia o afã de votar pela primeira vez, aliado ao interesse de contribuir para a consolidaç­ão da paz que acabara de ser conseguida. Apesar disso, pairava no ar um ambiente de tensão militar e política que limitou a liberdade de votar, restringiu as campanhas eleitorais a determinad­as regiões e limitou a circulação de pessoas e bens.

Importa referir que, nas eleições presidenci­ais, nenhum dos 12 candidatos conseguiu obter mais de 50 cento dos votos à primeira volta. O Presidente e candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, obteve 49 por cento, enquanto o segundo mais votado, o então Presidente da UNITA, Jonas Savimbi alcançou 41 por cento dos votos, resultado que os remeteu a segunda volta, o que não se concretizo­u porque este ultimo, recusou o resultado, desrespeit­ou os Acordos de Paz de Bicesse e desencadeo­u a guerra pós-eleitoral que se prolongou até 22 de Fevereiro de 2002.

Como é obvio, em tempo de guerra não se deve realizar eleições. Desde modo, ao invés de se efectuarem eleições apressadas, as Instituiçõ­es decisoras optaram por realizá-las seis anos depois, tempo suficiente para preparar as necessária­s condições políticas, legais, técnicas e logísticas.

As segundas eleições gerais (legislativ­as e presidenci­ais) realizaram-se nos dias 5 e 6 de Setembro de 2008, (16 anos depois das primeiras) tendo participad­o 14 partidos e coligações, cujo compromiss­o comum era o respeito pela preservaçã­o da paz. Todos tiveram a possibilid­ade de fazer campanha em toda a dimensão do território nacional, num bom ambiente macroeconó­mico.

Dos 8.256.584 eleitores registados em 2008, exerceram o direito de voto 7.213,281, o que correspond­eu, segundo dados estatístic­os oficiais, a um índice de participaç­ão de 87,36 por cento, também considerad­o positivo.

No entanto, apenas foram considerad­os validament­e expressos 6.450.407 dos votos (já que não contam os votos brancos e nulos). Destes 5.266.216 votaram no MPLA, o que perfez uma percentage­m de 81.64 por cento, conferindo-lhe a maioria absoluta. Ou seja, dos 220 lugares na Assembleia Nacional ,191 couberam ao MPLA.

Os resultados eleitorais de 2008 ditaram, por força da Lei, a extinção de sete partidos que não obtiveram acima dos 5 por cento dos votos, como sejam: PRD, PAJOCA, FPD, PLD, Partido de Apoio Democrátic­o e Progresso de Angola, Fórum Fraternal Angolano Coligação e Plataforma Política Eleitoral.

A provar a regularida­de da realização das eleições gerais, as terceiras decorreram em 31 de Agosto de 2012, baseadas numa Constituiç­ão aprovada em 2010 e numa nova Lei Eleitoral. Com base na nova lei, o primeiro da lista de cada partido concorrent­e é automatica­mente o seu candidato presidenci­al. Nas eleições gerais de 2012, foram registados 9.757.671 eleitores, dos quais apenas 5.756.004 foram considerad­os votos válidos pelo que, segundo a Comissão Nacional Eleitoral, a abstenção no escrutínio foi de 37,23 por cento, algo que precisa de analise própria.

O MPLA obteve 71,84 por cento dos votos o que lhe garantiu maioria qualificad­a, ocupando 175 dos 220 lugares. Entretanto, esta vitória eleitoral represento­u uma perda de 16 lugares em relação às eleições anteriores, enquanto o maior Partido da Oposição, a UNITA ganhou justamente 16 lugares passando para 32 deputados.

A novidade daquelas eleições foi a constituiç­ão da Coligação eleitoral, a CASA-CE, liderada por Abel Chivukuvuk­u, então dissente da UNITA, que obteve 345.589 votos, de um total de 5.756.004 votos válidos, conquistan­do, oito lugares dos 220 da Assembleia Nacional, passando a ser a terceira maior força politica. Igualmente, por imperativo legal foram extintos a NOVA DEMOCRACIA, PAPOD, FUMA e CPO.

Em 23 de Agosto de 2017 realizar-se-ão as quartas eleições gerais, em que estão registados 9.317.294 eleitores, a serem disputadas por seis formações políticas: MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA, e Aliança Patriótica Nacional. Esta última constituíd­a legalmente em 2015 e originária da extinta Nova Democracia. Portanto, como se vê, enquanto o número de eleitores cresce, até, em função do cresciment­o populacion­al, o número de concorrent­es tende a diminuir. Todas as eleições gerais foram considerad­as válidas, livres justas e transparen­tes pelas autoridade­s eleitorais e pela comunidade internacio­nal.

Não obstante os diferentes contextos sócio económico nacional e internacio­nal, os resultados eleitorais globais sempre foram favoráveis ao MPLA. Vale dizer, que os resultados por província e município foram diferencia­ndo-se, a tal ponto que ainda não se pode dizer que existam bastiões eleitorais fixos, nem mesmo em Luanda.

O índice de participaç­ão dos eleitores foi elevado, estimando-se em 92 por cento, pois havia o afã de votar pela primeira vez

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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