GRANDES LAGOS
Ruanda com Angola nos esforços de paz
Senhor embaixador, 23 anos depois que significado tem para o Governo e povo ruandês o 4 de Julho, data comemorativa do dia da liberdade no seu país? É uma data de importância vital para o Ruanda, pois nela assenta a preservação da vida e da liberdade, recusa da divisão étnica, apelo ao perdão e à unidade nacional, aspectos fundamentais que deram aos ruandenses a oportunidade de transformar e desenvolver a sua sociedade e economia. Como é que caracteriza a situação socioeconómica no Ruanda? O Ruanda não dispõe de muitos recursos naturais e a base da nossa economia está no sector da agricultura que é muito desenvolvido e rentável. Além disto, dispomos de bens e serviços de vária ordem, alta tecnologia e um sector turístico bastante atractivo. Em resumo, temos estado a aproveitar ao máximo os poucos recursos que dispomos de modo que a nossa população tenha uma condição de vida com qualidade. Depois dos trágicos acontecimentos de 1994, se verificou uma grande recuperação económica e um desenvolvimento, que têm sido motivo de constantes elogios. Qual é o segredo desta reviravolta? O estado em que estamos hoje é fruto de uma gestação acertada e coerente. Mas importa dizer que, inicialmente, tivemos vários apoios e destaco aqui o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento e a União Europeia. Foi também determinante a cooperação estabelecida com diferentes países da Europa, América do Norte e Ásia. Hoje, o Ruanda tem vontade de partilhar a sua experiência com os outros países africanos, porque crê que a multiplicação das trocas económicas entre países vizinhos é indispensável para o desenvolvimento. Ao nível da União Africana ou das organizações regionais do continente, encorajamos o crescimento de relações económicas, mas a paz e a segurança são condições primárias para realizar essas oportunidades económicas. Temos desafios da paz na Região dos Grandes Lagos da qual somos membros e, neste capítulo, o Ruanda vai continuar a apoiar a liderança de Angola. Qual é a posição do seu Governo sobre os conflitos existentes na Região dos Grandes Lagos? Estamos envolvidos no desenvolvimento económico e não é possível fazê-lo com sucesso numa região em conflito e sem envolver os países vizinhos. Conforme disse atrás, apoiamos os esforços de Angola em busca da paz e da estabilidade na Região dos Grandes Lagos. Por esta razão, o Estado ruandês disponibilizou mais de cinco mil tropas e polícias para as operações de paz na região sob mandato das Nações Unidas e da União Africana, nomedamente na República Centro Africana, Sudão, Sudão do Sul. E no caso particular do conflito na República Democrática do Congo? O Congo Democrático é vizinho do Ruanda. Dividimos a mesma história colonial e conhecemos o benefício de trabalharmos num clima de paz. Por isso, o Ruanda apoia cada esforço para trazer a paz na República Democrática do Congo. E fizemos isto muitas vezes com a liderança angolana na Região dos Grandes Lagos. Hoje, penso que o processo eleitoral em curso na República Democrática do Congo tem trazido mais tensão com o nosso vizinho. Podemos verificar o que está a acontecer com Angola devido à movimentação de milícias e o fluxo de milhares de refugiados do Congo Democrático, provenientes da região do Kassai. Reitero que o Ruanda vai continuar a apoiar a República Democrática do Congo para que consiga realizar as eleições num clima de paz e tranquilidade, porque acreditamos que o problema reside na realização das eleições. Que avaliação faz da presidência de Angola na Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos? Angola tem feito um trabalho louvável. Imprimiu uma nova dinâmica e, desde o primeiro mandato à frente da organização, foram realizadas muitas cimeiras, quer ao nível dos Chefes de Estado, ministros da Defesa e das Relações Exteriores. Tem sido de uma grande contribuição e foi fundamental na resolução de conflitos na República Centro Africana, Burundi, Sudão e Sudão do Sul. Apesar da instabilidade, os focos de conflitos na República Democrática do Congo estão sob controlo das autoridades. De um modo geral, Angola tem desempenhado um bom papel. A propósito, como avalia as relações entre Angola e o Ruanda? Penso que são boas e a decisão de abrir a Embaixada do Ruanda na República de Angola, em Junho de 2015, revela a nossa missão que é reforçar as relações políticas e económicas. No âmbito político, trabalhamos em conjunto para a resolução de conflitos na Região dos Grandes Lagos, enquanto, no âmbito económico, temos estado a analisar o que consideramos potenciais áreas de cooperação como a agricultura e a educação. Que futuro se pode esperar das relações entre os dois países? Os países africanos precisam apostar na livre circulação de pessoas e mercadorias. Penso que o futuro das relações entre os dois países e, no geral, entre os países africanos, tem de estar virado na cooperação económica.